Helena
Eu ando até a janela do meu escritório e olho para fora, onde uma pequena tenda está montada no jardim lateral. Levo o copo à boca, sorvendo um gole do meu uísque, conferindo a movimentação do buffet que minha avó contratou de última hora. Rio levemente recordando-me da expressão de puro choque em seu rosto quando a visitei hoje pela manhã, convidando-a para a cerimônia no final da tarde. Meus planos eram fazer isso em um cartório mesmo, sem alardes, apenas Clara , eu e pronto. Dona Magnólia fez seu costumeiro show de chantagem emocional e acabei cedendo com a condição de que fosse um jantar íntimo. Os convidados são, minha avó festeira, Lilia, Noah e a intrometida da Natalia, porque seria deselegante deixá-la de fora, sendo irmã do meu único amigo e advogada da minha empresa.
Natalia não sabe da natureza do meu casamento, porém. Não contei nada para minha avó também. Ela não entenderia. Basta deixá-la feliz como está desde o momento em que lhe dei a boa nova. Mesmo tendo ficado compreensivelmente desconfiada por eu nunca ter mencionado nada antes, seu desejo pelo primeiro bisneto suplantou tudo o mais. Não apresentei Clara ainda. Ela saiu bem cedo para um spa, sugestão da nova personal stylist. Chegou ainda há pouco e está se preparando em seu quarto. Minha avó está coordenando o jantar pessoalmente. Ela sempre adorou organizar um evento. As festas de dona Magnólia sempre foram as mais disputadas na sociedade paulistana. Lembro-me de muitos jantares em sua casa quando eu e Lilia fomos passar as férias. Era com ela que passávamos as férias, não com nossos pais. Surpresos? Não fiquem, meus pais eram dois fodidos egoístas que
Nunca deveriam ter tido filhos. Nos víamos muito pouco. Essa foi a razão de eu não derramar uma lágrima sequer quando morreram. Eles eram como desconhecidos para mim. Não tinha porque fingir o contrário.
- Obrigado por não exigir que eu vestisse a porra de um terno, Helena . - a voz jocosa de Lilia me faz olhar de lado. Ela está saboreando seu uísque também, olhando a tenda lá fora. Usa uma de suas jaquetas de couro escura. Pelo menos essa é mais social e colocou uma camisa branca por baixo, mesclando sobriedade com sua irreverência. Seu olhar escuro gira para mim e seus olhos estreitam ligeiramente, me analisando. - ainda dá tempo de voltar atrás com essa loucura, irmã.
- Ela não vai voltar atrás. É teimosa demais para isso, Lilia. - a voz de Noah soa do meu outro lado e eu a olho, bufando.
- onde está Natalia? Não estava na interminável lista de convidados? - ironiza. Lilia é tão idiota.
Noah ri um pouco e toma um gole da sua bebida também.
- Ela preferiu não vir. Está estudando um caso complicado que pegamos nessa semana.
Ainda bem. - eu digo sem nenhum constrangimento. - não estou no clima para os comentários ácidos de sua irmã.
- No seu caso, é sinceridade, Helena , - rosna, defendendo a mulher implicante.
- Que seja, eu bufo, tomando o último gole e caminhando de volta para a mesa, depositando
Lilia ri e Noah bufa.
- No seu caso, é sinceridade, Helena . – rosna, defendendo a mulher implicante.- Que seja. – eu bufo, tomando o último gole e caminhando de volta para a mesa, depositando o copo vazio. – conseguiu terminar o contrato que estamos propondo aos gregos? – pergunto, ajustando minha gravata calmamente.
Ouço o bufo de Lilia às minhas costas e me viro.
- Só você mesmo para estar falando de negócios poucos minutos antes de se casar, Helena . – minha irmā balança a cabeça e vira seu copo.
- Esse casamento não tem nenhuma importância, Lilia. – dou de ombros. – para mim é um contrato como qualquer outro que terei que assinar.
Lilia grunhe, andando para perto e deposita seu copo vazio sobre a mesa também.