Torrente de água - (Anna)

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Duas formas interpelavam,

Abraçando-se em gestos sutis,

O articular adimiravel de uma mãe gentil,

E o replicar louvavel da filha ansiosa,

Aguardando inquietas a chuva torrencial,

O amadurecer do céu de anil,

Tornado no negro o regozijar de sombras,

No martelar de raios estrondosos,

Falavam acerca da calmaria,

Das formas de algodão diluvianas,

Vibrando no céu em cacofonia,

Sem nenhuma brisa a mover as folhas,

Nenhum som a estalar das árvores,

Um silêncio claustrofóbico, inerte,

Ainda assim sorriam em seu aposento,

Pois não temiam o fim do dia,

Ainda que a torrente fosse desoladora,

O próprio silêncio lhes era conforto,

Enquanto os segundos findavam em uníssono,

O chá erguia seu tenro aroma,

Impulsionado pelos vapores adocicados,

A calmaria lhes era bem-vinda,

Pois no alto de sua torre isolada,

Aguardavam o aquibrantar invernal,

Com tamanho anseio incontrolável,

Fazendo-as subir as escadas puídas,

Tomar as dores do silêncio,

E quebrar sua inércia arredia,

Vislumbrar o vale do topo,

Aguardar as muralhas de água,

Tomando a coxilha para si,

Envolvendo os corações calorosos,

Na mais pura brisa frígida,

No mais cálido abraço maternal,

A fim de reerguer o empenho das flores,

Retomar à grama seus valores,

Estimular da terra seus odores,

Tragando o vale ao mais puro breu,

Molhando as mechas deslumbrantes,

Das duas formas perseverantes,

Tomando a água sobre as faces inocuas,

Apreciando seu abraço gentil,

A companhia da natureza insensível,

Lutando contra as formas de vida,

Fulminando árvores em brasa fervente,

Inundando lagos e nascentes,

Deixando os escombros para trás,

E ainda sim compassiva,

Tenra e disruptora,

Bela e acolhedora.

Dadiva do céu Eterno - PoemasOnde histórias criam vida. Descubra agora