Estatua em marmore - (Jota)

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Oh gélido mármore, por qual razão,

 A indiferença de sua suavidade me oprime?

 Contornos gentis escorrendo de seus ombros, 

Braços num abraço cálido de profusão.

 Irradiando calor, ainda que o gelo sobre ti se forme,

 Por suas mechas cintilantes, 

Por seus olhos serenos, 

Carregados da franca comunhão física. 

A ponte do físico ao espiritual, 

O elo tímido da corrente mística. 

Tão magnânima persistência à solidez,

Ainda que pelo portal luminoso, 

Além das pérolas irradiantes de seus olhos, 

Por anos-luz se percam. 

Caminhando abaixo dos milenários mausoléus, 

Das fontes chorosas em meio às multidões tumultuosas. 

Perplexo, sentindo os raios mornos do sol do oriente, 

Ouvindo as vibrações milenares das ancestrais montanhas, 

Cortando os céus com suas cristas pálidas, 

Guardando a lua minguante desconfiada, 

Atrás de seu corpo maciço de memórias e rochas. 

No centro dos bosques de concreto, 

Da cerâmica puída das esculturas aquáticas, 

Acima da lâmina de água flutuante, 

Oscilando ao imaterial em desacordo, 

Contrariada pelos raios siderais invasivos. 

Coroando os jardins podados,

 De sombras e cores encantadoras, 

Freando o peso da ira,

 Puxando a alma para mais perto das planícies, 

Dos campos de eras de outrora, 

Dos ventos noturnos selvagens, 

Dos raios mornos libertos, 

Dos cantos em desarmonia.

 E ainda sim, puros, ainda sim graciosos, 

Tornando sua forma a retrair-se em mármore,

 A tomar outra vez os contornos em pedra. 

Receoso, frio e sólido, 

Mas experiente, satisfeito. 

Para outra vez mais se perder ao mundo, 

Pois sua alma é livre, 

Como os canários ao céu proclamam, 

Solvendo da luz matinal por suas asas opacas,

 Do abraço acolhedor do deleite, 

Da graça imaculada do cosmos.

Dadiva do céu Eterno - PoemasOnde histórias criam vida. Descubra agora