17 - Criança.

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Pensando nas palavras que Teodoro havia dito, Porcelana passou mais da metade da viagem encarando a paisagem de floresta. Por todo aquele tempo, ela refletiu acerca das suas próprias ações, e o que elas significavam.

Mas não vou me deter em descrevê-las, porque logo em seguida Porcelana esqueceu de tudo isso. Era algo muito filosófico, muito elevado.

— Então... você saiu de Belarus, a cidade dos muros, por causa do seu pai? — perguntou Porcelana para o motorista.

— Sim e não. Sim, porque me inspirei nele. Não, porque tenho um objetivo diferente do dele.

Porcelana pensou se tinha o direito de perguntar esse objetivo. Mas lembrou (ora, que novidade) de que já havia dito o seu. Então, nada mais justo.

— E qual é?

— Já ouviu falar da Cidade do Sol?

— Não...

— Pois bem! — um "não" era tudo o que ele queria ouvir. — A Cidade do Sol é o paraíso dos poetas, a beleza e a glória das coisas que se esconderam dos nossos olhos. Nascida, como uma fênix, da morte de Wittgen. A mais tranquila e maravilhosa de todas as cidades! Para lá está tudo o que qualquer um deseja neste mundo: o sossego azul, manifestado em seus moradores gentis e humildes.

—... Oh.

— Você não entendeu uma palavra do que eu disse, não é? — ele riu.

— S-sim...

— Vou resumir pra você. É a única cidade que ainda vê o sol nascer e se pôr... Porque está acima das nuvens.

— Uma cidade acima das nuvens?!

— Exato! Não é maravilhoso? — ele sorriu com a imaginação. — Meu sonho é me tornar um de seus poderosos e honrados guerreiros. Vou ser um arqueiro. Já tenho até o meu arco. — apontou para o teto de Carla, onde seu arco estava.

— Você ainda tá com essa ideia idiota na cabeça? — Bianca havia acordado. Mas ainda estava com voz de sono. — Eu achava que você já tinha desistido disso.

— Mas é claro que não. Por que eu desistiria?

— Porque, que eu saiba, é impossível uma cidade inteira ficar acima das nuvens. E também, porque seu sonho é muito coisa de criança. Cresce, Teodoro.

— Que eu saiba, as nuvens deveriam ter se dissipado há trinta anos atrás. Mas não se dissiparam. Ninguém sabe explicar até hoje o motivo. — ele falava com um tom zombeteiro. — E também, prefiro ter sonho de criança do que ter sonho de adulto. Não sou adulto ainda, então me deixa!

— Tu também não é uma criança.

— Isso eu sei.

— E então?

— Quer que eu faça o que? Os sonhos dos jovens se resumem em ser adultos. Os sonhos dos adultos se resumem em ter o controle sobre tudo o que conseguem enxergar, e até o que não conseguem. Prefiro meus sonhos de criança, pois são bem mais simples.

— Você é ridículo.

— É esse seu suéter decotado que é ridículo.

Porcelana riu. Sentiu-se acolhida e compreendida pela primeira vez naquela viagem.


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