Duas semanas depois...
Helena
Eu olho a enorme árvore de Natal no canto da minha sala e sorrio. Para mim, é uma data como qualquer outra, mas Clara não pensa assim. Não, ela tem me enchido os ouvidos sobre a importância de as famílias celebrarem juntas esse dia especial. Semana passada tive que ir com Lilia procurar a tal árvore perfeita, ou a minha avó iria me amaldiçoar pelo resto da vida. É essa a influência que Clara tem sobre dona Magnólia e minha irmã, agora. As duas fazem tudo que ela quer. Um sorriso irônico repuxa minha boca, me dando conta de que eu também estou enredado, fazendo tudo que a menina quer, e, às vezes, até me antecipo, tentando adivinhar o que deseja para poder lhe dar. Ela, surpreendentemente, não pede nada.
Ah, minto, ela me pediu que investigasse melhor sobre as circunstâncias em que seu pai sofreu o acidente a cavalo. Está desconfiada da madrasta, embora não me fale abertamente. Levo meu copo de uísque à boca e o som inconfundível da sua risada me faz virar a cabeça automaticamente na direção, procurando por ela. Meu coração frio aquece quando a vejo, sorrindo de algo que Finn está lhe dizendo, Estão conversando com a minha avó em um dos estofados amplos do outro lado da sala.
-Quem diria, Helena Weinberg de bom grado em uma ceia natalina... viro de lado, bufando para a provocação de Noah.
Ele resolveu dar uma passada por aqui com o namorado, antes da cela com sua família.
- Não tenho nada a ver com isso, cara. Você me conhece bem. Defendo-me. É coisa de Clara , ele ri e dá um tapa fraternal em meu ombro.
-Ela te faz bem, minha amiga – diz com seriedade.
Meus olhos voltam para ela como que puxados por uma espécie de imă invisível. Sua cabeça gira e nossos olhares se encontram. Seu sorriso doce amplia, apenas para mim. Está linda demais esta noite em um macacão vermelho, a cintura fina marcada por um cinto dourado. Está se transformando em um mulherão, com curvas de fazer qualquer homem, ou mulher virar a cabeça quando ela passa. Fico louca de ciúme nos eventos em que participamos. Depois das palavras venenosas de Verônica, fiquei paranóica, observando se vai dar mole para alguma filha da puta mais jovem do que eu. Eu me obrigo a deixar as minhas neuras recentes de lado e aprecio cada detalhe dela. O cabelo está preso em uma trança longa, pendendo sobre as costas. Há algo diferente nela. Tenho a observado muito nesses dias. Está radiante, como se sua pele estivesse reluzindo, os olhos castanhos mais brilhantes.
A risada baixa de Noah soa, me tirando do transe. Meu amigo me encara, parece querer dizer mais alguma coisa, em vez disso, toma um gole do seu uísque apenas.
-Sim, eu acho que posso admitir isso, - dou de ombros. Não vou começar a falar sobre sentimentos agora. Nunca irei chegar em tal estágio,
-O novo contrato está pronto. Quando vai mostrar a ela? – pergunta e eu rio um pouco. Noah é tão parecido comigo. Difícil sair da pele do advogado, mesmo nas folgas.
- Depois do ano novo. Digo, saboreando mais um gole da minha bebida. – Será que ela vai gostar? – Noah Bufa.- Será rica, muito rica. Aponta, enrugando a testa. – Que mulher não gostaria disso, amiga?
Abano a cabeça.
- Clara não é como as outras. – eu me vejo defendendo-a imediatamente e franzo o cenho.
Um sorriso filho da puta se abre no rosto de Noah. Resmungo e antes que solte alguma pérola de sabedoria, Lilia chega até nós, vindo do corredor. Na certa estava na cozinha, cumprimentando Rosa. Minha irmā adora manter seu fa-clube entretido. Ironizo.
- Fizemos um belo trabalho, hein, Helena ? – empurra seu ombro no meu, indicando a árvore, que mais parece uma seringueira na minha sala.
Está toda decorada, cheia de presentes que Clara e dona Magnólia supervisionaram enquanto nós duas pendurávamos tudo. A contragosto, eu me vi apreciando a forma como nos sentamos e trabalhamos em equipe ao redor da coisa enorme e fomos dando-lhe vida. Se fosse por mim, pagava alguém para entregar tudo pronto. Mas entendi um pouco do que Clara estava falando, o verdadeiro sentido da celebração em família é construir juntos. Ela estava tão empolgada, como uma criança, os olhos bonitos cintilando. Desconfio que também não tenha tido muitos natais felizes em uma família como a sua, e por essa desconfiança, acabei cedendo e deixando a árvore exatamente do jeito que pediu. Valeu a pena ver o seu sorriso emocionado quando acabamos o serviço e ela testou o pisca-pisca iluminando a árvore em um caleidoscópio de cores vibrantes.