Capítulo 94

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Pov Anahi

Eu não posso evitar revirar os olhos quando ouço o cara que me sequestrou e está me mantendo em cárcere, perguntar se estou bem. Respiro fundo tentando controlar minha raiva e então finalmente o respondo.

-O espelho quebrou quando eu me senti tonta e esbarrei nele. Estou dizendo que preciso de comida. -Eu digo me preparando para sair do banheiro.

-Mas não se machucou? -Ele voltou a perguntar e eu reviro os olhos outra vez.

-Não. Eu estou bem. -Reforço e abro a porta. Ele me olha da cabeça aos pés, imagino que me examinando e parece aliviado quando não vê nenhum corte. Ele olha então para o interior do banheiro atrás de mim e analisa os pedaços do espelho no chão.

-Preciso me alimentar. -Volto a lembrar.

-Tudo bem. -Ele suspira. -Algo em mente? -Ele me pergunta.

-Não sendo um sanduíche, eu já ficaria feliz. -Dou de ombros antes de desviar dele e me sentar na cama, é óbvio que ele não vai me tirar daqui tão cedo, então eu estou começando a me conformar com isso. Por enquanto. -Você me conhece tão bem. Traz algo que eu goste.

Eu ironizo, mas ele dá um meio sorriso.

-Não vou desapontar. -Ele diz antes de trancar a porta do banheiro. -Vou te deixar sem amarras nas mãos. -Ele avisa.

-E o banheiro vai ficar trancado? -Pergunto arqueando uma das sobrancelhas.

-Até que eu tire os cacos de vidro do espelho que quebrou. -Ele avisa colocando a chaves no bolso. -Eu vou ter que sair, mas não vou te amarrar porque seus pulsos estão vermelhos, entretanto, vou pedir também para que não faça nenhuma idiotice. Lembre-se que eu não quero e não pretendo te machucar, então não me force a fazer isso.

-Aonde você vai? -Pergunto franzindo o cenho. Ele me encara.

-Comprar umas coisas e o seu almoço. -Ele diz. Pode ser minha chance de sair daqui, então eu contenho um resquício de alegria para que não invada meu rosto e dê -literalmente- na cara.

-Ok. -Digo somente.

-Se comporte, nós não vamos gostar se as coisas saírem do controle. -Ele diz calmamente, mas em um claro tom de ameaça.

Eu suspiro aliviada quando ele sai me deixando sozinha ali no quarto. Alguns minutos depois, consigo ouvir o barulho de seu carro se afastando e eu deduzo que estou finalmente sozinha.

Espero mais alguns minutos até ter certeza de que estou realmente sozinha e me levanto da cama. Caminho pelo quarto e não há nada além do meu próprio rosto para todo lado. Tem uma mesa de cabeceira com algumas gavetas, ao lado da cama. Eu abro todas elas e não encontro nada além de poeira. Suspiro outra vez e ando mais pelo quarto.

Quando desisto, porque não encontrei nada de útil, vou até a porta e forço a maçaneta, como imaginei, a porta está trancada. E não há nada pontiagudo para que eu possa usar para abri-la, a não ser...

Sorrio com a ideia que tenho. Pego então o grampo de cabelo que uso as vezes para prender minha franja e o coloco na fechadura enquanto forço a mesma, tentando abrir a porta.

Eu demoro alguns minutos, mas sigo persistente. A recompensa vem quando ouço um estalo e a porta se abre. Meu coração acelera em expectativa.

Saio devagar do quarto, mesmo que eu esteja aparentemente sozinha, ainda tenho medo do que possa estar me esperando. Eu ainda não me esqueci que o policial, pai do Bernardo, esteve aqui e talvez ele esteja por aí, a espreita.

Caminho pelo corredor calma e silenciosamente, mas sinto um arrepio estranho ao passar na frente da porta do quarto ao lado, como uma sensação ruim.

Mas desço as escadas e logo estou na sala. Procuro por um telefone fixo e não encontro, também não encontro meu celular e nenhum outro. As janelas estão bloqueadas com grades de ferro, e eu só me pergunto quando ele teve tempo para fazer isso. Vou até a porta principal que dá acesso a rua e também está trancada. Tento outra vez usar meu grampo de cabelo mas dessa vez, parece mais difícil e é muito frustrante.

Eu acabo desistindo quando percebo que já se passaram muitos minutos. Tem uma pequena fresta na janela e eu fico esperando alguém passar para chamar por ajuda. Mas não passa ninguém, nenhuma alma viva.

Quando estou pronta para gritar assim mesmo, ouço um carro se aproximando. Pode ser minha chance e eu imploro para que seja qualquer outra pessoa, exceto ele.

Meu coração quase sai pela boca quando reconheço o carro de Bernardo, o mesmo carro que esteve na saída da minha garagem, naquela batida. Eu subo correndo de volta para o quarto. Fecho a porta com cuidado e me sento na cama, na tentativa de transparecer naturalmente calma sem nunca sequer ter saído daquele maldito quarto.

Eu respiro fundo algumas vezes, logo escuto seus passos se aproximando. Então eu me deito na cama e finjo dormir.

Meu coração está disparado no peito quando ouço a porta do quarto sendo aberta e logo em seguida sendo fechada.

-Eu podia jurar que tinha trancado a porta. -Ele diz. Mas me mantenho imóvel e de olhos fechados, uma completa atriz, mesmo que eu esteja nervosa nesse momento.

Após isso, há um silêncio constrangedor por um tempo, antes que eu ouça o barulho de embalagens. Acho que ele colocou alguma coisa sobre a mesa de cabeceira ao meu lado.

Sinto o colchão se mexer e posso sentir ele perto, meu coração dispara ainda mais no peito.

-Você fica tão linda dormindo. -Ele diz em sussurros. Posso sentir seu hálito se chocar contra a pele do meu rosto e sei que ele está muito próximo.

Pov Bernardo

Anahi é facilmente uma das mulheres mais lindas do planeta, se não for a mais. Eu não consigo me esquivar dela, não consigo me afastar, ela parece ter um tipo de feitiço que me prende a ela. Eu só quero ficar olhando para ela, para cada traço do seu rosto, cada fio loiro do seu cabelo, cada sarda sutil que a pouca maquiagem não esconde.

Seus cílios são volumosos, seu nariz é perfeitamente arrebitado na medida certa e, seus lábios.... Ah, os seus lábios! Eu sempre quis tocar ali, sempre quis saber se é tão macio quanto aparenta que é. Deve ter o sabor do paraíso e quando me aproximo, posso sentir que estou tocando com os meus, sem ainda ter feito o toque. Ela está dormindo, então a ideia dela nem acordar com o meu ato me faz tomar ainda mais coragem.

Fecho meus olhos e quando sei que estou a milímetros de conhecer o toque de seus lábios, meu corpo sofre um solavanco e sinto uma dor aguda bem na região da minha barriga. Quando abro os olhos, o par de olhos azuis me encara, parecendo assustados, mas há uma estranha fagulha de raiva e talvez um pouco de satisfação?

Ela nem pisca enquanto me encara, eu sinto algo molhar minha camisa e quando olho para baixo, vejo sua mão segurando alguma coisa afiada que perfurou minha pele, fora a enorme mancha vermelha com o meu sangue se espalhando por minha camisa e sua mão.

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Por Nossos Filhos - AyAOnde histórias criam vida. Descubra agora