𝟗: 𝐌𝐞𝐝𝐮𝐬𝐚

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4 ANOS DEPOIS...
13 DE MARÇO || SEXTA – FEIRA
FRANÇA – LYON

Nadine Petrov 

Deitada na cama, apertando os lençóis e rangendo os dentes, eu sentia agulhas perfurando minha pele das costas. Uma mistura de choque e ardência dominava a área, enquanto meus olhos permaneciam fixos em um quadro com uma mensagem direcionada a Deus. É intrigante como os fiéis depositam fé em uma divindade que concedeu livre arbítrio apenas para punir os desobedientes no fogo. A ironia reside em questionar, se o livre arbítrio não existisse, eu estaria realmente tatuando a medusa nas minhas costas? A resposta é sim.

O tatuador desliza suavemente a tinta, delineando cada detalhe com meticulosidade. A cada traço, um novo flashback daquela noite volta. Minhas mãos se cerram em punhos, os dentes rangem com força, a mandíbula tensionada. Meus olhos percorrem as palavras do quadro, desencadeando uma cascata de memórias do passado. Ao abrir as mãos, encaro minhas mãos e vejo que minhas unhas penetraram a pele, fazendo o sangue jorrar da área recém-aberta.

Recuso-me a derramar mais lágrimas, a desejar a morte por meu passado, a me culpar por ter sido tão frágil para chegar onde estou. Todos os dias, eu ansiava pela morte, agindo como uma vítima em todas as situações que me encontrava. Agora, sou eu quem faz as vítimas, antes que seja eu. É assim que meu instinto de sobrevivência grita agora. Meu passado me ensinou a ser forte, e agora estou tatuando a resistência que sobrevivi a tudo isso.

O que me trouxe a esta cama, tatuando um símbolo de resistência? O estupro. No entanto, não apenas a violência que sofri, considero todas as resistências que superei por ser mulher. Já fui uma mulher frágil, obedecendo ordens, ameaçada de morte. Fui uma figura patética. No entanto, isso serviu como um impulso para uma versão mais forte de mim mesma.

— Tudo pronto, senhorita. — O tatuador conclui, higienizando a pele com um algodão e lançando-me um sorriso de satisfação.

— Quero ver o resultado. — Levanto, calçando minha bota de cano curto e erguendo-me.

O tatuador fica um pouco sem jeito, já que levanto sem sutiã, não cobrindo os seios. Caminho com determinação até o espelho, virando-me para ver a tatuagem cobrindo minhas costas, um intricado desenho em tinta preta. Encaro meu reflexo de frente, respiro fundo e volto a encarar o homem.

— Só preciso cobrir até a cicatrização. — Ele explica o processo, e eu assinto, virando as costas para ele.

Ele se aproxima, envolvendo suavemente minhas costas com um plástico. Sinto uma leve ardência, mas nada insuportável.

— Está ótimo. O pagamento será feito assim que eu chegar ao trabalho, tudo bem? — Pergunto, vestindo minha camisa de volta.

— Em que você trabalha? — Ele pergunta, me observando.

— Não é da sua conta. Apenas mantenha o profissionalismo. — Aconselho, fazendo-o engolir em seco. Pego minha bolsa, abro as portas de vidro e saio. — Até o pagamento.

Ele assente, e eu viro as costas, atravessando a pista, observando ambos os lados. Chego até a minha BMW K 1600 Bagger, deslizando a chave na ignição e me acomodando no banco macio. Acelero a moto, a sentindo ganhar velocidade pela pista.

Após longos minutos pela estrada, finalmente chego ao meu destino. Estaciono a moto na sede da Interpol, onde alguns policiais me cumprimentam ao me verem descer. Apenas aceno de volta e retiro a chave da moto.

Adentro a empresa, cercada de policiais. A Interpol tornou-se minha segunda casa, uma profissão que executo com orgulho, trabalhando para a Organização Internacional de Polícia Criminal. Me encaixo perfeitamente nesse papel, além das horas vagas dedicadas a trabalhos como agente Internacional da Interpol.

𝐃𝐄𝐀𝐑 𝐋𝐔𝐂𝐈𝐅𝐄𝐑Onde histórias criam vida. Descubra agora