47 • Velocidade máxima permitida

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"Você me laçou, me prendeu, fui com você arrastada pelo seu ímpeto, pela surpresa em me ver de um dia para o outro sua, você que era apenas uma fantasia, um fetiche, era pra ser apenas um 'se' na minha vida, se ele existisse, se me desejasse, se surgisse, e você surgiu e instalou o céu e o inferno no mesmo playground."

Martha Medeiros

Andávamos acima da velocidade máxima permitida na rodovia

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Andávamos acima da velocidade máxima permitida na rodovia. Ele parecia desesperado para chegar ao nosso destino. Como se o lugar fosse evaporar se não chegássemos em questão de segundos.

Cerca de uns 100 quilômetros de distância dos limites da nossa cidade, estacionamos à frente de um resort luxuoso e descemos de sua moto num pulo. Quase puxada por ele, entrei no saguão e fui banhada pelas luzes dos lustres em estilo contemporâneo. Subimos ao quarto nesse mesmo pique

O sr. Asimov, no auge do seu cavalheirismo de meia-pataca, abriu a porta para mim e me ofereceu passagem com um "primeiro as damas". Seu gesto, adorável sob o ponto de vista de muitos, suscitou mais uma dose de revolta em mim e rendeu uma breve bronca sobre o teor machista de sua expressão — isso sem entrar no problema do cavalheirismo em si.

Calmo, apesar das reclamações, ele apenas deu aquele irritante meio sorriso e continuou agindo como se eu não pudesse mover um dedo por conta própria e precisasse de ajuda — e do apoio de suas mãos — até para andar.

Revirei os olhos ante sua irredutibilidade. Indisposta, sem o intuito de iniciar uma discussão num potencial momento de relaxamento, no qual imperasse a tranquilidade, segui-o a contragosto.

Não fiquei desgostosa por muito tempo. Suspeitava de seus propósitos com toda aquela armação. Igor não era homem de se empenhar tanto à toa.

Uma trilha de pétalas de rosas vermelhas sobre o chão guiava o caminho até a cama onde toalhas em formato de cisnes e um buquê pomposo, composto por uma variedade de flores, se encontravam dispostos em perfeita harmonia.

— Não acredito. — Meneei a cabeça em negativa, sem confiar na minha própria visão.

— Eu prometi flores, não prometi? — Ele elevou as sobrancelhas de um jeito cômico. Ainda empenhado, segurou o casaco do meu moletom quando o removi e, só então, retirou sua jaqueta preta de couro e guardou as duas peças juntas.

Tô perdendo o resto do juízo ou o sr. Asimov virou o príncipe dos românticos da noite pro dia?

Não. Não fora assim tão de repente. Havíamos percorrido uma estrada longa, sinuosa, cheia de declives e limitações. E aquele ambiente cinematográfico era um sinal. Um sinal verde para acelerar com tudo e seguir em frente.

Igor me mostrara a que veio desde o dia um. Provou-se um egoísta, tratante, mulherengo, o pacote completo do cafajeste moderno. Ele definitivamente não era o tipo de homem que reservaria uma suíte num estabelecimento daquela qualidade, com aquela decoração extra, a troco de dois dedos de prosa.

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