"De que serve afligir-se em meio de terrores, se o homem vive à lei do acaso, e se nada pode prever ou pressentir! O mais acertado é abandonar-se ao destino."
Sófocles
Nem a praia abrandou o fiasco da última reunião. Ouvir as palavras "no momento, não temos disponibilidade para nos dedicar ao projeto", da parte dos representantes por quem nos deslocamos centenas de quilômetros para encontrar, me destroçou.
Justamente de uma das parceiras de longa data! Fornecíamos substrato tecnológico daquela empresa de eletrodomésticos em específico há quase 20 anos. Havia toda uma história de união e troca por trás de nossa relação e eles tiveram a pachorra de manifestar desinteresse só agora?
Parecia uma grande piada, na qual eu era o objeto da mangação.
Detestava fazer papel de trouxa (já tivera minha cota de ilusão para umas dez vidas). Agora me aprontaram mais essa. Demonstraram interesse por séculos e, em cima da hora, dão pra trás? Isso existe? Posso com isso?
Desta vez, o desapontamento não fora o bastante, viera acompanhado dos agravantes. Eu nem sequer consegui reverter o quadro. Eu havia sido patética em minhas negociações. Pedi para conversar melhor, insisti em apresentar os benefícios, apelei para a amizade com o senhor meu pai, por pouco não implorei. Deu em nada.
Precisava acontecer em plena viagem? Tinha de ser na frente dele?
Tudo bem, Igor não me condenaria por isso. Àquela altura, eu o conhecia o suficiente para saber que ele gostava de atacar minhas fraquezas a nível pessoal e não no âmbito profissional.
O problema residia no outro sr. Asimov. Duvidava que ele seria tão compreensivo com uma perda daquelas — com algo que, em teoria, era um negócio garantido. Perdia o juízo só de pensar em como transmitir a notícia. "Olha, senhor Asimov, tenho uma coisa pra te contar: perdemo."
Fiasco atrás de fiasco.
Talvez, conversando com painho — uma alma mais carismática que eu —, desse para resolver a situação ou ao menos diminuir o impacto do tombo.
O simples pensamento de recorrer ao sr. Francisco Lopes, para resolver um assunto desses, me deu calafrios. Receava me tornar a filha incompetente que corre para os braços do papai rico ao encontrar uma mínima dificuldade. Mas também estava exausta.
Exausta por não ter alcançado a excelência que tanto cobrava de mim mesma. Excelência que eu sabia ser capaz de alcançar. Inacessível naquele momento de necessidade.
Tanto empenho desperdiçado! Nadei, nadei, morri na praia... Literalmente.
Nem tirara o terno antes de me largar numa espreguiçadeira e arremessar os saltos na areia. Queria apenas esvaziar a mente. Deitei, fechei os olhos, ouvi o barulho das ondas arrebentando no mar, tentei focar nelas e esquecer dos meus problemas... em vão.
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Destino MotoCiclista
Romance+18 | Completo | Há quem acredite em providência divina, propósitos ocultos. Igor Asimov não é uma dessas pessoas. Para ele, as certezas alheias não passam de ilusão e a vida é um grande palco de improviso, com algumas coincidências vez ou outra. Ma...