Clara
Os olhos correm por mim, inflamando com inveja e ódio.
- Como vai, maninha? Está aproveitando muito, não é? Eu me enganei achando que ia sofrer, mas não, você está gostando de ser a puta particular de Helena . – diz com despeito óbvio. – Olhe só para essa roupa... – bufa. – Pode até estar vestida como uma princesa, querida, mas não passa da prostituta dela, não se esqueça disso. – Ofego com seu ataque direto. Ela desistiu de fingir, pelo jeito.
- Pare de me perseguir, você e sua mãe. – digo, tentando soar firme. Sei que preciso enfrentá-las, me libertar desse domínio. É a hora.
- Você nos deve. Minha mãe te criou, sua putinha egoísta. – Eu rio sem humor.
- Não me faça rir, Elodie. Winona jamais ligou para mim. – retruco, enfrentando-a pela primeira vez. – Não lhes devo nada. A ganância de vocês as deixou assim. Acabaram com tudo que meu pai levou anos para construir.
-Papai era um fraco, seu sorriso é frio, assustador. Você puxou a ele.
Fecho meus punhos, irritada por ela falar assim dele, que a criou, deu amor, deu tudo que devia ter sido meu.
-Ele não morreu. – digo, minha voz tremendo.
-É hora de enfrentar a verdade, Clara . Ele não vai acordar mais. Você está sozinha no mundo, querida. Diz com veneno e um ódio inexplicável escorrendo em sua expressão. Por que ela me odeia tanto? Nunca lhe fiz nada.
-Helena vai te comer até enjoar e depois te jogar fora como lixo usado. Você é nada, cadela. Nadal – Estou tremendo, querendo desesperadamente romper o controle que ela ainda tem sobre mim adquirido pelos anos de tortura.
Puxo uma respiração profunda, juntando forças e me obrigo a enfrentá-la. Não posso mais viver assim, acuada.
- A prostituta aqui é você, Elodie. – digo firme, surpreendendo a mim mesma e a ela, que estreita os olhos.
- Aquele lá na mesa não é um colega de trabalho do meu pai? – diz ela.
Eu me recordo dele e da mulher em jantares que meu pai dava por insistência de Winona, que adorava esbanjar em cardápios e bebidas caras nessas ocasiões. Eu permanecia pouco nesses eventos, porque me enojava a forma como a cadela apresentava sua filha como a princesa da casa e meu pai não fazia nada para me dar um espaço que era meu também.
- Ele é casado.
- Você é tão tola, Clara . Trepo com ele já tem um tempo, querida, diz com um sorriso afetado. É uma vadia da pior espécie mesmo. – Lembra quando a esposa dele ficou grávida, há dois anos? Pois é, eu cheguei junto e ele cedeu depois de umas tentativas, Tadinho, tinha uma ideia antiquada de fidelidade, mas bastou um boquete em seu escritório e o bobo caiu na minha rede.
- Você não sente remorso por destruir um casamento assim? A esposa dele sempre nos tratou bem. Digo com asco. Ela gargalha.
- A tonta nunca vai saber. – diz com mais um sorriso odioso. – O idiota a ama. Só não consegue resistir a mim, porque vamos combinar, que homem resistiria, né? – ajusta o decote, empinando os peitos tão falsos quanto os de sua mãe.
- Não quero destruir o casamento de ninguém, mas preciso de patrocínio. Minha mãe e eu estamos na miséria porque você, sua putinha ingrata, não quis nos incluir na sua nova vida de privilégios. – seus olhos brilham, demoníacos. – Poderia ter lhe ajudado a conseguir tirar o máximo de dinheiro desse casamento, mas agora parei de mendigar coisas para você.
Ela me dá um sorriso maldoso e lambe os lábios vermelhos.
- Em breve será a sua esposa na minha rede. Vou tomar o seu lugar, sua horrorosa. Ela só te quis pela sua boceta virgem. Mas, acredite, a novidade passa rápido para pessoas sofisticadas como a Helena . Em breve ela irá precisar de uma mulher que saiba realmente foder, e é aí que eu entro. – ela vai falando e avançando para mim. Vou me afastando até bater na parede, sem ter para onde ir.
- Ela não quis você porque enxergou a podridão que há aí dentro dessa carcaça bonita. – meu sangue esquenta, de raiva e, principalmente, ciúmes. A ideia dessa puta tocando, beijando a Helena , me deixa insana. – Você é uma puta barata. Aceite isso e pare de tentar parecer o que não é.
O tapa forte acerta minha face, me fazendo morder a lingua. Dor e sangue fluindo em minha boca. Lágrimas quentes enchem meus olhos e eu choro, segurando meu rosto em brasa. Ela sorri como uma bruxa e pega meu cabelo, puxando-o com força.
- Isso, sua putinha ridícula, chore. Vamos, chore mais. Eu sempre amei o som do seu choro.
Eu soluço, minha bravata indo embora, me sentindo pequena, humilhada diante dela, como sempre.
- Mudei de ideia, vai me dar dinheiro de agora em diante, está me entendendo? Vai me dar ou vou te dar uma surra toda semana, como nos velhos tempos...
Eu choro, impotente, sem forças para me libertar.
- A mamãe prefere fazer maldades sutis, eu não, eu gosto de te ensinar qual é o maldito lugar, sua feiosa! – ela range os dentes com tanto ódio e olha meu rosto em chamas. – Oh, eu aconselho a cuidar disso quando chegar em casa, senhora Weinberg . – zomba.
-Que porra é essa? Tire as malditas mãos de cima da minha mulher! – surpresa me inunda com a voz profunda e familiar soando furiosa.