"Quem gosta de orgia
De noite pro dia não pode mudar"Zeca Pagodinho – Vai vadiar
— Quase dois meses. Dois, Igor. Dois! — vociferou meu pai. — Quer matar sua mãe de desgosto? Faz ideia do quão difícil tá sendo pra ela?
Recebi o esporro em silêncio, eu merecia. Depois daquele vacilo, todo castigo para mim era pouco.
Fui eu quem havia deixado as mulheres filmarem e me recusei a pagar a pequena fortuna exigida por elas. Fui eu quem as subestimou.
É só uma tentativa de extorsão, elas jogaram o verde. Não tem por que vazar uma porra dessas. Assim eu pensei até a merda atingir o ventilador e sobrar para os meus pais, para a empresa como um todo.
Quando menos esperei, estava eu lá, disseminado pela internet, no vídeo de uma orgia em plena sala de reuniões da Asimov Tecnologia.
Suruba (ainda por cima gravada) no ambiente de trabalho: uma péssima ideia concretizada depois do enésimo copo de whisky. Em um piscar de olhos, tornou-se um escândalo.
Eu podia ter tirado do ar? Poder, até podia. Afinal, tecnologia da informação era meu ramo e meus pais não investiram tanto na minha educação à toa. Hackear a conta que postou o vídeo seria o de menos. Mas só taparia o sol com a peneira.
Se duvidasse, para cada vídeo derrubado, apareceriam centenas de outros. Surgiriam até almas penadas com backup da gravação, repostando até dizer chega.
As pessoas gostavam de putaria rala. Virei capa de revista, assunto de blog de fofoca, de youtubers e críticos da sétima arte — com direito a trending topics, viral e outras postagens (tanto condenatórias quanto de apoio).
Ganhei milhares de seguidores em todas as minhas redes sociais, a ponto de atingir a casa dos milhões. Recebia perguntas íntimas, pedidos para dar dicas de como ser um alfa, convites para eventos privados e directs de sedentos de todos os gêneros.
Para eles, quanto mais podre, melhor (maior a empolgação). Já meus pais...
Foi um baque enorme. Estar sob os holofotes pelas razões erradas bagunçou a vida deles e trouxe-os para o meu mundo particular — um lugar de perdição e maus costumes.
— Essas pragas ainda ficam cercando nossa casa e nos seguindo vez ou outra. — Bateu no tampo da mesa, descontando a raiva nela. — Já esteve pior, claro. Mesmo assim, isso não é jeito de se viver. Na nossa idade, não deveríamos ter de passar por esse estresse.
— Eu sei, pai, eu sei — anui, alheio, fitando a janela.
— Olhe, garoto, eu não poderia ligar menos pra sua vida pessoal. Não me importo que você estoure o cartão corporativo com puta e cachaça. É escolha sua. Você trabalhou pra isso, merece cada centavo da parte que te cabe e pode gastar com o que quiser.
"Minha real preocupação é arrastar na lama nosso nome e credibilidade por conta de suas ideias de jerico. Isso eu não tolero, nem tolerarei.
"E já que seus amigos paparazzi não colaboram, nem nos deixam em paz, você nos fará o favor de arrumar as malas, sair daqui e encontrar um lugar pra ficar enquanto a poeira não abaixa."
Se é que vai abaixar... Supus que esse também tenha sido seu pensamento naquele instante.
— Pode ser hotel, casa de seus amigos, barraca de camping, um bueiro... que seja!
"Você tem 24 horas pra se mudar e sumir da nossa vista. Aqui você não pisa de novo antes de limpar sua bagunça.
"E digo mais: trate de se ajeitar o mais rápido possível, porque sua mãe e eu viajaremos pra comemorar as bodas e não quero saber de mais dores de cabeça. Muito menos de negócios. Já te avisei, se lembra?
"Esta segunda é você quem nos representará na reunião de fechamento de contrato com nossa mais nova empresa parceira. Então, juízo!"
O senhor Bóris Asimov — meu pai, amigo e colega de trabalho — acabara de me dar um ultimato. Também! Pisei na bola feio. Agora arcaria com as consequências.
Juízo.
Tá certo. Juízo terá.
Depois do sermão, juntei minhas roupas, encaixotei meus itens indispensáveis, fretei um caminhão de mudanças. Com uma ligação, entrei em contato com Vacchiano, meu amigo versado nesse processo de mudança e no funcionamento de condomínios.
Ele me arranjou um lugar tranquilo e remoto. Distante do movimento da metrópole e, consequentemente, dos bisbilhoteiros da mídia. Garantiu-me a qualidade do local e encontrou uma locadora disposta a entregar o apartamento de imediato.
Ao final do arranjo, Vacchiano tirou sarro de minha pessoa, dizendo que o Destino havia sorrido para mim. Ele sabia que eu não acreditava em destino ou qualquer força maior. Fora um golpe de sorte ter a faca e o queijo na mão. Poder do acaso.
"A Fortuna favorece os fortes", já dizia o provérbio. E eu sou forte o suficiente para garantir que não me derrubem por nada. Subi em minha moto com essa determinação me blindando e dei partida, buscando alcançar novos horizontes.
Olá, amores 🖤
Tutupom?Mais uma história no forninho, esperando crescer. Se tiver gostado, não se esqueça de colocar na biblioteca e seguir a autora pra acompanhar as atualizações. Comentários e votos ajudam muito a melhorar a história, então, se puderem, façam 🌈
Gratidão desde já ✨
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Destino MotoCiclista
Romance+18 | Completo | Há quem acredite em providência divina, propósitos ocultos. Igor Asimov não é uma dessas pessoas. Para ele, as certezas alheias não passam de ilusão e a vida é um grande palco de improviso, com algumas coincidências vez ou outra. Ma...