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Carolina👑

Isso é tudo muito suspeito, mas eu estou seguindo o ritmo deles.

Tudo que sugerem eu faço como se fosse uma ordem, tenho medo do que podem fazer comigo caso eu os contrarie.

Então estou pisando em ovos com medo de acabar me ferrando.

Mas a vontade de gritar e surtar é muito forte. O Souza me trata como se eu fosse uma hóspede, uma velha amiga que veio de férias.

O Victor também é estranho, a cerca de 72h apontou uma arma para mim e hoje questionou se eu tinha alguma restrição alimentar que ele ia trazer o meu almoço.

Acho que eu devo ter caído da escada rolante do shopping, isso daqui parece um pesadelo de mau gosto.

Tomei banho em um banheiro que não me pertence, usei produtos que não são meus, estou vestido roupa de outra pessoa e dormindo em uma cama que provavelmente tem dono.

Refém, porém me sentindo uma intrusa.

Como eu posso estar me sentindo uma intrusa se estou sendo obrigada a ficar aqui?

Acho que eu não devia ter parado de frequentar a psicóloga.

Aproveito que estou sozinha e começo a bisbilhotar.

Eu ainda não sei se a casa é do Souza ou do Victor, parece organizada demais para ser de um deles.

A casa é muito impessoal, não tem uma fotinho.

Souza trouxe comida para eu comer a hora que eu quiser e me deu liberdade de andar pela casa. Só não posso ficar perto das janelas do segundo andar.

Eu estava esperando um sequestro totalmente diferente, uma coisa estilo filme, porão, algemas, escassez de comida e água.

Mas a situação aqui é muito diferente, eu só não sei até quando vai ser assim. Eles vão fazer uma troca limpa? O chefe deles por mim? Ou vão tentar provar algo me usando?

Mas não dá para negar que estou me sentindo estranha, eu sou a a refém mas me perguntam o que eu goste de comer.

Ser sequestrada devia ser uma coisa horrível, mas faz longas horas que ninguém grita comigo, faz horas que eu posso pegar o que quiser no armário e comer sem me preocupar em ser pega e levar um sermão sobre comer apenas o que está na dieta.

Me sinto enjoada por ter esses pensamentos, pareço uma vaca mal agradecida.

Eu não posso e não vou me sentir confortável aqui, eles são criminosos que me sequestraram apenas para fazer mal para o meu marido. É isso que vivo repetindo para mim mesmo, é até estranho eu ficar tendo que me lembrar.

Sem ter o que fazer me sento no sofá da sala. Souza e Victor não estão por aqui, o meu babá é um tal de Ryan.

Eu sei que ele tá cuidando de mim porque o Souza me avisou, o Ryan está do lado de fora do portão, não sei qual o motivo, mas ele não pode entrar.

Souza disse que eu podia ficar a vontade aqui, disse para eu passar a tarde assistido alguma  coisa ou tirando um cochilo.

Já encorei o controle diversas vezes,  mas eu não posso ficar tão a vontade.

Eu acho que tem algo de muito errado comigo, porquê neste momento dentro desta casa sozinha eu estou me sentido em paz.

Não existe uma cobrança, eu posso só estar aqui e ser eu mesma.

O quão ingrata eu sou por ter esse tipo de pensamento?

É perturbador o fato de eu estar me policiando para não me sentir confortável em um sequestro.

Quando foi que a minha vida ficou tão estranha?

Essa é uma pergunta interessante. Mas a pergunta que mais me assusta e que eu não posso fazer em voz alta é..

Quando foi que eu comecei a policiar meus sentimentos?

Quando foi que eu tive que parar de sentir?

No fim de tarde como já me esperava o Souza apareceu, trouxe o  jantar e começou com os assuntos aleatórios dele. O garoto é ligado no 220, não consegue passar um minuto sem falar.

Souza: Tu tem quantos anos?

Carol: 26.- ele acena em concordância e já começa a falar sobre outra coisa.

Souza: Sabe, a gente passou um tempão te vigiando e tu mal sai de casa. Tem amigo não?

Acho muito legal a forma que ele fala disso com tanta naturalidade.

Carol: Eu não sou muito extrovertida, não faço amizades com facilidade.

Souza: Me diz o nome de uma amiga tua e a quanto tempo tu conhece.

Carol: Hmm... eu já disse que tenho dificuldade em fazer amizade.- faço pouco caso da situação.

Souza: Mas ter nenhuma amiga? Isso tá suspeito, raponzel.

Ok, eu detesto esse apelido.

Carol: Você deve ser cheio dos amigos para estar me julgando.

Souza: Amigo de verdade eu tenho poucos, mas o que não me falta é gente pra sair e encher a cara.

Carol: Nem todos precisam de alguém para ser companheiro de copo.

Souza: Mas todos precisam de um amigo.

Quando é que a humilhação acaba?

Ela acaba, né?

Souza: Mas relaxa, faço o favor de ser teu amigo.

Carol: Quem disse que eu quero?

Souza: Quem disse que tu tem escolha?

Rir ou chora. Grande questão.

VG🫡

Quase tive que arrombar a porta pra filha da mãe atender.

Lari: O que tu quer?- entro na casa já observando tudo.

VG: Sabe que teu irmão mandou ficar de olho em ti, vim ver como tu tá de vez em quando.

Lari: Cade o Kauan? Ele sempre vem.

VG: Ele tem outras prioridades.

Lari: Hmm... Sei. Tô ótima, pode avisar pro teu chefe. Ou se preferir manda a vadia dele avisar quando for na cadeia dar pra ele.

VG: Tu não tá sendo justa com teu irmão.

Lari: Sempre defendendo ele, que entre um no cu do outro. E da próxima vez que tiver que cuidar do problema aqui manda o Kauan.

VG: Larissa....

Lari: Não fode, se você falasse com aquele cabeça dura poderia por as ideias dele no lugar. Mas só faz o que te convém.

VG: Uma hora tu acorda pra vida. Não é porquê tu acha que é o melhor que realmente é.

Crime PerfeitoOnde histórias criam vida. Descubra agora