25 - Celular.

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Nazaré viajara para o outro lado da cidade, escondida da filha, poucas horas depois de ela ter saído na Carla. Pensou que a abandonando sozinha, a faria desenvolver seu instinto de mulher superior a qualquer criatura existente na terra, ou, pelo menos, aprender a fritar um ovo.

Voltando pra casa, ela abriu a porta com todo o cuidado possível para não fazer barulho. O que falhou, já que seus braços estavam repletos de sacolas de lojas inúmeras que havia visitado. Jogou as chaves no primeiro móvel que viu, pôs suas sacolas cuidadosamente ao lado do sofá, se deitou e ligou a televisão. Aproveitou e tirou de uma das sacolas uma caixa, de onde tirou um manual de instruções e um lindo celular, novo em folha. Enquanto o configurava, já pensava na desculpa que ia dizer a Porcelana.

"Oh, mil desculpas! É que foi um convite tão de repente..."

"Encontraram Amaldiçoado, e me chamaram. Claro, não disse que era a madrasta dele, nem se preocupe..."

"Você não leu meu bilhete? Juro que deixei um bilhete em cima da mesa..." (para esta desculpa, teria que escrever o bilhete depois)

Com o celular configurado, ela desligou a televisão e jogou o manual em algum lugar. Ao se levantar, ouviu o som sutil de uma carta passando por debaixo da porta. Nazaré se aproximou e, ao ver que era uma conta, a abriu logo.

O preço da conta de telefone fez cair o seu queixo.

Nazaré deu um berro, transformando-se em uma fera. E, arrombando todas as portas existentes dentro daquela casa, procurou Porcelana para tirar satisfação. O pobre carteiro tomou um susto tão grande com a barulheira, que saiu correndo.

— CECÍLIA SUA INFELIZ, VOCÊ ACHA QUE EU TENHO DINHEIRO PRA FICAR PAGANDO TANTAS LIGAÇÕES?! — gritava a mulher pela casa.

...

Passada a raiva, e detectada a falta da presença de Porcelana ali, Nazaré estreou seu celular com a sua primeira ligação:

—... Alô, polícia?


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