Helena
Clara vem para meu lado, enfiando o braço no meu. Seu corpo está tenso, posso sentir.
- Não interrompe nada, querida. – Verónica abre um de seus sorrisos de socialite artificial. Como tem passado, Clara ?
-Muito bem, e a senhora? – Clara responde e eu quero sorrir com a carranca tomando o rosto de Verônica.
- Estou muito bem. Vou ficar uma temporada por aqui e talvez possamos estreitar um pouco os laços. – diz em uma voz jovial, alegre, como se realmente quisesse fazer uma nova amiga. – O que acha de almoçarmos juntas qualquer dia desses, queridinha? – Sinto mais tensão exalando de Clara .
- Claro, por que não? – a voz doce de Clara me faz franzir as sobrancelhas, encarando-a. – Seja bem-vinda em meu país, senhora. – Frisa bem o termo e as narinas de Verônica tremulam outra vez.
Certo. Essa conversa não é nada amigável em tudo. Uma está provocando a outra. Clara vira o rosto para o meu.
- Noah quer discutir algo com você amor. – diz com uma expressão guardada que não consigo identificar. Eu gostaria de falar algo com... Verônica, não é? – ela diz com o rosto impassível.
-Sim, Verônica, a outra diz com leve desgosto.
- Vá, Helena , Noah está esperando. – Clara insiste.
Não demore. – digo e me movo para Noah, mesmo achando a sua postura muito estranha.Não vou – garante com um breve sorriso e sua atenção é levada para Verônica, que tem uma ruga no meio da testa, provavelmente curiosa também.
Clara
Helena se afasta e meu olhar vai para a piranha classuda na minha frente. Ela a olha, devorando-a sem qualquer cerimônia enquanto se distancia. Meu corpo todo está tremendo, cheio de adrenalina, raiva, ciúme. A mulher não tem o menor de coro, ficou dando em cima dela sem se importar de estar em público. Sem se importar de eu estar vendo tudo. Cadela. Aperto a taça de champanhe reabastecida entre meus dedos. Não esqueci da forma arrogante e desleal com que me perseguiu e encurralou naquele banheiro na Grécia. Ela me machucou. De repente, a represa está transbordando dentro de mim, o conselho que Helena me deu na noite em que a vaca da minha meia-irmă me agrediu vindo com tudo em minha mente.
“Se alguém lhe bate, você devolve a bofetada, mais forte.”
Pare de ser patética, Clara . Pare de deixar todo mundo se dar bem em cima de você, sua tola. Repito para mim mesma. Ela volta a me encarar e toda a simpatia que usou na presença de Helena evapora. Seu rosto bonito fica feio pela expressão de ódio tomando-a.
- O que você quer, sua ratinha? – zomba friamente. – Quer outra contusão? Será que não apertei com força suficiente em nosso último encontro?
Sinto medo, tenho que admitir. Ela é mais corpulenta. Porém, minha raiva e ciúme estão me dando força para enfrentá-la. Tamanho não é motivo para ser covarde, que o diga o ao emblemático Davi, não é? Eu fico de costas para o grupo, evitando que alguém veja o que estou prestes a fazer.- Que tal isso, sua piranha? – digo, minha voz um pouco trêmula pela adrenalina.
Estou apreciando parar de ser tola e me defender ao menos uma vez, então eu faço algo que nunca julguei que faria na minha vida. Jogo todo o conteúdo da taça em sua cara esnobe de vadia. Ela ofega, os olhos arregalando em choque.
- Eu ouvi a forma patética com que mendigou a atenção de uma mulher casada. Você não passa de uma prostituta.
- O quê?! Sua, sua... – passa as mãos pelo rosto e em boa parte do cabelo encharcado pela bebida. Parece tão incrédula que tive coragem para peitá-la, que não consegue dizer mais nada.