15 - Poeta.

0 0 0
                                    

Bianca não demorou a dormir no seu banco. A pálida luz do dia lhe era entediante. A noite, sim, com suas inúmeras luzes coloridas, era interessante.

Assoviando, Caramelo substituiu a voz da moça, e assim continuou acordado. Enquanto isso, Porcelana estava no fundo da Kombi, ainda com medo de tudo aquilo. Não sabia para onde iria (queria muito saber) mas tinha medo de perguntar justamente por medo da resposta. Sozinha, começou a alimentar suas inúmeras paranoias, que pela primeira vez ocupavam espaço na inocente cabeça.

— Já dormiu, Porcelana? — Teodoro perguntou, ainda olhando para frente.

— N-não...

— Oh, que bom. Você se importaria caso eu começasse a puxar assunto contigo?

— Não...

— Ótimo! Então... por que quis tanto sair de Belarus, a Cidade dos Muros?

— É que... — pensou duas vezes antes de falar. Mas percebeu que não faria diferença. — Achei que estava tudo muito seguro em casa...

A palavra "seguro" fez um sorriso abrir automaticamente nos lábios de Caramelo.

— Imagino. Pelo pouco que deduzi de você, faz todo o sentido...

"Deduziu?" perguntou Porcelana, na sua cabeça.

—...Meu pai era um poeta incrível. Só que ele era muito arcadista. Sabe o que é isso?

— Não...

— É um tipo de gente que é da cidade, mas ama o campo e toda a simplicidade dele.

— Ah...

— Um dia, ele fugiu para essa floresta — ele apontou para fora com a mão esquerda — e acabou sendo amaldiçoado.

— Oh.

— Ficamos preocupadíssimos quando ele voltou, pois tinha levado chuva e chegou doente em casa. Mas sabe qual foi a última coisa que escreveu antes de sumir novamente na floresta?

— O que?

"Vejo medo dentro dos muros,

Vejo-te, oh malditos e imundos.

De nada lhes serve esta maldição?

Mas a mim, ó, pelo menos a mim...

Ela revelou meu coração,

Que não estava nem um pouco seguro

dentro dessa cidade cheia de muros."

— Uau...

— Pois é.

— E qual era o nome dele?

— O nome dele? O nome dele era...


A Cidade do SolOnde histórias criam vida. Descubra agora