𝟓𝟎: 𝐇𝐮𝐧𝐭𝐞𝐝

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4 DE JUNHO || QUINTA-FEIRA

As coisas estavam desmoronando, e eu sentia isso como uma corda de forca apertando lentamente ao redor do meu pescoço, principalmente depois da desavença entre Dante e Kastiel na noite passada.

Nunca imaginei que veria tamanha selvageria em um homem que eu considerava como um irmão.

A decepção foi grande. Os quatro tiros, seguidos pelo banho de sangue que ele causou naquele hall. O sangue de alguém que ele chamava de melhor amigo. Foi mais que cruel, foi repulsivo.

Dante sempre carregou minhas dores como se fossem suas, desde o momento em que percebeu meu comportamento estranho após a festa de Rachel. Ele viu os arranhões no meu corpo, resultado da queda da sacada de Kastiel, e talvez tenha tentado entender o motivo do meu estado crítico. Mas nunca houve uma resposta clara. Isso o levou a agir como agiu. Ele se sentiu traído, talvez, acreditando que Kastiel tivesse sido um monstro comigo, que de alguma forma ele havia me machucado fisicamente.

De fato, Kastiel fez coisas que me levaram ao limite.

Aquele ocorrido na mata vasta continua gravado na minha mente, logo após ele quase matar o próprio amigo. Ele disparou na minha direção, ameaçando incendiar a casa de Aaron, sabendo muito bem que minha mãe estava lá dentro.

Não é uma suposição. Eu conheço Kastiel muito bem. Chamo-o de Lúcifer, porque sei que ele é capaz de tudo para alcançar o que deseja, sem remorso.

Mas, por mais que sua maleficência fosse clara, eu enxerguei algo além disso. Havia um lado humano nele, um lado que eu jamais pensei que ele mostraria. Em pequenos gestos, ele deixou entrever um resquício de mudança, uma tentativa sincera de provar que no fundo também tinha sentimentos. Que apesar de tudo era humano.

Eu sabia que por trás dos meus jogos de desinteresse com ele, havia intenção mecânica. Uma autoproteção instintiva contra tudo o que ele já me fez passar. Até mesmo o fato de eu não ter negado o caso com outra pessoa, enquanto ele me...

Era parte do meu desejo de vê-lo lutar por mim, da mesma maneira que eu me esforcei para compreendê-lo.

O táxi foi desacelerando aos poucos, me arrancando dos pensamentos dispersos quando a entrada do Providence St. Peter Hospital surgiu à nossa frente. Com a bolsa pendurada no ombro, paguei a corrida e desci do carro.

Com passos apressados, entrei no hospital. Cada respiração parecia mais densa dentro desse lugar. Caminhei até a recepção e sem demora, coloquei meus documentos sobre o balcão. A recepcionista, sem pressa, ajustou os óculos e os analisou.

— Visitante, certo? — sua voz soou quase automática.

— Isso mesmo — confirmei, assentindo levemente.

Ela devolveu os documentos, junto com um crachá de visitante. Peguei ambos e segui pelo corredor. Alguns médicos passavam por mim, imersos em suas próprias rotinas, quase como sombras indiferentes.

A temperatura interna me fez retirar o sobretudo, dobrando-o sobre o antebraço, antes de entrar no elevador que me levaria ao terceiro andar.

Ao sair, me deparei com um longo corredor. Ryan havia trazido os documentos de Kastiel ontem, e finalmente o transferiram para uma sala de emergência.

De longe, avistei o quarto onde Kastiel estava. Respirei fundo, preparando-me para o que encontraria. A cada passo, a realidade da situação parecia mais pesada. Com um movimento hesitante, girei a maçaneta.

Ao abrir a porta parcialmente, me deparei com um médico, prancheta em mãos, enquanto ele fazia anotações, concentrado no que parecia ser o relatório de Kastiel.

𝐃𝐄𝐀𝐑 𝐋𝐔𝐂𝐈𝐅𝐄𝐑Onde histórias criam vida. Descubra agora