O Prodígio e a Irmã -2-

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- 𝐂𝐄𝐋𝐋𝐁𝐈𝐓 -
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-Universidade Theoritas-
-Setor Alhis-

 Estou plantado na maldita secretaria da Ordo Theoritas, DE NOVO. E isso está se tornando um hábito irritante.

 Através da janela da secretaria, observo meus colegas de classe (veteranos, todos pelo menos três anos mais velhos do que eu), em um alvoroço constante, empurrando-se uns aos outros na tentativa de ouvir qualquer coisa que esteja acontecendo aqui dentro. Muitos deles já tiveram o desprazer de me avistar mais cedo do exercício vespertino (aula de hoje: como carregar e descarregar um rifle XZ-561), antes que eu fosse conduzido até aqui na secretaria por dois guardas irritantes.

 As notícias sobre as minhas frequentes visitas a este lugar parecem se espalhar como fogo em palha seca. 

 O pequeno menino-prodígio predileto da Federação está encrencado de novo.

 É frustrante ser o mais jovem entre eles e não é nada fácil... Nada mesmo. Principalmente ao parecer frágil por ser mais novo.

 Contudo, isso não é uma questão de minha escolha, mas sim uma consequência inevitável do meu talento e inteligência precoce.

 Ignoro conscientemente o tumulto lá fora, focando meu olhar na secretária diante de mim, a Sra. Amelie. Ela, sem dúvida, está imersa em sua rotina diária de escrever mais um relatório sobre mim, o nono deste trimestreAfinal, sou provavelmente o único aluno da minha idade nesta prestigiada universidade. Entrei com apenas treze anos, três anos antes do que a maioria. É uma conquista notável, mas vem com suas desvantagens.

 Ademais, conquistei o feito de acumular nove relatórios disciplinares em um único trimestre, decorrentes de meu comportamento desafiador, e surpreendentemente, não sofri qualquer medida de expulsão.

 Posso apostar que sou o único estudante da Theoritas que já conseguiu nove relatórios sobre comportamento inadequado num só trimestre sem ser expulso.

 Estou sentado no sofá da secretaria, onde já passei mais tempo do que eu gostaria. A sala tá silenciosa, exceto pelo zumbido do computador da secretária.

 Meu olhar abarca a sala, absorvendo cada detalhe que já memorizei de tanto vir pra cá: a iluminação proveniente das quatro lâmpadas fixadas no teto; a cortina generosa com suas cinco palmas de largura, que filtra a luz natural que penetra. O piso exibe 352 azulejos de mármore importado, de tamanho médio, dispostos com perfeita simetria e polidos de maneira a refletir a luz com suavidade. Na parede à direita, um retrato do glorioso Eleitor, e ao lado uma tela de trinta polegadas exibe informações acerca da guerra entre a Federação e Resistência, tem uma legenda que diz "Grupo de 'Rebeldes' traidores lança bomba em uma base militar e mata sete".

 Ainda observo um vaso de requintado design, que ostenta uma única flor de orquídea azul sobre a mesa da secretária. Em tempos pretéritos, este vaso albergava cinco flores exuberantes, no entanto, agora restam apenas quatro. A ausência de uma das flores indica a possibilidade de que a planta não esteja recebendo a quantidade adequada de água.

 Tudo isso é tão familiar quanto desconfortavelmente monótono.

 Alguns minutos se passaram na secretaria, e eu permaneço sentado no sofá próximo à mesa da secretária, observando minuciosamente os detalhes do ambiente novamente. Decido quebrar o silêncio, me aproximando da secretária. 

 — Sra. Amelie, a senhora machucou a mão recentemente? — Minha observação a pega de surpresa.

A secretária ergueu uma sobrancelha com uma expressão de surpresa e para de teclar, impressionada pela minha perspicácia. — O que te levou a pensar nisso, Sr. Lange? — Ela questionou, curiosa.

Cat and Mouse - Chaosduo QSMPOnde histórias criam vida. Descubra agora