Quando se cansaram de esfregar o couro cabeludo e toda a sua pele, os dois pararam para descansar os braços. A água ficou parada, e um silêncio aconchegante tomou conta da sala.
– Faz tanto tempo que não via água quente. – comentou Aparelhado.
– Eu não sabia nem mais o que era um banho. – Amaldiçoado riu sem graça.
Vinícius encarou a água por um momento. Viu seu reflexo. Parecia um cachorro todo ensaboado. Sorriu, lembrando de um cachorro que algum dia tivera, antes da viagem. Porém, Amaldiçoado não viu o mesmo reflexo. Teve de piscar algumas vezes com força pra ter certeza de que estava vendo corretamente.
Um jovenzinho, no início da adolescência, estava refletido na água. Tinha um projeto de barba no rosto, um cabelo longo, sobrancelhas fartas, algumas espinhas e usava aparelho. Mas os olhos brilhavam com tanta doçura...
– Por que... você tem um reflexo diferente? – perguntou Amaldiçoado. Ele se olhou na água. O reflexo era o mesmo monstro que conhecia.
– Eu é que pergunto. – diz Vinícius, encarando o reflexo do outro. – Esse aí não parece nadinha com você.
VOCÊ ESTÁ LENDO
A Cidade do Sol
Science FictionEm um continente que só chove, o sol é a única esperança. Desde que os céus fecharam, as vidas dos habitantes de Belarus se tornaram frias e sem sentido. Numa busca desesperada por propósito, adolescentes começam a desenvolver o que chamam de "maldi...