12 - Carla.

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Porcelana encarava a rua da sua esquina de novo. Não chovia daquela vez. As nuvens começavam, pouco a pouco, a serem iluminadas pelo sol, ainda coberto.

Um único poste iluminava sua pálida figura, que esperava pelo som barulhento da Kombi.

Sair de fininho do quarto foi fácil. Escapar pela janela, mais ainda. O difícil foi convencer Inocência de que era uma boa companhia para a viagem. Passou horas enchendo o saco da garota pelo telefone. A conta de telefone iria ser altíssima aquele mês, tinha certeza. Mas Porcelana não estaria lá para pagá-la.

Nazaré iria enlouquecer quando soubesse que sua filha sumiu mais uma vez, e que ainda deixou uma enorme conta pra pagar. Mas quem disse que Porcelana não já tinha esquecido disso enquanto esperava a sua carona chegar?

O som ruidoso, que poderia acordar a vizinhança inteira a qualquer momento, surgiu de repente. Correndo na rua como se não existisse amanhã, a carona grande e colorida de Porcelana chegou, parando em frente a ela.

A porta do motorista se abriu, e dela saiu um rapaz um pouco mais velho que a moça. Porcelana sentiu fome ao ver os cabelos ondulados e loiros dele, num tom caramelo. Seus protetores de ouvido então, lembravam a ela dos deliciosos doces de morango que Nazaré comprava de vez em quando... Ah....

Ele sorriu como um malandro e estendeu a mão.

— Você é a 'Porcelana'? — perguntou ele.

— Oh, sim sim. — ela o cumprimentou, recebendo a mão.

— Não sei por que você quis tanto vir com a gente, mas se conseguiu convencer Bianca, não acho que seja uma má ideia você vir conosco.

— Bianca?... — virou o rosto, confusa. — Quem é Bianca?

— Ugh. Vê só, Teodoro? — a voz de Inocência saiu do banco do carona. — Nem meu segundo nome ela sabe.

— Tudo bem, tudo bem. Então vamos do início. — o rapaz limpou a garganta e começou de novo. — Bem-vinda a bordo! Os adultos me chamam de Caramelo, mas meu nome é Teodoro. E aquela ali que você insistiu que te trouxesse se chama Bianca, apesar de todos chamarem ela de Inocência.

— Oh... — Porcelana sempre acreditou que seu nome era realmente 'Porcelana'.

— Eu duvido que seu nome de verdade seja "Porcelana", então... Qual é o seu segundo nome? Que na verdade deveria ser o primeiro mas os adultos, né... fazer o que.

— A-ah... — Porcelana não lembrava do seu outro nome. "Maldita memória!" pensou ela. Mas a culpa era sua, por esquecer propositalmente de quase tudo. — ...Mistério... — disse isso para tentar enganar o rapaz, ou pelo menos tentar impressioná-lo.

— Ora, ora... Temos uma tímida aqui. — e seu plano foi por água abaixo. — Tudo bem. Não vou forçar que diga. É algo pessoal, eu entendo.

Ele abriu a porta de trás do veículo, e fez sinal para que entrasse. Porcelana entrou e ele fechou a porta. Sentando no banco do motorista, ele tirou o freio de mão e a máquina voltou a andar.

...

Enquanto saíam daquela cidade, ele disse que aquela Kombi tinha nome:

— Não machuque a minha querida Carla, se não eu vou te matar. — ameaçou ele, rindo enquanto olhava para a estrada.


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