41 • Sentido único

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"Em vão tenho lutado comigo mesmo; nada consegui. Meus sentimentos não podem ser reprimidos e preciso que me permita dizer-lhe que eu a admiro e amo ardentemente."

Jane Austen

Arrancar sorrisos dela era um excelente hobby

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Arrancar sorrisos dela era um excelente hobby. Quando nem estava tentando, melhor ainda. O riso espontâneo de Amanda tratava-se de uma catarse.

De tanto aturar uma Amanda estressada, de cara fechada, sentia alívio ao perceber o quanto o cenário havia mudado. Uma mulher daquelas não fora feita para ficar emburrada. Nem para ficar vestida por tanto tempo.

Diante disso, as 2 horas de duração do filme, a despeito de serem gratificantes ao seu modo, pareceram as mais longas da minha vida. Se eu pudesse, aceleraria o relógio só para vê-la nua outra vez.

Daria tudo para admirá-la assim, no ápice da beleza, sem roupa, deitada ao meu lado na cama, com o peito subindo e descendo rapidamente, a boca entreaberta às arfadas, o riso cansado, trajada do único desalinho que eu julgava perfeito.

Para o meu pesar, ainda não existia máquina do tempo para possibilitar esse salto. Precisei assistir ao filme inteiro, como o exemplar cidadão de bem que sou, para só então levá-la para casa e deixar a mágica acontecer.

Abri a porta para ela, pendurei sua bolsa no cabideiro, puxei a cadeira da mesa de jantar, acendi as velas, servi um requintado macarrão oriental (miojo com shoyo e um frango que eu não fazia a mínima ideia se estava realmente cozido) e esperei pela boceta.

Até parece, diverti-me com a ideia. Jamais me dedicaria tanto só para comer alguém, por mais incrível que a foda fosse. Oferecer o melhor de mim a troco de algumas horas de prazer e nada além disso? Não valia a pena.

Amanda era um caso à parte. Qualquer esforço para agradá-la seria pouco. Por vezes, ela engolia o próprio orgulho, junto ao discurso de autonomia, para aceitar meu estilo gentleman (e ter as malas carregadas, mesmo aos protestos). Ela engolia até a comida preparada por mim (algo que nem eu conseguia na maioria das vezes). Ela era fenomenal.

Nem sequer fazia sentido tentar me enganar. Se algum dia nosso envolvimento baseara-se apenas em sexo, agora já não era mais. Havia algo de profundo, um sentimento inexplorado, ao qual eu nunca fora apresentado. Algo responsável por uma revelação invulgar numa de nossas conversas na cama.

— Não consigo parar de pensar em você — confessei, desenhando círculos imaginários ao redor do bico de seu peito para disfarçar o nervosismo, pela falta de familiaridade à revelação de meus pensamentos mais profundos. — Nem um segundo sequer.

Concentrei-me em seu seio, no movimento ritmado do meu dedo, acovardado, incapaz de encará-la e acompanhar suas reações. Desacostumado a sentir medo do lado de fora de um avião, fui pego desprevenido pelo frio na barriga.

De estômago revirado, fiquei com a impressão de que golfaria a qualquer instante se não deixasse as palavras nada ensaiadas seguirem seu fluxo. Talvez, se eu tivesse treinado, elas não custariam tanto a sair — pensei eu, leviano.

Nenhum ensaio me prepararia para o que aconteceu de verdade.

— Não consegui parar de pensar em você nem quando cortamos relações — prossegui com a confissão do meu suplício. — Não é de hoje que visões estranhas me perseguem. Quantas vezes eu te vi nas horas mais inusitadas!? Perdi as contas. Não importava quem tava do meu lado, era você quem eu enxergava. Por um momento, pensei ter perdido a cabeça.

Amanda continuava em silêncio. Eu, em evitação. Antes, confiante ao extremo, jamais cairia na tentação de duvidar de mim mesmo. Agora, cogitava ter cometido o pior dos erros e a assustado com essa conversa. Quem sabe eu não havia passado dos limites.

— Você também endoideceu meu juízo — pronunciou-se Amanda, por fim, aquietando meu coração. — Não saiu da minha cabeça por nada nesse mundo.

Tomei coragem e a fitei. Nisso, encontrei olhos inquietos, vagando como se procurassem algo, sem se fixar em mim — seu interlocutor. Mordia o lábio inferior e segurava as pernas encolhidas contra si. A imponente senhorita Nkosi só faltava esconder o rosto atrás de uma almofada para compor aquele quadro.

Sem largar seu seio — esse não era o tipo de pecado capital que eu cometia —, convertendo o toque leve para uma massagem, envolvi-a com meu braço livre. Naquele abraço meio desajeitado, ela se aconchegou e beijou meu pescoço vagarosamente, acordando meu pau como consequência.

— Já que estamos no mesmo barco, poderíamos velejar juntos pra comemorar — propus, contemplando todos os sentidos possíveis da insinuação.

— E se naufragarmos? — indagou, hesitante, com uma preocupação metafórica palpável.

— Você me arranja uma bola de vôlei e tinta vermelha — apresentei a solução. — Louco eu já sou. Louco por você — especifiquei, aproveitando para deixar implícito o propósito de me desdobrar em tantas palavras e desafiar minha própria inaptidão para expressar sentimentos.

Ela gargalhou em resposta.

— Fico feliz por saber que minha cantada tão elaborada tenha surtido efeito — comentei entre dentes, fingindo irritação.

— Foi perfeita — garantiu-me, ainda sorrindo, acariciando meu rosto. — E eu captei vossa mensagem, sr. Asimov. — Com essa afirmação categórica, ela me surpreendeu com um movimento brusco e me montou de supetão. Acomodando-se sobre o meu pau com a primeira sentada, acrescentou: — Aceito seu convite.

Assim, com essa sentença, ela cavalgou com afinco, rebolando nos intervalos que reservava para me beijar, quase levando meus lábios consigo. Suas unhas, cravadas em meu abdome, gravavam novas marcas em meu corpo — as quais eu não teria mais como esconder a origem, dados os planos que eu construía para o futuro próximo.

Em breve seria a minha vez de inverter as posições, de fazer suas pernas tremerem, seus pulmões esgotarem o ar, sua boca extravasar o prazer no mais alto volume e incomodar a vizinha. Talvez não a última sentença.

A vizinha, nesse caso, estaria muito ocupada desfrutando do meu rosto entre suas pernas, da minha língua explorando cada canto de sua boceta. Estaria transando até a completa exaustão. Enquanto isso, eu estaria no paraíso. No Paraíso.

No Céu, acompanhado por uma deusa chamada Amanda, alcançara a compreensão de três máximas:

Adorava fodê-la até o talo. Adorava sua companhia. Adorava-os em igual medida.

Graças a essas assertivas, chegara à verdade suprema, tão necessária naquele momento de estranhamento e reconhecimento de sentimentos.

Eu estava irremediavelmente apaixonado pela senhorita Amanda Nkosi Lopes.

Eu estava irremediavelmente apaixonado pela senhorita Amanda Nkosi Lopes

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Até que enfim o gato admitiu \^o^/

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Beijos mil! ✨

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