Maratona 1/8
Clara
A viagem de volta para casa é tensa. Eu choro ainda mais, olhando a cidade pela janela. A recente descoberta me deixando mais frágil, exposta, perdida como nunca estive em minha vida. Eu a amo. Oh, meu Deus, amo uma mulher que me tomou contra a minha vontade e me fez sua. Embora Helena esteja calada, posso sentir que ainda está com raiva pela forma como dirige, rápida e furiosa. Por quê? Será que significou algo para ela? Será que gosta pelo menos um pouco de mim agora?
Estou tão dispersa que não percebo o carro parando na garagem. Ela está rapidamente na minha porta, abrindo-a e me pegando no colo outra vez. Eu a abraço pelo pescoço e me deixo ser carregada pela casa adentro. Ainda está silenciosa, mas seus lábios tocam suavemente a minha têmpora em um gesto que me derrete, meu coração doendo de amor e esperança de que essa mulher tão complexa e reservada possa vir a me amar um dia. Sobe as escadas como se eu não pesasse nada e pouco depois estamos entrando em seu quarto. Ela me leva até o banheiro e me deposita sentada na bancada da pia. Volta ao quarto por uns instantes e logo reaparece com uma pequena trouxa na mão direita. Ainda sem dizer uma palavra, segura delicadamente a minha nuca e pressiona o pacote de gelo contra a minha bochecha esquerda. Arde e eu sibilo com a picada. Os olhos glaciais fervem.
- A vadia devia ter um anel para deixá-la ferida assim. Grunhe, rangendo os dentes. Ela sempre gostou de me ferir.
Mais lágrimas queimam em meus olhos e desvio o olhar do dela.
- Não. Olhe para mim, amor. – sua voz sai mais suave, me fazendo encará-la de novo.Meu coração está saltando desgovernado com a sua proximidade e a forma como está cuidando de mim. O jeito que está me olhando, como se eu importasse para ela. Seu polegar sobe um pouco, deslizando suavemente em meu queixo, olhos presos aos meus.
- Me conte. Por que aquela garota a trata assim? – Eu pisco, as lágrimas descendo em meu rosto.
- Ela me odiou desde o dia em que meu pai a trouxe junto com sua mãe para as nossas vidas. – digo baixinho, derrotada. – Não sei a razão. Eu nunca fiz nada ruim que justificasse esse ódio. – vejo um lampejo de empatia em seus olhos.
- E seu pai, sua madrasta? Nunca perceberam nada disso?
Meu pai sempre esteve cego de amor por Winona e acabou adotando Elodie como sua filha. – um soluço dolorido deixa meu peito. – Winona nunca foi abertamente cruel comigo, mas sabia que a sua filha me maltratava e nunca a repreendeu. – puxo uma respiração trêmula. – Meu pai, ele só queria desesperadamente agradar sua nova esposa e...
-Deixou sua filha verdadeira de lado. Helena completa no tom raivoso novamente.
Eu apenas aceno. Foi exatamente isso que meu pai fez.
- Enfim, não há uma razão para Elodie me odiar. Ela sempre o fez gratuitamente. – digo com voz apática. Seu olhar fica mais intenso no meu e seu
Polegar sobe mais, acariciando minha face direita.
- voce não tem mesmo ideia, não e? – murmura, sua voz profunda e seu toque carinhoso, fazendo borboletas sobrevoarem em meu estómago. – E isso só a faz mais adorável, amor. – diz em uma voz reverente. – Ela sente inveja, Clara . Sabe que não chega a seus pés.Suas palavras me surpreendem e eu abro a boca, chocada. O que ela está dizendo? Abano a cabeça.
- Não. Ela é muito mais bonita...
- Quem disse isso? Ela? – ela bufa. – É mentira. A cadela quis que acreditasse nisso porque é má e invejosa.
Retira o gelo e examina minha bochecha. Aproveito para admirar cada pequeno detalhe do rosto perto do meu. Sua respiração é lenta e constante, batendo em meu rosto. Minha boca saliva, ansiando pelo seu gosto. Quero tocá-la, mas mantenho minhas mãos apoiadas na bancada. O calor do seu corpo vem em ondas para o meu. Ela está entre as minhas pernas, a virilha quase roçando em meu centro. Minha respiração vai alterando à medida em que a olho, desejando-a tanto que dói.