ClaraEla é linda de uma forma que nunca sequer sonharei em ser. Seu rosto não está amigável, no entanto. Há uma expressão determinada lá e ela não se desvia de mim. Vem em linha reta para uma colisão. Para na minha frente, sua postura ameaçadora, os olhos escuros um contraste com os longos cabelos morenos. Meu corpo estremece e eu me afasto um pouco para trás.
- Então, você é a garota com quem Helena se casou. – sua voz não tem nada da suavidade com que o cumprimentou lá na mesa.
Ela ri ao me ver engolir em seco. Me sinto ameaçada em mais de um sentido. É uma mulher madura, enquanto eu sou apenas uma menina. Seus lábios, pintados de vermelho-sangue, retorcem cruelmente ao perceber que está me intimidando. Então, ela me rodeia, devagar. Se essa mulher tentar algo contra mim, não tenho chances, fisicamente falando. É um mulherão comparada ao meu porte de bailarina. Me sinto diminuta perto dela.
- Clara , não é? – para na minha frente de novo, estendendo a mão. – sou Verônica Lopes, você já deve ter ouvido falar de mim.
Eu franzo o cenho diante da forma segura e arrogante com que afirma isso, Seguro sua mão e ela aperta a minha desconfortavelmente. Puxo de volta, tentando controlar a minha vontade de sair correndo de perto dessa mulher.
- Prazer em conhecê-la. – digo, forçando minha voz a sair firme. – Na verdade não ouvi nada sobre a senhora, desculpe. – Seus olhos estreitam sobre mim. Percebo que a insultei por tratá-la respeitosamente e uma satisfação perversa desliza em minhas veias.
Apenas, Verônica, por favor. – diz rispidamente. – Quantos anos tem, afinal? Vinte e três, vinte e quatro?
- Dezoito, senh... Verônica. – me interrompo a tempo e seus olhos arregalam, ódio puro tomando suas íris escuras.
- Dezoito? – sibila. Posso sentir níveis altos de animosidade emanando dela. Um sorriso frio se abre em seu rosto. – Uau! Ela não estava brincando quando disse que você era jovem. Fiquei muito chateada no começo, mas, depois pensando com mais calma, entendi porque a Helena está fazendo isso. Ela precisa do seu útero jovem para produzir um herdeiro forte, saudável. – seu sorriso fica ainda mais cruel e completa: - palavras dela, querida.
Suas palavras são cheias de veneno e eu me lembro de Verônica quando cheguei em São Paulo. Quantas mulheres recalcadas Helena deixou pelo caminho? Me pergunto irritada de ter que lidar com isso, mesmo não sendo um casamento convencional.
- Foi um prazer, mas, preciso voltar para a mesa.. digo-lhe, ainda no tom educado, tentando não me deixar ser atingida. Essas mulheres são ridículas. Ela não sai do caminho, olhos me lançando dardos mortais. Se aproxima ainda mais, invadindo meu espaço pessoal e rosna na minha cara:
- Helena é minha. Estou voltando para São Paulo e para a vida dela.
Meu sangue ferve pela ameaça. Embora minhas pernas estejam tremendo, eu não cedo nem um milímetro, me recusando a parecer uma covarde para essa mulher. Suas palavras me atingem profundamente, mesmo contra a minha vontade. Ela vai retomar o caso com ela? Isso me angustia, meu coração dói. Oh, meu Deus, por que isso me machuca?
- Você é uma das usadas e descartadas pelo visto. – ranjo, mesmo que minha voz saia trêmula.
- Para o seu próprio bem a aconselho a não se encantar pela minha esposa. – diz numa voz mortalmente calma, seus olhos me analisando, certamente vendo meu ciúme. – Helena é minha. Depois que a criança nascer, vamos nos casar e você vai sumir. Nada vai me impedir de ser a senhora Weinberg . – seu olhar me causa arrepios agora. – Não ouse ficar no meu caminho, ou vou te esmagar como a ratinha que você é.