Capítulo 24

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Clara

- está de folga está manhã, não? Por que não vem também? – franzo o cenho, sem saber de onde surgiu a ideia descabida. Não somos um casal normal em lua de mel. Ela deixou bem claro que se trata de negócios essa viagem, nada mais. A mulher vive e respira trabalho. Além disso, me disse que já esteve em Atenas algumas vezes, deve conhecer tudo o que há para conhecer. – o que estou pensando, você já deve conhecer os pontos turísticos da cidade, não é? – rio da minha estupidez.

- Não. – abana a cabeça. – sempre vim a trabalho, amor. – Eu quero rosnar para o uso dessa palavra. Detesto a forma como a diz e ela sabe disso.

- Alguém já lhe disse que precisa se divertir também? – o desafio. – nem só de trabalho vive o ser humano. – Ela bufa um pouco, a expressão irônica assumindo com força total. Eu sabia que era só um momento.

- Ninguém mantém um império se divertindo, amor. – diz e me descarta, voltando a ler a folha em sua mão.

- O que você faz para relaxar? Agora fiquei curiosa, a atiço. Não sei o que me dá, mas, estou me sentindo encrenqueira hoje. Seus olhos levantam para mim e aquele canto perverso de boca se curva.

- Eu fodo, amor, murmura, os olhos gelados prendendo-me no lugar. – nada me relaxa mais do que isso. – Eu engasgo, meu corpo ficando quente de raiva.

Que idiota! E pensar que estava um pouco preocupada com sua obsessão por trabalho. A mulher simplesmente intragável. Termino de tomar o café em silêncio e me levanto instantes depois.

- Pode avisar o segurança que estou descendo dentro de trinta minutos? – pergunto, dando-lhe o mesmo tratamento frio. A gente aprende rápido. É a lei da sobrevivência. Helena  se recosta em sua cadeira, os olhos frios encarando os meus.

- Esteja de volta até as cinco. Precisa se preparar para a noite de gala. – diz como se eu fosse uma de suas empregadas. – farei a palestra de abertura. – aceno como uma boa serviçal.

Horas depois...

Meu celular toca sobre o criado-mudo. Eu estico o pescoço na direção e faço uma careta ao ver o nome de Winona na tela. Tem me ligado insistentemente desde que não apareci para o almoço que quis me enfiar goela a baixo. Deixo tocar até ir para a caixa postal. Preciso encontrar as víboras quando retornar ao Brasil e estabelecer alguns limites, ou não vão me deixar em paz nunca. Pego minha carteira e vou em direção ao terraço. Helena  deve estar lá. Paro nas portas de vidro e corro os olhos pelo amplo espaço. A brisa noturna sopra agradavelmente, fazendo minha pele arrepiar, me lembrando de que meus braços, e boa parte do torso, estão de fora. Helena  havia informado à minha personal stylist da nossa viagem para cá e ela providenciou uma seleção de vestidos espetaculares para os eventos que terei de acompanhá-la. O modelo de hoje é muito ousado, embora longo. É branco, a saia ampla, com duas aberturas sensuais na frente, mostrando as pernas inteiras quando me movimento. A frente única é além de sexy, o decote profundo encontra o cinto prata que marca a minha cintura.

Ela me ensinou o truque para não mostrar os seios inadvertidamente, no entanto. Basta usar discretas fitas adesivas e pronto! Minhas sandálias são prateadas com strass. O hotel indicou uma maquiadora e cabelereira e Helena  a contratou para cuidar de mim antes dos eventos. O penteado de hoje me fez ofegar quando me olhei no espelho. Uma trança, ricamente intrincada e afofada, desce sobre o meu ombro direito e uma tiara lateral, prateada, em estilo grego, completa o visual. Sem qualquer modéstia, nunca me vi tão bonita em toda a minha vida. Pareço uma deusa grega. Eu rio um pouco de mim mesma com tal presunção, então, meu olhar colide com o de Helena  e, meu Deus... Acho que pronuncio isso baixinho, meu deslumbramento sendo transferido todo para ela. Está usando um smoking negro, de caimento perfeito. Sua figura exala riqueza, sofisticação, poder. E para o meu desgosto, estou irremediavelmente atraída, como a mariposa para a luz. Meu coração bobo acelera quando torno a encará-la. Está recostada à balaustrada, um copo de uísque na mão, a outra enfiada no bolso das calças. Sua postura sugere relaxamento, mas, sei que é enganosa. Helena  Weinberg  não relaxa jamais.

Estamos a uma boa distância, contudo, posso ver claramente a expressão nos olhos azuis glaciais. Eles me devoram, percorrendo lentamente o meu corpo, me deixando quente, meu sexo pulsando. Tudo em mim está muito consciente dela como mulher. Como a minha mulher. As palavras invadem meu cérebro me assustando de imediato. Não, ela não é... Começo a negar e suspiro resignada. As circunstâncias não são as mais propícias, no entanto, é isso que Helena  é nesse momento: minha mulher. Estremeço com essa constatação. Ela descarta o copo sobre a mesa perto da piscina e vem para mim. Todo o tempo seu olhar segurando o meu.

- Você está atrasada. – diz. Eu rio um pouco. Cheguei eram quase seis da tarde, só para contrariá-la. Tomei banho correndo e fui me arrumar. Uma expressão intensa preenche seus olhos e ele me olha uma vez mais de cima a baixo, sussurrando: - valeu cada maldito minuto, no entanto.

Meu coração salta, não posso evitar. Está me elogiando? Eu não devia me importar, mas, quero que me ache bonita, sexy. Droga... Estou lelé da cuca. Como posso querer isso?

- Desculpe, amor. – digo-lhe docemente e ela estreita os olhos com a minha provocação. – podemos ir agora?

- Tenho algo para você. – diz, enfiando a mão no bolso das calças, retirando uma caixa de veludo. Eu engasgo vendo a marca: Tiffany. Abre-a e não posso evitar minha boca escancarar, é um bracelete de prata, soberbo. É largo, com uma grande pedra verde, que suponho seja esmeralda, no centro. Absolutamente soberbo. – Gostou desse, pelo menos? – Sua voz me tira do transe e eu encaro a mesma. A boca está curvada em um sorriso arrogante, percebendo meu encantamento pela joia.

- É lindo. – murmuro. Ela pega meu braço esquerdo, com mais delicadeza do que esperei e encaixa o grosso e elegante aro em meu pulso, subindo-o até ficar firme no meu antebraço.

- Usarei esta noite, depois lhe devolvo. – eu lambo os lábios, um pouco incomodada pela sua proximidade e a forma como está me olhando, como se quisesse sexo nesse exato momento.

- Pare de ser infantil. É um presente, não aceito devolução. – levanta a mão, tocando meu decote, os dedos deslizando no vale entre os seios, os olhos intrusivos nos meus. – Esse vestido é indecente. Todo maldito homem vai desejar te foder quando entrarmos naquele salão. – resmunga – A faria trocá-lo, mas, admito, gosto de saber que podem cobiçar o quanto quiserem, apenas eu tenho o privilégio. – gemo involuntariamente com suas palavras grosseiras.

Minha pele arrepia e ofego alto, meus mamilos endurecendo, minha calcinha encharcando na hora. A mão desvia e segura meu seio esquerdo por cima do tecido do vestido. Eu me afasto, as costas batendo na parede de vidro.

- Você deixa o meu pau duro, amor. – sorri, lento, perversa, aproximando o rosto do meu. Me olhando intensa e murmura: - quero te foder, nesse exato momento. – seu tom fica rude e cola seu corpo no meu, esfregando o pau duro em meu ventre. – Você quer, neném?

Meu Deus. Eu pingo, latejo com seu tom, sua expressão presunçosa. Seu cheiro me embriagando, me deixando entorpecida. Coloco as mãos em seu peito, querendo que recue e ao mesmo tempo suplicando silenciosamente para que faça comigo o que tiver vontade. É humilhante me sentir tão impactada por essa mulher.

- Não. – Seu sorriso amplia malvadamente.

- Mentirosa. – sussurra, sua boca quase tocando a minha – Posso sentir o cheiro da sua bocetinha toda molhada, Clara . – desliza o nariz pelo meu rosto, o hálito quente, me arrepiando, me deixando em brasa. – não minta para mim, amor.
- Não. – gemo, sem forças para lutar e ela sabe disso. – Afaste-se, por favor. – Leva a boca para meu ouvido e lambe a ponta da orelha. Eu molho mais, choramingando vergonhosamente. Seu sorriso soa baixo, pecaminoso e me mordisca. Em seguida, para meu alívio, e também decepção, Helena  se afasta. Continuo pregada à parede, trêmula, arquejante. Pega a minha cintura, a mão grande me segurando com posse.

- Infelizmente estamos atrasadas. – reorganiza seu pau dentro das calças, meus olhos indo para o grande volume. Ela ri cínica. Mas, quando voltarmos, não quero discussões tolas.



A Dívida - Clarena ( Adaptação)Onde histórias criam vida. Descubra agora