Capítulo 7

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Clara

Eu termino o treino e vou para o vestiário. Meus pés estão me matando, então, tiro apenas o suor do corpo com uma chuveirada rápida, deixando os cuidados extras para quando chegar em casa. Não estou mais vivendo com Priah, minha melhor amiga. Tive alguns problemas ao morar com sua família. Sendo o maior deles, acordar numa noite com seu pai apalpando minha bunda. Argh! Estremeço só de lembrar do pânico e repulsa que senti. O homem passou a me olhar com estranho interesse desde que cheguei para morar com eles. No começo, ainda me recriminei, achando que estava entendendo errado. O senhor Flávio ferguson era um homem respeitável, jamais me olharia de forma maliciosa. Tentava me convencer, uma vez que eu e sua filha nos conhecemos na pré-escolar e sempre dormimos na casa uma da outra desde pequenas. Nunca havia notado nada diferente em tio Flávio. Porém, acho que o fato de eu estar aqui sozinha, tão distante da minha família, deixou o velho tarado à vontade para tentar algo comigo.

A pior parte foi dizer a Priah que iria me mudar e não conseguir contar o verdadeiro motivo. Ela ficou arrasada. Entretanto, ficaria muito mais se soubesse das ações nojentas de seu pai. Lhe disse apenas que Winona, a megera da minha madrasta, havia implicado comigo morando com eles e alugou um apartamento para mim sem o meu conhecimento. Priah sabe que nunca tive vontade própria quando se trata daquela vaca e de sua filha. Um suspiro doloroso deixa minha boca ao lembrar que a cadela me enviou para cá quase obrigada, apenas um mês depois do acidente que deixou meu pai em coma. Os dois estavam passando um final de semana no haras de um parceiro de negócios de meu pai. Ele caiu de um cavalo e nunca mais acordou. Isso tem oito meses. Eu queria estar lá, cuidando dele, coisa que sel, nenhuma delas fará. Meu pai é a única família de verdade que me resta.

Quero dizer, família mais próxima. Tem os parentes da parte da minha mãe, mas, eles nunca foram muito presentes. Meu pai tem apenas uma irmã, que mora na Alemanha. Eu realmente não me recordo de tê-la visto em algum momento. Meus avós, de ambas as partes, morreram enquanto eu era criança ainda. Suspiro mais uma vez, não impedindo meus olhos se lacrimejarem. Me sinto tão sozinha. Tão sozinha. Mesmo estando brava com meu pai pela situação terrível em que nos colocou ao roubar aquela mulher diabólica, não queria vir mais para cá. Não deixando-o lá, largado naquele hospital. Ele também só tem a mim. Aquelas duas víboras não contam para nada. Nada! Ao pensar nisso, a imagem de Helena  Weinberg  atravessa meu cérebro. Nunca mais a vi desde aquela noite, há um ano. Para ser sincera, o que me fez aceitar vir para cá foi a promessa de Winona de resolver tudo. Ela garantiu que aquele Mulher cínica e cruel não viria atrás de mim. Então, eu vim embora, mesmo com o coração doendo. Só que... Eu ainda penso nela. Me envergonho em confessar isso, mas, de vez em quando a imagem daquela mulher bela e fria, volta com uma força inexplicável em minha mente. Me envergonho ainda mais porque... Às vezes me toco pensando nela, naquele único encontro. Em como meu corpo se sentiu colado no dela, sentindo seu membro grande e duro contra mim. Ela me desejou também. Naquele breve esbarrão, nossos corpos se encaixaram e se desejaram. Me senti enfeitiçada, mesmo sabendo que era bem mais velha do que eu, isso não me importou. Nem um pouco. Talvez seja pelo fato de nunca ter visto outra mulher como aquela em toda a minha vida. Aqueles olhos azuis gelados. Duros. Impositivos. Lindos. Ela mexeu comigo de uma forma profunda. Tão profunda, que mesmo após um ano, não consigo me livrar da lembrança dela.

Termino de vestir meu moletom velho e confortável, ouvindo a algazarra das meninas nos outros compartimentos. Saio, me dirigindo à bancada da pia. Penteio e prendo meu cabelo em um coque frouxo. É sexta-feira, porém, estou indo direto para casa. Não sou uma menina festeira e isso causa comentários, muitas vezes maldosos dos meus colegas de classe. Sophia, uma loira minúscula, e minha atual companheira de quarto, vem em minha direção, ajeitando os cabelos em um rabo de cavalo. Priah a interceptou em seu primeiro dia aqui na escola e a indicou para dividir o apartamento comigo. Sophia tem vinte anos e automaticamente passou a tomar conta de mim enquanto não completava dezoito, o que ocorreu na semana passada, graças ao meu bom Deus!

A Dívida - Clarena ( Adaptação)Onde histórias criam vida. Descubra agora