75 - Compreensão.

1 0 0
                                    

– O senhor não parece bem. – comentou Querido.

– Um dos meus sobrinhos me disse que meus súditos não entendem porque eu adoto vocês. Fiquei triste com isso. – Bernardo estava sentado em uma cadeira, próximo de Querido.

– É normal.

– Eu sei. Mas é triste... – ele olhou para o corcunda. Suspirou de novo.

Querido estava deitado em uma maca, num laboratório que se mesclava com uma sala de cirurgia.

– Como está o seu olho? – perguntou o rei.

– Bom.

– Ainda vê bem de longe?

– Sim... Consigo ver a distância entre o portão e a cidade.

– Então a lente continua intacta. Isso é bom.

– Foi o único experimento que deu certo.

– Verdade... – o rei acariciou o braço de Querido, com um sorriso melancólico. – Desculpa fazer você ter passado por isso tudo, rapaz.

– Não se preocupe.

Os dois ficaram em silêncio.

– O senhor se preocupa com seus súditos.

– Você não deve entender, não é?

– Não muito.

– É compreensível. – suspirou – Seus pais estão em algum desses quartos e nem lembram mais que você existe, ninguém entende porque uso de bondade para alguém que não é totalmente humano... "Por que proteger gente tão egoísta?" às vezes eu me pergunto.

– Achou resposta?

– Sim. Percebi que não posso culpá-los... Eles vivem presos. Tiveram sua liberdade tirada por causa do incidente de anos atrás. Além do mais, não há mais a pura luz do sol. O que vemos é um reflexo embaçado dela, uma sombra do que ela é.

– O senhor já viu a luz do sol?

– Já. Há muito tempo atrás. – sorriu com a lembrança. – E sei que ela é magnificamente transformadora. Quando ela voltar, muitos monstros incompletos e completos voltarão a ser humanos. Não todos, mas alguns sim. Disso eu tenho certeza.

– Licença... – Bendito abriu a porta. Ouviu a conversa do corredor e achou conveniente entrar na sala.


A Cidade do SolOnde histórias criam vida. Descubra agora