29 • Cruzamento de vias

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"Uma mulher como você e um homem como eu não se esbarram muitas vezes na face da terra."

Joseph Conrad

Coloquei um pornô no volume mais alto, esperando sua ilustre aparição para reclamar da minha conduta

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Coloquei um pornô no volume mais alto, esperando sua ilustre aparição para reclamar da minha conduta. Dito e certo: ela bateu na minha porta (quase a derrubando, de tão fortes as batidas) e eu a recepcionei, com a televisão latindo atrás de mim.

— Pois não? — Atendi à porta, completamente vestido, para seu espanto.

— Sério, Igor? — Amanda bufou. — Se manca, velho.

— Um homem não pode se divertir com entretenimento adulto? — retorqui, satisfeito por ter alcançado meu objetivo. Ela atendera ao meu chamado e estava puta. Combinação perfeita para me atiçar.

— Tô cansada — resmungou. — Desligue essa merda, faça o favor.

Ela me deu as costas para ir embora, confiando em meu bom senso para abandonar o filme. Segurei seu braço para evitar sua partida.

— Quer entrar? — convidei-a. — Desta vez, tem bolo de verdade. Não tá muito gostoso, mas dá pra comer.

— Tipo você? — ela rebateu.

Não levei a ofensa a sério, sabia que ela só queria me atazanar porque perturbei sua paz.

— Aceitarei a oferta — decretou ela, após ponderar. — A fome falou mais alto — justificou-se, fitando-me com um olhar nada inocente.

A fome de piroca, só se for. Devolvi a olhadela, com as piores intenções possíveis, enquanto ela entrava no apartamento e passava por mim. Abençoada seja a hora em que decidi "invocar" essa mulher, agradeci mentalmente.

Como um bom anfitrião, servi os brownies de qualidade questionável — que eu fizera de acordo com um tutorial de internet mais duvidoso ainda — e aguardei o feedback.

— Hum — boquejou após a primeira mordida. — Dá pro gasto — deu o veredito e continuou a comer, como se estivesse degustando algo saboroso em vez do brownie mais insosso do mundo.

— É sempre um prazer te agradar — afirmei, saboreando o duplo sentido. — Aceita um chá?

— Obra sua também? — Arqueou a sobrancelha, interessada em meus dotes culinários (inexistentes).

— Obra da indústria. — Apontei para os sachês sobre a mesa de canto. — Caso não queira uma bebida quente, tem suco da Embasa à vontade.

— Ficarei com a água, então — disse ela. Aguardou-me enquanto fui à cozinha. — Obrigada. — Segurou o copo que a entreguei. — A que devo tanta hospitalidade?

— Você é uma convidada de honra — atestei, lisonjeiro. Não costumava empenhar tanta dedicação para comer uma só mulher, mas Amanda valia o esforço. Aliás, qualquer esforço seria pouco em comparação à qualidade da recompensa.

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