"Não há paixão mais egoísta do que a luxúria."
Marquês de Sade
A "hora espartana" era um dos eventos sagrados para os Cinco Fabulosos. Para esse evento sair, marcávamos de nos encontrar na academia para desenrolar o treino dos brothers.
Era mais um momento de descontração do que de exercício. Jogávamos conversa fora entre (ou durante) as séries e ajudávamos um ao outro com os pesos e motivação inconvencional (com xingamentos à moda da casa).
No encontro da semana, no dia seguinte aos Cinquenta tons de Amanda, tive um problema. Nenhuma camisa com mangas disponível e trocentos arranhões nas costas compunham a pior combinação para o momento, tinham um péssimo potencial.
Vesti uma regata e suspirei. Pressenti os comentários vindo antes mesmo de sair do apartamento.
Chegando lá, dito e certo, o mais engraçadinho logo se pronunciou, faceiro.
— Ih, que foi isso, Asimov? — Takahashi, nada escandaloso, questionou do seu jeito típico, um pouco invasivo, puxando as alças da minha regata para examinar de perto.
Yudi sabia muito bem a resposta das besteiras que perguntava, mas adorava perguntar de qualquer forma.
— Foi você quem pediu ou rejeitaram teu cartão de crédito na casa das primas? — Dubois aproveitou a brecha para me afrontar.
Para o azar dele, apesar do inconveniente, eu estava no melhor dos humores. Havia sido arranhado por pura expressão dos violentos prazeres de meter na mulher mais gostosa que já pisou na Terra.
— Na verdade, foi a tua irmã — revidei, com uma calma invejável —, aquela vagabunda.
O mais cômico dessa minha ofensa gratuita era o fato de Sophie Dubois ser um anjo em forma de gente e, além disso, uma freira. Estava num convento a centenas de quilômetros dali, rezando pelas nossas almas — como sempre dizia. No entanto, se ofendia meu chorão favorito, já me contentava em envolver a irmã de Jean na baixaria.
— Ei, pega leve! Daqui a pouco cê faz o cara chorar em público e dá merda — alertou Hoffmann.
— Chora não, bebê — pedi, correndo para abraçar o Dubois antes de a desgraça acontecer.
— Muito engraçado, cuzão — reclamou ele, com a voz embargada, aceitando o abraço. Jeanzinho quase começara a chorar mesmo.
— Deixe de besteira. Sophie vai virar santa qualquer dia. Desencane, vá! Foi só pra calar essa tua boca de caçapa — esclareci.
Jean anuiu e melhorou sua expressão chorosa.
— Caso queira saber, não esvazio a carteira em um cabaré faz tempo — deixei a informação escapar. Descuidei-me do alvoroço que isso causaria.
— Claro que cê não esvazia em um — intrometeu-se Takahashi. — Precisa é de um monte pra dar conta desse fogo no rabo. Cada uma!
— O Ligado no 220 tem um ponto. Depois de tantos anos, é difícil de acreditar que cê anda nesse pique sem desembolsar nada — argumentou Hoffmann. — É impossível, pra ser sincero.
— Quem foram as belezuras responsáveis pelo estrago? — Dubois quis saber, de ânimo recobrado. Decerto interessado em um programa de indicação para beneficiar os amigos carentes.
— Não interessa — cortei as asinhas deles. — Quem come quieto, come mais, já diria a sabedoria popular — comentei, casual.
Nem em sonho iria expor meu pote de outro, principalmente depois de tanto lamento à custa dela. Eu teria de admitir a quebra de determinação e aturar a curiosidade de um rebanho de marmanjo pedindo detalhes que não estava disposto a dar. Amanda continuava sendo problema meu. Só meu.
— Vai ser assim, então? — Dubois me confrontou, ofendido pela suposta falta de confiança nele. Assenti com um gesto de cabeça. — Pois bem, que se foda! — irritou-se e se concentrou no exercício, antes interrompido para me aporrinhar, ignorando-me.
Suas ações não me surpreenderam. Eu antecipara aquela reação da parte dele desde o declínio do nível da conversa. Jean era meu melhor amigo e se sentia traído.
Guardar segredo não fazia parte do vocabulário de alguém tão aberto e franco quanto ele. Contudo, segredos existiam no meu dicionário, especialmente quando a ocasião fazia o ladrão. Não abriria mão dos meus esquemas. Nem pela seriedade intimidadora do homem que se aproximava de nós.
— O que eu perdi? — perguntou Vacchiano. Chegara atrasado e visivelmente morto de cansaço antes mesmo de começar a treinar. Havia uma distinta confusão no verde dos seus olhos, que não compreendiam por que os outros se indispuseram comigo.
— Nada de mais. Só uns B.O. aí — adiantou-se Takahashi. — O que importa mesmo é o que você ganhou. Parece tão cansado, Capitão. O que anda aprontando? — Yudi atacou novamente.
— Ele trabalha o dia inteiro ao contrário de vocês. — Hoffmann partiu em defesa do seu consorte.
O bromance entre eles fugia à minha compreensão. Tá pra nascer um homem que é terrivelmente apaixonado tanto pela irmã do amigo quanto pelo amigo. Ou mais ainda pelo cara.
Isso sempre me fascinava. Fazia parte de quem éramos como amigos, do nosso pacto de não ficar pensando no que é adequado ou não, de simplesmente vivermos nossas vidas.
— Percebe-se — rebateu Yudi. — Dando no couro que é uma beleza! — Encontrou em Vacchiano outro objeto de importunação.
Meu porteiro, sempre com poucas ideias, tirou o cavalinho dele da chuva do mesmo modo que eu: à base do Néda.
— Né da sua conta — proferiu Vacchiano, com uma compostura superior à minha. — Me respeite que eu sou um senhor casado — complementou, com um sorriso de triunfo.
— Ah, pronto, chegou o outro comedor. Vá, Vacchiano, esfregue na nossa cara o quão afortunado você é! — Dubois estressou-se. — Você sabe da seca que assola esse círculo de amizade há semanas e fica nessa? É pesado, irmão — lamentou-se. — O rei da DST é outro...
— Rei? — apressei em defender minha honra. — Apelido bosta esse, hein? Preciso repetir todo dia, é? Foi só uma vez. Hoje em dia, eu tomo cuidado — com exceção de uma certa loira. — Quer checar meus exames, ô pouca foda? — devolvi a ofensa.
— Tanto faz — retrucou Dubois, amigável. — O que importa é que nenhum dos dois deveria opinar em nada. — Revoltou-se de vez.
Com essa deixa, eu me abstive de maiores comentários. Não me incomodava com o silêncio. Ao menos não quando o silêncio se dava fora da cama.
Hoje quase que não saía, mas saiu na força do sangue nuzói (e umas 2 colheres de fé) 🙏🏽
Se tiver gostando, não se esqueça de votar e comentar pra ajudar a autora (✿◠‿◠)
Beijos mil! ✨
VOCÊ ESTÁ LENDO
Destino MotoCiclista
Lãng mạn+18 | Completo | Há quem acredite em providência divina, propósitos ocultos. Igor Asimov não é uma dessas pessoas. Para ele, as certezas alheias não passam de ilusão e a vida é um grande palco de improviso, com algumas coincidências vez ou outra. Ma...