Querido andava por um longo corredor de espelhos. Era menino, com a volumosa cabeleira cacheada. Parecia ter voltado no tempo. Onde estava? Pra onde iria? Confuso, Querido continuava sua ida, olhando seu reflexo infantil, que mostrava sua aparência antes da maldição.
– Onde é aqui? – perguntou o menino. Querido se assustou com a própria voz infantil.
– No caminho da vida. – responderam os espelhos, em coro.
Então o menino começou a sentir fortes dores em todo o corpo. Começou a tremer, a se debater, a gritar. A voz risonha e sádica do desesperado rei de Castle Hill se propagou em sua cabeça:
– Oh, não deu certo de novo. Vou ter que ir atrás de outro monstro, dessa vez...
– Não! Não! Não! – o menino gritava, desesperado, começando a chorar. – Não! Para com isso, por favor! Para! Para! Por favor, tio! Por favor!... O que eu fiz?! Me diga! O que foi que eu fiz?! Me diga... Para com isso...
E mais dores invadiram o corpo do menino outra vez, e ele vomitou. Sua barriga contraía loucamente, e a força com que seus olhos fechavam arrancava lágrimas dos seus olhos. Ele encostou nos espelhos. Tudo ao redor ficou escuro, confuso, num misto de roxo, vermelho e verde.
– Para com isso! Para com isso! Para... O que foi que eu fiz? O que foi que eu fiz? Me diga! Que mal eu fiz pro senhor?! – e vomitou outra vez, enquanto chorava.
Sozinho. Era assim que se sentia. Sozinho. Quem se importava com a vida de um meio monstro? Quem se importava com aquele moleque abandonado? Quem se importava? Quem? Ein?! Quem se importava com aquele homem torto?!
– Maldito seja eu! Sozinho neste mundo tão maldito quanto. Quem está aí, me mate! Me mate! Eu não preciso viver mais. Eu não presto mais pra viver, mesmo!
Ouvindo suas próprias palavras, Querido começou a chorar. Seu desejo lhe fora concedido. Mas do que adiantou amaldiçoar-se no início da juventude? Tudo o que queria era uma companhia. E sua maldição não lhe tirou aquela dor, aquele desejo. Continuava o mesmo menino solitário...
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A Cidade do Sol
Science FictionEm um continente que só chove, o sol é a única esperança. Desde que os céus fecharam, as vidas dos habitantes de Belarus se tornaram frias e sem sentido. Numa busca desesperada por propósito, adolescentes começam a desenvolver o que chamam de "maldi...