"Uma mulher como você e um homem como eu não se esbarram muitas vezes na face da terra."
Joseph Conrad
Coloquei um pornô no volume mais alto, esperando sua ilustre aparição para reclamar da minha conduta. Dito e certo: ela bateu na minha porta (quase a derrubando, de tão fortes as batidas) e eu a recepcionei, com a televisão latindo atrás de mim.
— Pois não? — Atendi à porta, completamente vestido, para seu espanto.
— Sério, Igor? — Amanda bufou. — Se manca, velho.
— Um homem não pode se divertir com entretenimento adulto? — retorqui, satisfeito por ter alcançado meu objetivo. Ela atendera ao meu chamado e estava puta. Combinação perfeita para me atiçar.
— Tô cansada — resmungou. — Desligue essa merda, faça o favor.
Ela me deu as costas para ir embora, confiando em meu bom senso para abandonar o filme. Segurei seu braço para evitar sua partida.
— Quer entrar? — convidei-a. — Desta vez, tem bolo de verdade. Não tá muito gostoso, mas dá pra comer.
— Tipo você? — ela rebateu.
Não levei a ofensa a sério, sabia que ela só queria me atazanar porque perturbei sua paz.
— Aceitarei a oferta — decretou ela, após ponderar. — A fome falou mais alto — justificou-se, fitando-me com um olhar nada inocente.
A fome de piroca, só se for. Devolvi a olhadela, com as piores intenções possíveis, enquanto ela entrava no apartamento e passava por mim. Abençoada seja a hora em que decidi "invocar" essa mulher, agradeci mentalmente.
Como um bom anfitrião, servi os brownies de qualidade questionável — que eu fizera de acordo com um tutorial de internet mais duvidoso ainda — e aguardei o feedback.
— Hum — boquejou após a primeira mordida. — Dá pro gasto — deu o veredito e continuou a comer, como se estivesse degustando algo saboroso em vez do brownie mais insosso do mundo.
— É sempre um prazer te agradar — afirmei, saboreando o duplo sentido. — Aceita um chá?
— Obra sua também? — Arqueou a sobrancelha, interessada em meus dotes culinários (inexistentes).
— Obra da indústria. — Apontei para os sachês sobre a mesa de canto. — Caso não queira uma bebida quente, tem suco da Embasa à vontade.
— Ficarei com a água, então — disse ela. Aguardou-me enquanto fui à cozinha. — Obrigada. — Segurou o copo que a entreguei. — A que devo tanta hospitalidade?
— Você é uma convidada de honra — atestei, lisonjeiro. Não costumava empenhar tanta dedicação para comer uma só mulher, mas Amanda valia o esforço. Aliás, qualquer esforço seria pouco em comparação à qualidade da recompensa.
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Destino MotoCiclista
Romance+18 | Completo | Há quem acredite em providência divina, propósitos ocultos. Igor Asimov não é uma dessas pessoas. Para ele, as certezas alheias não passam de ilusão e a vida é um grande palco de improviso, com algumas coincidências vez ou outra. Ma...