Os dois meio monstros estavam de frente para a velha, numa mesa pequena de madeira. Ela bebericava um café, e de vez em quando mordia um pedaço de banana. Seus dentes amarelos denunciavam que ela gostava muito de café.
– Quais são seus nomes? – perguntou ela.
– Bendito e Querido. – respondeu Querido.
– Os de verdade, eu quero dizer.
– Frank. – disse Querido, com tanta naturalidade que chega assustou Bendito. Querido não tinha dito que dizer o nome era um ato de rebeldia? E agora falava como se fosse algo tão banal...
– Eu... não sei. – Bendito mentiu.
– Claro que sabe. Se não soubesse, não teria coragem pra sair de onde quer que você tenha saído.
– Mas e se eu não quiser dizer?
– Tanto faz. Só acho estranho ter que chamar um bicho como você de Bendito... Enfim. Meu nome é Alva.
– Bem nome de velha mesmo... – sussurrou Bendito.
– E você? Sem nome nenhum. – ela disse com sarcasmo.
– Olha aqui, sua véia...
– Mais respeito com os mais velhos, Bendito. – repreendeu Frank.
– É, garoto. – afirmou a velha. – De qualquer forma, de onde foi que vocês vieram? Tu disse que não estavam escondidos na árvore, que tinham acabado de sair dela. Como pode?
– Senhora, Bendito, algum tempo atrás, encontrou uma árvore com uma marca de um sol. Ele subiu nela, e quando desceu, estava em outro lugar.
– Como? – ela franziu as sobrancelhas.
– Eu e ele fomos verificar isso. Descobrimos que o desenho era um adereço, e conseguimos tirá-lo. Mas quando olhamos dentro, não conseguimos entender. Era uma árvore misturada com uma máquina.
– Aí vocês vieram subindo e descendo nessas árvores pra descobrir o que diabos ela é.
– Exatamente...
– Como você deduziu isso? – perguntou Bendito.
– Porque é a única razão lógica de vocês aparecerem uma árvore do nada.
– Mas e se a gente estivesse mentindo?
– Vocês não teriam coragem de sair por aí só pra chegar aqui.
– Onde é aqui? – perguntou Querido.
– A Cidade da Cachoeira, Takinomachi. É uma cidade feita por fugitivos, para fugitivos. Não consta nos mapas, vocês já devem ter percebido.
– Nunca fui muito fã de geografia... – admitiu Bendito.
– É compreensível. Todas as diferenças geográficas neste continente éurpel se foram desde que só há nuvens e chuvas... – suspirou – Enfim. Acredito em vocês não só por causa disso.
– E acredita por causa de que, então?
– Peguem um guarda-chuva e sigam-me. – ela pegou o dela, que estava pendurado na cadeira. – A árvore de Takinomachi não é a última da sua jornada.
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A Cidade do Sol
SciencefictionEm um continente que só chove, o sol é a única esperança. Desde que os céus fecharam, as vidas dos habitantes de Belarus se tornaram frias e sem sentido. Numa busca desesperada por propósito, adolescentes começam a desenvolver o que chamam de "maldi...