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Maratona 1/?(Depende)

Clara

- Essa é a minha garota!– Lilia se apressa, tomando Rafa em seus braços. – Meu afilhado vai passar algum tempo comigo. – sorri com seu charme em dia. – Renan irá levá-la até a minha irmã. – eu olho para o lado e vejo Renan vindo até nós com passos decididos, não disfarçando um meio sorriso.

- Vá, minha menina! – vovó Mag diz com a voz embargada. – Nós vamos cuidar de Rafael.

Cerca de dez minutos depois eu paro do lado de fora do escritório da Helena . Renan disse que ela está ali dentro. Minhas mãos estão trêmulas, suadas, meu coração retumbando no peito, me deixando tonta. Antes que perca a coragem, giro a maçaneta e empurro suavemente a porta. Corro os olhos pela sala e a vejo inclinada contra a parede de vidro, olhando para a pista de pouso. Minhas pernas estão bambas, ainda bem que estou usando sandálias rasteiras. Eu ando em silêncio para perto, meus olhos correndo por ela toda, a mulher que me tem completamente. As lágrimas descem sem controle agora.

- Clara ... – ouço-a me chamar, a dor tão latente em seu tom, enquanto desliza os dedos pela parede de vidro.

Vejo o avião da SLN ganhando o céu. Ela acredita que embarquei.

-Rafa... – meus Deus... Ela está destruída.

Meu corpo estremece e eu continuo observando-a, chocada, profundamente tocada.

- Meus amores... – suspira entrecortado. – Vou morrer sem vocês.

O avião vai ficando cada vez mais alto, apenas um ponto longinquo, e Helena  emite um som de profunda dor, caindo de joelhos no chão. Eu ofego alto e, nesse momento, testemunhando a sua dor aqui, escondida de todo mundo, é como se uma cortina saísse da minha frente, desobstruindo a minha visão. Ela me ama. Eu fico sem ar, querendo-a tanto. Amando-a ainda mais. Oh, meu Deus! Ela realmente me ama! O misto de sentimentos volta a me golpear sem dó. Ela me ama.

- Eu vou te amar para sempre, bebê. – sussurra, emitindo pequenos soluços quebrados e eu não posso mais ficar aqui só observando-a, como uma covarde.

Limpando a garganta, eu a chamo baixinho, minha própria voz cheia de dor por testemunhar

O estado em que a deixei.

- Helena ... – ela consegue me ouvir porque congela.

Ouço-a inalando o ar. Demora um pouco para se levantar e se virar para mim. Meu coração aperta dolorosamente quando vejo seu rosto todo banhado de lágrimas, sua expressão de derrota, torturada. Ela não parece acreditar que estou aqui no primeiro momento. Permanecemos em silêncio, apenas nos olhando com soluços doloridos escapando de nossas bocas.

- Você está chorando. – eu digo entre soluços.

- Você também. – ela me diz de volta.

- Por que não consigo deixar de te amar? – é a segunda coisa que sai da minha boca. – Por quê? Por que te amo tanto?

Vejo a esperança invadir seu semblante e mais lágrimas encherem seus belos olhos. Ela começa a vir em minha direção, tão bonita que meu coração gagueja. Mesmo estando uma bagunça, ainda é a mulher mais bonita que já vi. Na verdade, ela está mil vezes mais bonita agora, se mostrando sem disfarces para mim.

- Eu pensei que você... Como? – suas palavras saem embargadas.

- E-eu não consegui... – gaguejo, tremendo muito. – Não consegui... – engasgo.

- Sou uma tola por não conseguir parar de te amar? – pergunto, ainda querendo garantias porque não vou suportar ser ferida de novo. – Me diga, eu ainda sou tola por te amar tanto assim?

Ela inala o ar bruscamente com as minhas palavras atropeladas e a declaração contida nelas.

- Não, amor. Eu sou a única tola aqui. – ela para bem perto de mim e estende a mão trêmula, tocando meu rosto.

- Oh, Deus, você é mesmo real. – murmura, seus lindos olhos azuis um misto de emoções. – Eu te amo tanto, vida, engasga. Acredite em mim, por favor.

E eu acredito. Eu empurro todas as dúvidas, a mágoa e a dor para longe. Ela me puxa pela cintura, soluçando alto, as lágrimas grossas, sentidas, voltando a cair incessantemente. Sua testa desce na minha e eu a abraço pelos ombros, puxando-a com o mesmo desespero para mim.

-Está chovendo.murmuro, tocando seu rosto. – Meu coração estava doendo de tanta saudade.

Ela ri baixinho e roça o nariz no meu. Eu estava esperando estranheza entre nós, mas não, o que vejo em seus olhos é amor e a suavidade com que me tratou desde que a deixei, há nove meses. Só que eu estava magoada demais para acreditar nela. Mas é real. Vejo tudo agora. Ainda há o toque de arrogância natural da Helena  Weinberg  lá nas profundezas azuis, no entanto, a ternura também é evidente. Ela não está se escondendo mais.

- Esse temporal todo deve ser porque você voltou  Para mim. Diz, me fazendo rir também. Seus  Olhos ficam intensos nos meus e ela sussurra:

- Obrigado, amor. Você nunca irá se arrepender de me dar outra chance.

- Eu quero voltar para nossa casa ainda hoje. – digo, vejo a surpresa e depois a emoção tomar o seu rosto.

- Eu estava aqui pensando numa maneira de sugerir isso sem parecer apressada. – diz com um meio sorriso na boca firme. – Estava me preparando para o poder dessa boquinha argumentativa. – seu tom é cheio de provocação.

Meneio a cabeça, rindo também porque eu realmente gosto de um embate.

- Perdemos muito tempo, Helena . – sussurro com pesar. – A culpa foi minha por ter deixado o rancor me envenenar. Eu tenho tanta saudade de lá. – meus olhos ardem.

- Eu também senti sua falta lá, meu amor. – murmura, acariciando meu rosto. – Por falar nisso, onde está Rafa?

- Com a vovó Mag e Lilia. Elas sabiam, de alguma forma, que eu não ia conseguir embarcar. – murmuro.

Ela acena.

- Vou chamar o helicóptero tão logo o temporal passe. Vamos pegá-lo onde estiver e seguir para a nossa casa. – seus olhos brilham muito. – Nós três. Eu sonhei tanto com isso, amor.

- Eu também, meu amor. – aceno, sendo tomada pela emoção novamente. – Há outra coisa, eu quero me casar no mesmo dia em que nos casamos a primeira vez. – exijo.

Helena  amplia os olhos em nova surpresa, então aquele perverso canto de boca sobe.

- Esse era outro tema que eu pensei que iria me dar trabalho. – diz baixinho.

- Está decepcionada por não termos nenhum embate agora? – pergunto.

Os olhos azul-gelo brilham e ela sorri, o amplo e raro sorriso que sempre amei em seu rosto.

- Nunca. Se dependesse de mim, casaria com você amanhã. – diz, seu olhar suave correndo por todo o meu rosto. – Mas, três meses me dará tempo para organizar a cerimônia que a mulher da minha vida merece.

Eu engasgo, meus olhos se enchendo de lágrimas. Dessa vez de pura felicidade.

- Helena ... Amor... – sussurro no tom que ela gosta de ouvir.

- Eu amo você, Clara . – sua voz treme um pouco, os olhos lindos cintilando para mim.

- Eu também te amo. – digo de volta. – Nunca deixei de querer, de amar você. Todos os dias nesses longos meses, eu te amei, Helena .

Ela encosta a testa na minha, sua respiração alterada.

- Eu prometo te fazer feliz todos os dias a partir de hoje. Viverei para amar, cuidar de você, de Rafa e de quantos mais gerarmos juntas. Viverei para atender cada um dos seus desejos.

O tempo de tristeza e angústia ficou para trás. Pela primeira vez na minha curta vida, estou a caminho de ter uma família. De ser feliz.

A Dívida - Clarena ( Adaptação)Onde histórias criam vida. Descubra agora