"É um homem sábio o que conhece a seu próprio filho."
William Shakespeare
Apesar da parceria entre as empresas, não conhecia Bóris Asimov pessoalmente — nem sua esposa, Maitê. Aquela seria uma experiência à parte em todos os sentidos, especialmente porque Igor se arriscou ao me apresentar apenas pelo primeiro nome.
Pela própria conta e risco, ele excluiu a influência de toda a parte da relação comercial que nos unira em primeiro lugar. Segundo ele, seus pais deveriam gostar de mim por quem eu era. Não deviam ceder à tentação de me bajular por conta do meu cargo ou em nome de manter o bom relacionamento com o sr. Lopes.
Dito isso, quase desisti daquele encontro, tamanho fora meu nervosismo. Experiências inéditas, ainda mais com um peso simbólico tão alto, tendiam a influenciar relacionamentos. E eu não queria começar com o pé esquerdo.
Nunca havia sido apresentada formalmente aos pais de ninguém. Os poucos namorados que tive sempre foram grandessíssimos babacas ou mesmo exibiam uma franca vergonha de mim. Além do mais, ninguém queria apresentar uma mulher contestadora para a família de bem.
Alguém como eu sempre fazia feio.
Os Asimov, a princípio, me odiaram. O pai dele, em especial, agira como se eu fosse uma das companheiras casuais do filho. E não seria eu quem quebraria o decoro somente para dizer: "Não, meu senhor, não sou uma profissional do sexo."
Aquilo só me lembrou do quão absurdo era confiar em alguém cujo pai assumira a possibilidade de ele realmente ter trazido uma garota de programa para a própria casa e feito-a se passar por sua oficial. Eu tinha mesmo aceitado me envolver com aquele homem? O tamanho da enrascada...
Então, de súbito, me veio a iluminação e recordei de um ponto importante: meu cabelo natural estava descolorido, não eram só as extensões. A loira de farmácia em carne e osso. Se bobeasse, era capaz de eu ser a responsável pela confusão, de ser apenas um caso de julgamento baseado nas preferências do filho.
Senti minha parcela de culpa como se fosse um beliscão no braço. Meu braço, entretanto, nada tinha além da mão de Igor — que não me soltara um segundo sequer. Que apertava com ternura, e me trazia para mais perto, à cada insinuação acerca da minha profissão.
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Destino MotoCiclista
Romantik+18 | Completo | Há quem acredite em providência divina, propósitos ocultos. Igor Asimov não é uma dessas pessoas. Para ele, as certezas alheias não passam de ilusão e a vida é um grande palco de improviso, com algumas coincidências vez ou outra. Ma...