7 • Aeroporto

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"Foi por medo de avião
Que eu segurei pela primeira vez a tua mão
Um gole de conhaque, aquele toque em teu cetim
Que coisa adolescente, James Dean"

Belchior – Medo de avião

A primeira viagem foi a pior de todas

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A primeira viagem foi a pior de todas. Concluí isso sem nem precisar experimentar as demais.

O jatinho da família Lopes contava com pouquíssimos assentos, garantindo o espaço livre necessário para esparramar as pernas e aguardar servirem o champanhe. Havia quatro poltronas individuais — ocupadas pelos assistentes e assessores, agentes do caos responsáveis por limitar nossas opções — e dois assentos adjacentes, como os convencionais de aviões maiores.

Odiava andar de avião, principalmente sem a disponibilidade de uma mão amiga para me tranquilizar. Sempre havia meus pais ou meus amigos, ou ao menos alguém que não me odiasse com todas as forças.

O medo de avião não era de hoje. Antigo como o próprio tempo, apenas crescera ao longo da minha infância com os incontáveis filmes de terror a bordo — com serpentes caindo do teto ou pilotos sumindo — e o acidente com um Boeing 737 em 2006, matando 154 pessoas em pleno Brasilzão, também não ajudou. Meio de transporte seguro é a cabeça da minha pica.

Quando viajava com os Fabulosos, as pílulas azul e vermelha viravam nossas opções: ou iríamos de carro, numa road trip forçada, ou alguém ficaria encarregado de acalmar o medroso da vez.

Os caras zoavam bastante, sempre pegavam no meu pé por ser "frio e calculista", mas não encarar um voo sem me acovardar. Ainda assim, nunca me negavam ajuda na hora do sufoco.

Não acreditava em Destino, forças superiores ou coisas do tipo, entretanto, o acaso me concedera a sorte de possuir pessoas maravilhosas em minha vida e poder chamá-los de amigos. Ou melhor, irmãos.

O Dubois, que nunca sentiu vergonha de segurar a mão de outro homem nem caçoava do meu medo, sempre se prontificava a me acudir. Até em voos comerciais, cheios de gente preconceituosa e olhares atravessados, ficávamos de mãos dadas. E eu podia contar com a criatura mais dramática do planeta para compreender meu drama.

Agora eu estava ali, entrando em pane — como o jatinho faria antes mesmo de sair do chão, segundo a confiável fonte do Pânico nas Alturas — e por minha própria conta. Um homem feito, de 1,85 metro de altura, quase se encolhendo numa poltrona de tanto receio. Esta era a extensão do pavor.

O frio na barriga era real e agonizante. As piores partes, decolar e aterrissar, ganhavam novas dimensões diante da perspectiva de encarar aquilo sozinho. Ninguém dali me acudiria, sequer tinham intimidade suficiente para conhecer meus medos.

Meu perfil de lobo solitário atingiu-me como um tiro no pé. Agora teria de ficar ao lado de Amanda, me revirando em agonia até o avião se estabilizar lá no alto. Entregaria de bandeja altas doses de vergonha, para deleite dela. E seria assim a cada partida e chegada...

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