Fora do vagão, somente árvores esperavam Amaldiçoado, além da chuva que estava ficando cada vez mais forte. Alguns trovões resmungaram entre si, discutindo o futuro do rapaz.
De repente, ele começou a sentir todos os pequenos detalhes ganhos pela maldição. Sentia o cheiro de animais correndo na distância, ouvia a respiração triste de outros, e via com clareza formigas subindo em árvores que estavam a quilômetros.
Mas mesmo assim, seu rosto foi molhado pela chuva, como qualquer outro.
Sentiu-se tentado a caminhar de quatro, como a grande maioria das bestas fazia, mas lembrou-se de que era humano pelas roupas que vestia. Andou com as duas pernas pela mata selvagem, sem objetivo, a não ser se afastar da sua antiga cidade.
E Porcelana continuou dentro do vagão, com medo da futura tempestade.
...
Nazaré apenas voltou horas mais tarde pra casa. Sem o estresse, entrou em casa com um sentimento de remorso. Chamou pelo seu marido. Não houve resposta.
"Então ele foi mesmo." pensou, triste.
Não ousou abrir a porta do porão. Mas sabia que Amaldiçoado não estava mais lá.
Então resolveu ir até o quarto da sua filha querida, de pele de porcelana.
— Porcelana? — esqueceu-se de que sua filha só estaria ali se ela fosse buscá-la na escola.
Não houve resposta.
— Porcelana? Está tudo bem? — e entrou no quarto. Lembrou-se que tinha esquecido de buscar a menina, ao ver o vazio da cama. — Ah, claro...
E foi para a escola. Quando perguntou sobre a menina, o porteiro logo disse que não a tinha visto nem entrando, nem saindo. Nazaré desconfiou. Perguntou se ele tinha certeza. Ele foi até alguns alunos que sempre ficavam na entrada, e eles confirmaram a história.
A mulher sentiu o gosto do desespero subindo-lhe pela garganta, como um ácido. Mas o engoliu de volta.
— Obrigada. — disse aos que a deram a informação, e foi-se.
Nazaré foi atrás de todos os amigos e conhecidos de sua filha, que eram muitos. Falou com cada um, procurando algum paradeiro. Nenhum conseguiu dar pistas satisfatórias. Porém, nesse meio tempo, a mulher conseguiu algumas amizades e fofocas, o que a deixou mais tranquila.
Em seguida, ela falou com todos os que moravam na sua rua. Até que um deles falou sobre Porcelana e seu momento de devaneio na esquina, e como ela começou a seguir Adilson e "uma figura grande e misteriosa". Nazaré não teve mais dúvidas.
Foi seguindo o paradeiro dos três com a ajuda das informações dos moradores, com os mendigos, com comerciantes que possuíam lojas por ali. Comeu algumas besteiras durante o caminho, e conversou bastante sobre outras coisas que não tinham nada a ver.
Mas uma hora, ela chegou na estação. Perguntou a mais algumas pessoas dali sobre o paradeiro dos três, e os vendedores de ticket falaram tudo o que sabiam. Pouco depois, ela descobriu sobre os dois vagões que descarrilaram, através de jornalistas e bombeiros que chegaram até ali. Nazaré começou a se desesperar. Disseram que iriam iniciar as buscas. A mulher quis porque quis entrar na equipe de buscas. E eles a permitiram no grupo, pela sua insistência.
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A Cidade do Sol
Science FictionEm um continente que só chove, o sol é a única esperança. Desde que os céus fecharam, as vidas dos habitantes de Belarus se tornaram frias e sem sentido. Numa busca desesperada por propósito, adolescentes começam a desenvolver o que chamam de "maldi...