62

246 34 23
                                    

See you tomorrow 🌼


Duas semanas depois...

Clara

Meu celular toca em minha bolsa, enquanto a limusine desliza pelo trânsito caótico, rumo à fundação SLN, no Morumbi. Estou indo para a terceira reunião com a equipe que irá trabalhar comigo no projeto de dança clássica e contemporânea para crianças carentes. Eu me joguei de cabeça nesse projeto para não ter espaço de remoer a minha vida pessoal caótica. Visitei o estúdio na semana passada e meu coração doeu demais quando vi que é igual ao que Helena  mandou fazer para mim, em sua casa. É maior, mas a decoração é igual. Ela avisou que faria algo assim, só que agora a semelhança me fará lembrar dos momentos de paixão que tivemos naquele estúdio. Um período em que eu tinha certeza do seu amor. Um período em que parecíamos tão felizes. Meu Deus, eu fui tão inocente ao confundir desejo sexual com um sentimento mais profundo. A queda foi tão brusca, que nunca irei me recuperar dos ferimentos. Ofego, obrigando-me a parar de pensar nela. Atendo a chamada assim que vejo o nome de Lilia na tela.

- Desculpe, bonitinha. – É tudo que ela diz, então ouço vozes sussurradas e em seguida a voz baixa e profunda soa, como que invocada pelos meus pensamentos erráticos.

- Clara . Por favor, não desligue. – Helena  se apressa em pedir. O que tenho para lhe dizer é importante. Não digo nada.

Todos os números ligados a ela estão bloqueados em meu telefone. Um misto de repulsa e alegria por ouvir sua voz me invade. Aperto os olhos fechados, meu coração batendo com força.
Odeio-a por me fazer amá-la dessa forma tão profunda, que por mais que tente, parece estar entranhada em mim, recusando-se a ir embora. Odeio-a!

- O investigador particular que contratei para investigar Winona cavou até conseguir encontrar o que você suspeitava. – diz cautelosamente.

Meu sangue gela, minha respiração falhando. Oh, meu Deus! Então aquela maldita estava mesmo por trás do acidente do meu pai? Desde aquela tarde em que atuou junto com a prostituta argentina para me destruir, tenho pensado em formas dolorosas de fazê-la pagar. Mas estou grávida e não posso colocar o meu bebê em risco por causa daquela ordinária. Sua hora vai chegar, no entanto.

- Você está bem? – a voz de Helena  vem urgente e preocupada através da linha. – Responda, por favor.

- Sim. Estou bem. – minto. Meu corpo todo está dormente de raiva. Quero acabar com ela. – Como? – pergunto em um fio de voz. Ela faz um breve silêncio.

- O dono do haras e sua madrasta eram amantes. – diz, parecendo enojada.

Eu quase bufo com a sua hipocrisia. Até parece que é uma mulher decente. Ela havia retomado o caso com a puta muito antes de eu flagrá-las juntas.

- Como o investigador descobriu isso? – indago, rangendo os dentes.

- Ele foi paciente, se matriculou em aulas de equitação com horários fixos, três vezes por semana. Revela. E se tornou, aos poucos, conhecido dos funcionários, então conversa vai e conversa vem, foi colhendo as provas. Um desses funcionários passou a sair com ele para beber depois do expediente e ao abusar do álcool, soltou a língua. Esse cara também se tornou amante de Winona, pois a flagrou com o patrão e passou a cobrar favores sexuais para se manter calado. – meu estômago embrulha. Que puta ordinária!

- O nosso investigador levou o bêbado para a casa e, vasculhando, encontrou fotos dela com o dono do haras. Fotos íntimas. – vou vomitar. – E outras fotos...

- Quais? – inquiro, meu coração saltando ainda mais rápido.

- Fotos de Winona preparando os arreios do cavalo que o seu pai montou naquele dia... – um soluço estrangulado sai da minha boca.

A Dívida - Clarena ( Adaptação)Onde histórias criam vida. Descubra agora