Amaldiçoado fungava, com o nariz obstruído pelo catarro.
— Do que adiantou eu ter saído de lá? — perguntou a si mesmo, com sua voz grave e profunda. — Tudo que consegui foi matar alguém e ficar doente...
Enquanto a chuva abafava sua voz, a misturando com seu próprio som, o seu amigo azul encarava o chão, pensativo. De repente, ele olhou para cima, para a copa da árvore, e subiu nela. Amaldiçoado estranhou a ação, mas continuou embaixo da sua árvore. Seu amigo desceu e saiu correndo na chuva até ele.
— Você sabe subir numa árvore? — perguntou o azul.
— Faz tempo que não tento. Na verdade, faz tempo que não faço nada e...
— Não importa. Siga-me.
O monstro de penas correu na frente, quase escorregando na grama molhada. Subiu na sua árvore num instante.
Amaldiçoado demorou a se mover depois da conversa, por pura procrastinação. Preguiçosamente, ele se levantou e se arrastou pela chuva até a árvore do amigo. Já nela, escalou-a na mesma velocidade de um bicho preguiça. Ou talvez, mais lento ainda.
Depois de finalmente ter escalado, Amaldiçoado se jogou no tronco da árvore, fazendo tremer todos os galhos com seu peso. Algumas folhas caíram no seu rosto. Foi quando ele percebeu que não estava levando chuva. Olhou para cima, e viu um grande telhado improvisado, feito de galhos e folhas, que se encaixava perfeitamente com a estrutura natural da árvore.
— Como... — balbuciou.
— Eu não sei. — disse o monstro de penas, que estava encarando aquela interessante arquitetura. — Quando vi já estava assim.
Amaldiçoado se levantou, e percebeu um brilho vindo do lugar onde antes estava deitado.
No tronco, linhas que pareciam feitas de magma formavam o desenho de um sol.
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A Cidade do Sol
Khoa học viễn tưởngEm um continente que só chove, o sol é a única esperança. Desde que os céus fecharam, as vidas dos habitantes de Belarus se tornaram frias e sem sentido. Numa busca desesperada por propósito, adolescentes começam a desenvolver o que chamam de "maldi...