Véspera de Natal...
Helena
Eu paro na entrada do closet e sorrio, me recostando ao batente, admirando a minha mulher terminar de se arrumar. Ela está simplesmente magnífica em um macacão verde-escuro, destacando suas curvas tentadoramente indecentes. Nossos olhares se encontram através do espelho e meu peito incha quando abre o sorriso doce que é só meu. Ela é plenamente mulher agora, depois das duas gestações. Sim, a minha menina perfeita me deu a alegria de ser mãe de novo, dessa vez de uma menininha linda, que me tem fazendo todos os seus gostos, exatamente como sua mãe.
Eu ando devagar para dentro, sentindo meu corpo responder à proximidade do seu. Quatro anos juntas, quatro anos de muito amor, paixão, devoção. Nossa vida sexual continua intensa, mesmo depois dos filhos. Eu sou irremediavelmente louca de tesão por ela e isso nunca vai mudar. Ela também tem a mesma fome por mim.
Descemos em seguida. O parapeito e o corrimão da escada também estão decorados com motivos natalinos. Clara adora enfeitar a casa toda e admito, também peguei gosto por essa época do ano. A casa fica cheia de uma energia boa. É inexplicável, mas dá para sentir a leveza. Amo ver a felicidade dela e agora dos nossos pequenos ao redor da árvore, montando tudo em família. Graças a ela, os nossos filhos crescerão sabendo quais são as coisas mais valiosas nessa vida.
Clara jamais é esnobe sobre o dinheiro e me deixe dizer ela é casada com a segunda maior fortuna do Brasil e a quarta da América Latina. Mas a minha mulher não liga para isso. Nunca ligou. A emoção em seu rosto é a mesma quando lhe presenteio com algo caro ou lhe dou uma rosa. E isso só a torna ainda mais perfeita aos meus olhos. Mesmo tendo acesso a tudo que o dinheiro pode comprar, ela está mais preocupada com coisas simples como contar histórias para os nossos meninos na hora de dormir, ser a melhor esposa que uma mulher como eu poderia sequer sonhar. Não contente, ainda está dando uma perspectiva de vida melhor para centenas de crianças e jovens que passam todo ano pelo projeto que coordena com absoluto sucesso. Está bem, sou uma esposa totalmente babona, assumo. Rio como uma boba apaixonada, colocando uma mão na parte baixa das suas costas quando descemos o último degrau. Minha avó já está babando sobre Lucy, percebo.
Dona Magnólia não cabia em si quando eu e Clara
Anunciamos a segunda gravidez. Sua adoração por Clara cresceu a níveis estratosféricos. E minha doce menina ama a minha avó também. Nosso pequeno Rafael está correndo de um canto a outro. É uma tarefa difícil mantê-lo comportado em seus quase cinco anos. Então nós o deixamos livre, com supervisão das babás, claro. Nesse momento, ele está conferindo os presentes na árvore. Nossa pequena está milagrosamente sentada no sofá perto da bisa. Não milagrosamente se você observar a enorme boneca em seus braços. Vovó está estragando-a, como fez com Rafael . E como tem feito com seus outros bisnetos, a propósito... Bem, vocês ainda não sabem, mas minhas irmās também estão, como elas mesmos falam, com as bolas presas em nós bem apertados.
Sim, Natacha estava certa e Lilia realmente pegou um avião para Tocantins depois da recepção do meu casamento, há quatro anos. Sofia a fez rastejar pra caralho, principalmente porque enquanto ela festejava com outras mulheres, tentando mostrar que era sexo casual, ela foi embora grávida. Lilia teve que usar todo o repertório de boas intenções, a garota estava irredutível, bem como seus irmãos, dois lutadores durões de MMA. Pois é, as coisas ficaram um pouco tensas para o lado da minha irmã mulherenga. Eu rio levemente.
Quanto a Natacha, essa também comeu o pão que o diabo amassou para reconquistar a Natalia, porque, confirmando as nossas suspeitas, as duas estavam envolvidas sim e, surpresa! Ela também estava grávida quando terminou o namoro de anos com o enfadonho do promotor, só que quando foi contar isso a minha irmã, ela estava em situação bem comprometedora com outra mulher.
Certo, eu sei o que devem estar pensando. Elas são umas fodidas idiotas. Pois é, não basta ser uma Weinberg , você tem que fazer uma merda colossal para carimbar isso. Ironizo. É a verdade, as irmãs Weinberg tem três coisas em comum. A primeira, fomos sim, umas babacas fodidas com nossas mulheres; segunda, elas foram embora grávidas; e a terceira, nós não brincamos em serviço.
-Vovó, a senhora a mima demais. – eu rio, me debruçando e beijando-a na tempora tão logo a alcançamos, em seguida a minha princesinha.
Minha avó sorri ternamente para mim, me devolvendo o beijo, mas Lucy ainda tem a sua atenção.
De jeito nenhum. Nada é demais para a minha Menininha. Diz, beijando a cabecinha castanha da nossa pequena.
Lucy dá uma linda risada, toda faceira pela paparicação da bisa.
Vovó, a senhora está tão bonita – Clara se inclina, depositando um beijo em sua bochecha.
Dona Magnólia se derrete para ela, os olhos castanhos cintilando, felizes, e toca seu rosto, beijando-a suavemente também.
Minha menina doce, obrigada. – murmura com afeto. Você é quem está radiante. – Eu adoro a forma como celebra o Natal, querida. Seu olhar terno vem para mim. – E você ainda conseguiu a façanha de passar isso para a minha neta.
Clara lhe oferece um sorriso suave e vira o rosto para mim.
- Nem foi tão difícil recrutá-la. – os olhos brilham com humor. Eu dou risada.
Vovó, pare de inflar o ego da minha mulher. Reclamo com falsa zanga.
Minha avó sorri, o som me deixando leve. Então ouço as vozes no living e meu peito fica ainda mais enlevado. Minhas irmãs chegando.
Família. Nós somos isso agora.
Temos celebrado o Natal todos os anos desde que Clara entrou em nossas vidas. Em um ano, a ceia foi na casa da vovó. Ela estava muito feliz com seus novos netos e a chegada de mais bisnetos. No retrasado, foi na nova casa da Lilia, e no passado, na casa da Natacha. Mesmo não fazendo a ceia por aqui, não abrimos mão de montar a árvore. Já é tradição para nós.
Eu me viro para a entrada da sala e Natacha é a primeira a aparecer, segurando Anthony, seu menino de três anos, pela mão. O moleque é a cara dela. O outro braço enrolado na cintura da sua mulher, que sorri amplamente quando nos vê. Eu pego Clara pela mão e vamos recebê-los.
-Ei Helena , Mih. – Natacha nos cumprimenta, soltando Natalia para me dar um abraço.
Minha irmã melhorou muito com sua sociabilidade. Natalia lhe fez bem. Eu diria que conviver comigo e Lilia, suas irmãs, também contribuiu para isso. Ela ainda carrega certa dose de marra porque, bem, essa é sua personalidade, como a minha é ser cínica. Há traços que não conseguimos mudar, apenas suavizar. Ninguém muda completamente. Se for assim, perdemos a nossa identidade.
-Ei, irma. Eu a abraço de volta e me inclino, dando um beijo na têmpora de sua mulher Natalia.
Clara , Natalia abre um sorriso amplo. Um sorriso genuíno.
Clara estreitou laços com ela e se tornaram muito amigas. Minha menina foi quem primeiro percebeu o problema que Natalia escondia desde a adolescência. Noah nunca desconfiou e tampouco eu. Sempre a achei pedante pra caralho, mas as mulheres nascidas em nosso meio geralmente são. Contudo, no caso dela era outra coisa... A partir do momento em que Natacha soube, ela se tornou o seu porto seguro. Minha irmãzinha também tinha sua quota de demônios a serem exorcizados.
As duas se curaram mutuamente, para dizer a verdade.
Eu vou parar por aqui, porque essas histórias, tanto a dela quanto a de Lilia, são delas para contar, não minhas.