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"A paixão é como uma tempestade que varre tudo pelo caminho, deixando apenas a verdade nua e crua."

Haruki Murakami

Cheguei cedo demais no Risca Faca, logo percebi

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Cheguei cedo demais no Risca Faca, logo percebi. A música eletrônica ambiente num volume baixo e o movimento quase inexistente denunciaram o quanto me precipitei. Subi à área VIP, onde Igor me instruíra a esperá-lo, e me deparei com o mesmo clima de início de festa.

Dois gatos pingados acomodavam-se ao balcão e faziam seus pedidos enquanto o resto das pessoas presentes, os funcionários, na correria, terminavam os ajustes finais para a casa noturna funcionar a todo vapor. Nenhum movimento para se tomar nota, muito menos alguma fonte de distração.

Sem muitas opções, decidi unir-me aos adiantados do rolê e dirigi-me ao bar para molhar o bico enquanto esperava por Igor e seus queridos amigos — os temíveis amigos. Algo me dizia que eu precisaria estar no mínimo altíssima para aturá-los.

Provavelmente tratava-se de uma trupe de heterossexuais padrõezinhos, um exército de clones — talvez iguais a ele —, com um comportamento de manada que deixaria um gosto ruim na minha boca. Enfrentá-los sem uma ajudinha externa não me parecia sensato.

Eu tinha um mau pressentimento sobre uma apresentação informal com uma aura tão formal. A certeza de que detestaria cada um dos cidadãos exemplares, coligados do sr. Asimov, perseguia-me independentemente das minhas tentativas de cultivar pensamentos positivos. Assombrava-me a simples antecipação de precisar fingir simpatia para não estragar a noite.

Nesse estado de espírito, recorri a algo familiar para me acalmar (ou ao menos trazer uma dose de distração). Pedi um bourbon para me embriagar com o gosto da única boca que eu desejava beijar naquele instante (noutros tantos também).

Nesse meio tempo, enquanto aguardava a bebida, alguém se sentou ao meu lado. Era um homem do tipo sedutor da internet, cujas fotos seriam facilmente apropriadas por algum golpista do outro lado do mundo na hora de fazer um perfil fake e saquear desavisadas sedentas.

— Ser pontual tem suas desvantagens, não é mesmo? — comentou ele, puxando assunto de forma amigável.

— Nem me fale — retruquei, ajeitando a postura para recepcionar meu copo de bourbon que acabava de chegar.

Dei a primeira golada no drink. Assim, instalei um silêncio maciço e desconfortável. Mas não tão desconfortante quanto a frase responsável por sua quebra.

— Você vem sempre aqui? — verbalizou a pergunta mais batida que tapete velho em dia de faxina como se fosse uma ideia brilhante, uma ótima maneira de puxar assunto com uma desconhecida numa boate com o movimento parado.

Quer que eu responda "só quando você aparece, gato"? Ah, me poupe! Se poupe! Nos poupe!

— É minha segunda vez. — Optei pela sinceridade e educação. De nada valeria me estressar àquela altura, antes mesmo de lidar com o bonde de Igor. Enquanto pudesse e conseguisse, preservaria minha paz.

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