Capítulo 01

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Trafalgar Law bocejou enquanto andava pela vila, eles não puderam ir embora imediatamente, infelizmente, ainda tinham que terminar de abastecer e, com a maioria de seus homens de ressaca, o capitão caminhava sozinho.

Não estava com medo do garoto, ele era um pirata, já havia visto coisas muito mais assustadoras, apenas não queria se envolver com os problemas desta ilha e o garoto era claramente um problema.

Uma voz, muito parecida com a de Cora-san, soou em sua cabeça dizendo que deveria ajudar caso fosse necessário, mas Law a jogou para o canto enquanto entrava em uma padaria pedindo por um café.

Cora-san havia sido seu salvador, aquele pirata que encarou uma criança pequena e decidiu que os problemas daquela criança eram seus problemas, Cora-san, que havia morrido nas mãos do próprio irmão e capitão para salvar Law.

Era a pessoa que mais admirava no mundo e Law sabia bem que Cora-san iria querer desviar seu caminho para ajudar o garoto, mas Law não, ele era um capitão pirata em busca de vingança, preparando seus homens para o perigo da Grand Line e era nisso que estava focado no momento.

Um garoto psicopata de uma ilha qualquer no North Blue não o interessava.

Sua vez chegou e o Trafalgar pediu seu café antes de pagar, finalmente saindo dali, agora iria atrás de suprimentos, já tinha uma recompensa e sabia que deveria evitar lugares mais bem frequentados, então seguiu perto das piores ruas atrás da loja certa.

Foi quando o viu, aquele garoto de aparência inocente, mas capaz de assassinatos, entrando correndo em um banheiro público.

Law repetiu mentalmente que aquilo não era problema seu, suas mãos coçando, repetiu isso mais uma vez enquanto caminhava na direção contrária, na terceira vez, parou a frase no meio e se virou, caminhando apressado até o banheiro.

Sua mão se ergueu no automático, o 'room' saindo de si antes que notasse fazendo uma cúpula azul envolver o banheiro.

Essa cúpula, a qual chamava de sala, era o poder de sua Akuma no Mi, ali dentro ele era quem controlava tudo, conseguia sentir tudo, até batimentos cardíacos, e fazer o que quiser, inclusive picotar alguém sem matar.

Com tal habilidade, Law acabou fazendo medicina na ilha onde cresceu e, ainda muito jovem, se formou em cirurgia, conseguindo usar sua sala quase que em sua capacidade máxima e, por isso, dentro de sua sala, era praticamente intocável.

Conseguia, portanto, sentir os batimentos acelerados do garoto, como se algo o desesperasse, toda a sua defesa alta, ele estava tendo um ataque.

Trafalgar entrou no banheiro encontrando o garoto em frente a pia, a água correndo livremente enquanto o sabão espumava em suas mãos já vermelhas de tanto esfregar.

- N-não sai - O menino murmurou enquanto fungava, o desespero crescendo.

Ok, isso era impossível de ignorar, como médico ele não podia deixar esse menino em meio a uma crise de ansiedade em um espaço público sujeito a qualquer tipo de violência.

- Você está bem? - O menino assentiu ainda fungando - Tem certeza?

- N-não sai.

- O que não sai? - Law se aproximou buscando alguma sujeira nas mãos, mas sem sucesso.

- O-o sangue.

Oh, isso fazia sentido. Ele havia subido na inocência, mas não era exatamente um menino inocente e matou em legítima defesa.

- Já está limpo - Law garantiu desligando a torneira - Vem, vamos secar.

- T-tem certeza de que está limpo?

- Tenho sim - Law buscou um lenço secando as mãos do menor - Vamos sair daqui.

Completamente dócil, o garoto deixou-se guiar, mantendo a cabeça baixa.

- E-eu me chamo Lucy - A voz baixa soou fazendo o Trafalgar encarar o menor antes de sorrir fechado.

- Eu sou Law, Trafalgar Law.

- Traf... Tral... Torao - O menino tentou fazendo Law rir, finalmente desfazendo sua sala a medida que relaxava.

Era só uma criança machucada com medo de sofrer, merda! Law não conseguia ignorar isso!

Lucy olhou em volta sorrindo mais animado ao ver a padaria começando a puxar Law para lá.

- Estou com fome, Torao!

- Espere um pouco, Lucy, vamos mais devagar - O Trafalgar resmungou se deixando ser arrastado.

Bem, enviaria Bepo para coletar as provisões enquanto cuidava desse garoto, era só um dia, não faria uma grande diferença na rota deles e Law seguiria com a consciência tranquila.

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Lucy arregalou os olhos parecendo muito mais animado após o almoço, os dois estavam em um pequeno sebo onde Law comprava alguns livros.

- Você é médico, Torao?!

- Sou sim, Lucy-ya.

Law suspirou, Lucy não conseguia pronunciar seu sobrenome, o que era muito fofo na opinião do pirata, mas, mesmo que houvesse permitido que ele o chamasse pelo nome, Lucy disse que não tinham intimidade para isso e continuava tentando falar seu sobrenome.

Era fofo, mas Law jamais admitiria isso.

Na verdade, muita coisa em Lucy era fofo, o menino era realmente uma bolinha de energia e era claramente um nativo, ou conhecia muito bem a ilha, ele conversava com todos como se fossem velhos amigos, apresentava Law a deus e o mundo e o levava nos melhores restaurantes.

Depois que se recuperou do pequeno colapso, Lucy não tinha calado a boca nem um minuto, contando tudo sobre si, ao mesmo tempo que não falava nada, contou que tinha irmãos, mas não disse quantos e nem onde estavam, disse que viajava, mas não disse se saia da ilha ou se viajava de uma vila para outra, disse que adorava seus amigos, mas não apresentou nenhum.

Ao mesmo tempo que ele falava tudo, Law não sabia nada sobre ele, isso até levantaria bandeiras, se o menino não estivesse fazendo isso de forma inconsciente. Talvez tenha sido ensinado a não ceder informações a estranhos e, sendo alguém falante, aprendeu a ser assim.

O Trafalgar, por sua vez, pouco a pouco cedia informações sobre si, contando a Lucy sobre seus nakamas, suas aventuras e seus planos, obviamente não falando muito sobre o próprio passado, mas não via problema em compartilhar seus planos do futuro com o menino.

Oh... se Lucy fosse um pouco mais velho... Law com certeza teria cedido e estaria flertando com a pequena bola de energia ingênua que era um amor de pessoa, mas Lucy era muito novo e o pirata poderia já ter cometido assassinatos, mas não era um maldito doente, então apenas se empolgava junto enquanto almoçavam.

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