28 • Sinal verde

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"Quando de noite ele me chamar para a atração do inferno, irei. Desço como um gato pelos telhados. Ninguém sabe, ninguém vê."

Clarice Lispector

Igor ia e vinha em todos os sentidos possíveis

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Igor ia e vinha em todos os sentidos possíveis. Fosse em seus modos errantes de ora me possuir (sem a menor intenção de parar enquanto a bateria não acabasse) ora correr atrás de suas loiras ou na alternância entre falas provocativas e reconfortantes, o sr. Asimov era inconstante.

Com ele, a única segurança era a insegurança. Dava para confiar na falta de compromisso. Consistência não era mesmo o seu forte, principalmente no jeito de lidar comigo. Quando queria me comer, um anjo. Quando não, o mesmo babaca de sempre.

Mesmo sacando seu estilo "dois pesos, duas medidas", baseado nas suas segundas intenções, eu o absolvia do crime de ser um galinha descarado. Eu passava pano para sua conduta pelo mesmo motivo que ele voltava para mim depois de se aventurar com outras.

Algo de mágico acontecia quando estávamos juntos.

Tarde da noite, alguém bateu à minha porta e atrapalhou minha sessão de filmes

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Tarde da noite, alguém bateu à minha porta e atrapalhou minha sessão de filmes. Adivinhei quem era antes mesmo de me levantar. Nas redondezas, havia apenas uma pessoa inconveniente o suficiente para me incomodar àquela hora.

— Olá, vizinha — cumprimentou-me quando abri a porta. — Poderia me emprestar um pouco de açúcar? — Ergueu sua xícara, comprometido com o teatrinho.

— Fala sério! — Bufei, estressada. Não estava com paciência para suas gracinhas. — O que você quer?

— Açúcar — insistiu naquele roteiro ridículo. — Queria bater um bolo pra minha sócia, ela é tão boa. — Fitou-me com seus olhos cintilantes e deu um meio sorriso.

Resolveu puxar meu saco? Nesse mato tem cachorro. E, pelo andar da carruagem, eu sou a cachorra da história.

— Entre, vá! — Abri passagem para ele.

Com seu roupão de cetim, contrastando com minha simples peça de flanela, e xícara na mão, parecia um lorde inglês se preparando para beber o chá das quatro. Com sua expressão maliciosa, mantendo seu olhar afiado sobre mim, dava para ver que ele queria que eu providenciasse o chá de quatro.

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