"Eros estava sempre com eles, malicioso e persistente; o jogo para o qual os arrastava era cheio de fascinação e de risco. Achavam delicioso perseguirem-se, perderem-se e acharem-se."
Giuseppe Tomasi di Lampedusa
O jantar não estava tedioso. Um milagre.
Não, não era um milagre. Tratava-se de preciosas horas perdidas. Fora uma vitória saborosa do nosso trabalho em conjunto. Tínhamos estendido a viagem justamente para isto: convencer os otários que nos rejeitaram a rever, com bons olhos, nossas propostas.
Agora desfrutávamos do nosso sucesso.
Extremamente satisfeito, havia esquecido até a bebida em meu copo — à essa altura, quente e ruim como o diabo. A diversão da noite não vinha do sabor do álcool. Ela emanava da leveza de Amanda.
Reparar o problemão — que a muito custo me forcei a reduzir à probleminha para evitar desesperá-la — trouxe um alívio sem igual. Da minha parte, eu não pararia a celebração enquanto a noite não terminasse. A depender das companhias, comemoraria até o dia raiar.
O tempo voou. Tornei a me surpreender com o quão rápido e agradável o evento correra. Mal começara e já havia terminado. Agora estava do lado de fora do restaurante, ao lado de Amanda, esperando pelo nosso carro.
— Acabou cedo, né? — puxei assunto, enfiando as mãos nos bolsos da calça para disfarçar a agonia da espera. Eu me coçava para dirigir-me a uma certa casa noturna e não acabar a noite às 21h30 por conta do término do jantar.
— A percepção do tempo é bastante relativa — informou ela, desinteressada no lance de conversa fiada. — Não passou tão rápido para mim, se quer saber.
Balancei a cabeça, indicando compreensão. Mesmo bem-humorada, ela parecia indisposta, sem saco para dar uma chacoalhada no esqueleto.
Quando o carro chegou, entramos nele em silêncio. Ela, de fato, não abria espaço para assuntos banais. Retornara à postura rabugenta de sempre. A despeito disso, por uma ideia fugaz maluca, resolvi propor uma fuga do tédio.
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Destino MotoCiclista
Romance+18 | Completo | Há quem acredite em providência divina, propósitos ocultos. Igor Asimov não é uma dessas pessoas. Para ele, as certezas alheias não passam de ilusão e a vida é um grande palco de improviso, com algumas coincidências vez ou outra. Ma...