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Helena

Os olhos de Clara  ampliam, sua boquinha vermelha abrindo em surpresa.

- Vou colocá-la em contato com a nossa fundação, Mills. Pode compartilhar suas ideias e nós faremos acontecer, bebê. – Tenho a impressão de ouvir alguns suspiros femininos na mesa.

- Helena ... – murmura com voz emocionada. Os olhos são duas pedras preciosas cintilando calorosamente para mim. Ela se inclina, o rosto ficando bem perto do meu, e sussurra quase tocando a minha boca:

- Isso é tão gentil... Obrigada. Estou meio perdida sem o balé no meu dia a dia.

- Eu sei, amor. Estive pensando em algo. – levanto a mão livre, tocando o rosto perfeito. Ela sorri, um tipo de sorriso doce cheio de querer e algo mais que não me arrisco ir a fundo nesse momento.

- O quê? – pergunta baixinho.

Estamos isolando o restante da mesa, nosso foco apenas na outra.

- Se quiser pode remodelar um dos quartos no andar de cima... junta as sobrancelhas em confusão, para fazer um estúdio de dança. Pode treinar em casa mesmo, o que acha?

Seus olhos se enchem de lágrimas e ela ofega. Eu pensei que estava emocionada antes com meu apoio às suas ideias. Não, está emocionada agora. Isso faz algo dentro do meu peito. Gosto de saber que eu coloquei essa expressão em seu rosto. Gosto mais do que devia diante da nossa real situação.

- Helena ... É perfeito. - sua voz sai levemente embargada.

Estende a mão delicada e toca meu rosto, deslizando os dedos em minha face. Seus olhos transbordam de lágrimas. Ela meio que sorri e chora ao mesmo tempo, e é a coisa mais bonita que já vi na vida.

- Um estúdio só para mim? - diz entre lágrimas.

Sorrio, meu coração quente, amolecido por essa menina, então limpo suas faces delicadamente. Há sussurros e suspiros claros na mesa agora. Eu sei o que deve parecer: um casal extremamente apaixonado.

- Não me ache uma boba, por favor, é só que isso é... - engasga. Rio levemente, continuando minha tarefa de limpar seu rosto, meus olhos intensos nos seus. Ela toca os lábios deliciosos nos meus em um beijo suave, reverente, antes de completar: -Significa muito para mim. Obrigada. - Meu coração fica ainda mais aquecido. Mas apenas aceno. Meu sorriso sumindo para não fazer uma cena maior na mesa.

- Ótimo. Meu arquiteto cuidará disso ainda nessa semana. digo no tom de comando que costumo usar,

Ela entende que não aprecio demonstrações públicas de afeto, então acena de volta e se recompõe. Minha avó toca em meu antebraço e eu a olho. Ela está com uma expressão que só posso descrever como realizada em seu rosto bem maquiado.
-Ela te faz feliz, filha. – conspira só para os meus ouvidos. Eu fico tensa com a sua percepção.

Olho a mulher ao meu lado e meu coração expande. Sim, ela faz. Volto a encarar a minha avó e me limito a dar-lhe um aceno quase imperceptível. Não aprecio me sentir assim, de certa forma vulnerável pelos sentimentos que estou desenvolvendo por minha inocente e jovem esposa. Mas talvez seja um bom momento para

Reconhecer isso. Clara  está alcançando uma parte minha que nunca deixei acessível para ninguém. Duas semanas depois... Aeroporto de

Guarulhos...

Helena

Saímos do hangar da SLN e andamos pelo asfalto a céu aberto, em direção à primeira aeronave imponente, prestes a ser batizada. A brisa suave do entardecer nos envolve. Minha mão está entrelaçada com a de Clara , enquanto observamos os caminhões do Corpo de Bombeiros se posicionarem. Quatro Boeings estão enfileirados aguardando a ação. Dois modelos 767 e dois 777, comprados para atender o aumento das frequências das rotas internacionais. Estávamos operando em vinte e três frequências semanais, mas, graças ao um cuidadoso planejamento estratégico, vamos fechar esse ano em melhores condições do que no anterior. Começaremos o ano fungando no pescoço da LATAM. Rio, gostando muito desse prospecto. A pequena multidão se aglomera em nossos lados. Assessores de imprensa da empresa, meu vice-presidente, alguns gerentes, Noah, e executivos da Star Aliance que estão nos visitando, quiseram prestigiar o momento.

Os caminhões se alinham e em seguida, grandes jatos d’água são atirados em cima do avião, de cada lado, formando um arco elegante, a chuva banhando a aeronave. Palmas e exclamações entusiasmadas ecoam ao redor.

-Que lindo! – Clara  exclama, me fazendo virar a cabeça para olhá-la. Um sorriso de deslumbramento está curvando os lábios grossos. – não sabia que os aviões podiam ser batizados. – diz baixinho, o rosto sendo tingido de rosa. Ela não gosta de parecer ignorante sobre um assunto.

- Sim, há várias ocasiões que pedem batismo. Aquisição de frota, inauguração de rotas, último voo de um comandante, encerramento das atividades de uma companhia... – sorrio do seu rosto encabulado. – é uma tradição mundial na aviação.

Ela ouve atentamente, sempre ávida por conhecimento. Ouço o estampido das bebidas sendo abertas.

-É lindo. Obrigada por me convidar. – murmura, os belos olhos castanhos refletindo os últimos raios de sol.

-Meu prazer, digo, abaixando meu rosto, minha boca ficando perto da sua.

Não gosto de demonstrações públicas de afeto, mas, a menina me seduz, minhas mãos tem vontade própria perto dela. Beijo seus lábios levemente e ela sorri, os olhos brilhando para mim. Meus lábios se curvam sutilmente. Ela é meu vicio. Não vejo essa atração poderosa entre nós arrefecendo tão cedo.

-Lilia só vai pousar dentro de duas horas, devido a um atraso no aeroporto de Manaus. – sussurro, meu tom e olhar cheios de segundas intenções. Combinamos de jantar com minha irmã após o batismo. – Você quer conhecer meu escritório, lá em cima? Podemos nos divertir um pouco.

Ela ri, toda sensual e lambe os lábios com provocação clara.

- Talvez... – finge ponderar sobre o assunto. – sempre tive curiosidades sobre os aeroportos. Você vai me dar um aula, ou algo assim, senhora CEO da aviação?

Porra. Eu mordo seu lábio inferior com um pouco de pressão, pouco me importando com quem está vendo. Ela me enlouquece. – Você é
A única que vai dar lá em cima, menina. – Beijo a ponta do seu narizinho atrevido.

Meu olhar sobe e encontro Verônica na ponta direita, perto de seu pai. Eles chegaram de Buenos Aires na semana passada e fizeram questão de comparecer hoje. Estou em reuniões com Javier sobre os rumos da nossa parceria, e ela está apenas acompanhando-o como sempre fez na falta de ter algo para se ocupar, como um trabalho, por exemplo. Sorri, os olhos castanhos bem maquiados segurando os meus, os lábios vermelhos curvando numa promessa silenciosa e sedutora. Inclino o queixo levemente em sua direção, voltando minha atenção para os meus novos bebés.


A Dívida - Clarena ( Adaptação)Onde histórias criam vida. Descubra agora