120 - Amor.

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– Uma vila na praia? – Bernardo repetiu a informação, em parte porque queria confirmar, em outra porque eu quis.

– Sim. Chegaram há pouco tempo lá, mas já estão reunindo alguns meio monstros. – afirmou o informante.

– Que interessante. Gostaria de poder ir lá...

O informante saiu da sala de jantar. Bernardo olhou para Vinícius, que terminara sua refeição.

– O que acha? – perguntou o rei.

– Do que? – fingiu-se de desentendido.

– Dessa vila. Acha que é coisa boa?

– Como assim coisa boa?

– Sabe, um lugar bom pra reunir vocês. Pra não precisarem ficar espalhados pela floresta.

– Deve ser... Se começaram a construir uma vila, devem estar confiantes...

– Quero muito ir lá. – ele apoiou sua cabeça numa das mãos, suspirando. – Você quer?

– A pé? Não, obrigado.

– Lógico que você não iria a pé. Te daria um veículo.

– Mas eu só tenho treze anos. Não sei nem como pegar num volante.

– Treze anos?! Minha nossa. E ainda te largaram sozinho naquela floresta?

– Eu não fui sozinho...

– Não?! Ah, sim, estava com Bendito também e....

– Não... Eu achei ele depois.

– Então com quem esteve esse tempo todo?

Vinícius fez uma pausa, respirou. Deixou que todas as memórias viessem com aquele sopro, e começou a dizer sobre tudo. Sobre a expulsão de sua cidade junto com Camila, sobre o grupo que encontraram, sobre quem tinham se tornado, e sobre como os tinha deixado porque odiava o mar. Bernardo ouviu tudo com atenção.

– E você sente falta deles? – perguntou o rei, por fim.

– Eu... eu vou ser sincero. No início foi um alívio sair da companhia daquele bando de... selvagens. Mas quando eu comecei a conviver com as pessoas normais de novo... – pausa. – Eu não me sinto parte daqui.

– Você quer voltar pra casa. – ele sorriu, meio melancólico.

– Mas eu não gosto do mar!

– Diga: por que não gosta dele?

– Por que, uma vez... Cabeça de Peixe disse que se pudesse, largaria tudo pra viver lá. Foi quando ela se tornou um meio monstro parecido com um peixe... Eu tenho certeza que foi uma das bruxas de lá! Eu tenho certeza! E mesmo assim ela continua gostando daquele monte de água...

– Meu filho. – Bernardo olhou para ele com uma expressão risonha. – Você está com ciúmes do mar?

– O que?! Não!... – Amado agitou-se ao ouvir a palavra "ciúmes". – Quem diabos tem ciúmes de um monte de água?

– Calma, calma. – ele o olhou com serenidade. – Quando se ama é assim mesmo. Não fique agoniado quando te digo isso, é normal de qualquer um.

– Mas...!

– Me entenda: não estou dizendo que a queira como esposa. Estou dizendo que você, como alguém que sente e sabe amar, é totalmente capaz de querer o bem aos que são próximos a você. Isso é normal.

–... Por que se preocupa em esclarecer isso?

– Porque, meu querido Amado, neste mundo ninguém parece entender o que é amor. Amor é querer que os outros estejam salvos da maldade deste mundo. O resto é enfeite. Eu tenho medo de que esqueçam disso. – fez uma pausa. – Então, você não quer voltar a encontrar seus companheiros por causa de um monte de água?

– Um monte de água safado.

O rei não segurou a risada.

– Você é engraçado, Vinícius.


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