𝟐𝟕: 𝐁𝐮𝐫𝐧 𝐈𝐧 𝐇𝐞𝐥𝐥

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15 DE ABRIL || QUARTA-FEIRA

Eu estava exausta, lutando contra os pensamentos tumultuados que invadiam minha mente, desviando minha atenção de continuar pintando as minhas unhas.

Optei por um azul escuro, um tom que sempre me cativou e parecia combinar bastante comigo. Mas os pensamentos intrusivos persistentes me levaram a manchar uma unha, sujando a cutícula de azul.

Num acesso de raiva, meu punho encontrou a escrivaninha, sacudindo-a com a força da minha frustração.

A fonte desses pensamentos era, na verdade, uma pessoa – alguém que me deixou plantada à beira-mar, como se minha presença não tivesse importância.

"Porra", murmurei enquanto tentava limpar a sujeira da unha, mas fui interrompida pelo som das batidas na porta do meu quarto.

Eu já sabia quem era pelo padrão único das batidas.

— Entra — autorizei, observando Tessa espreitar com um sorriso travesso nos lábios.

Revirei os olhos, prevendo o desenrolar da conversa que viria a seguir.

A porta se fechou com um clique, seguido pelos passos determinados de Tessa em minha direção, até que ela parou diante de mim, franzindo a testa.

— O que você está fazendo trancada aqui até essa hora? Já são cinco da tarde e ninguém te viu hoje. Pensei que ainda estivesse dormindo, mas você mal dorme. — ela disparou, mãos na cintura.

— Só não estou a fim de sair do quarto. — dei de ombros, tentando desviar o assunto.

— E não saiu para comer ou alimentar o cachorro? — ela arqueou uma sobrancelha.

— A comida do Zeus está metade aqui no meu quarto, e o frigobar está cheio, então não precisei sair — respondi, tentando manter a calma enquanto ela caminhava até o frigobar ao lado da minha cama, abrindo-o e encontrando várias embalagens vazias de chocolates e batatas fritas.

— Sério? Você só comeu isso hoje?

— Tessa, não enche o saco. — Revirei os olhos, voltando minha atenção para a unha inacabada.

— "Não enche o saco" o caralho, o que está acontecendo? — Ela não desistiu, puxando uma cadeira e sentando-se em frente a mim.

— Nada.

— Nada?

— Nada. — Repeti, tentando convencê-la de que estava tudo bem.

Na verdade eu estava bem sim, só estava com um pé atrás de sair do quarto e dar de cara com ele pelos corredores, eu estava envergonhada demais para isso.

— Tudo bem então... — ela engoliu em seco, olhando para baixo. — Tenho que te contar uma coisa.

— O quê? — Perguntei, terminando a última unha e colocando a mão dentro do secador de esmaltes.

— Você sabe que ontem eu e os garotos fomos para uma boate, e eu te chamei, mas você não quis ir — ela pausou por alguns segundos, fazendo-me erguer o olhar para ela — Dante e eu brigamos no meio da festa por ciúmes bobos, e ele acabou ficando com outra mulher.

— Ele fez o que?! — Gritei, puxando minha mão de volta imediatamente.

— Sim, aconteceu, Nadine — ela murmurou com dificuldade, a voz começando a ficar chorosa. — O pior disso tudo é que eu não posso fazer nada, não somos nada além de ficantes.

— Ah, é? Esse desgraçado vai ver. — Empurrei a cadeira para trás abruptamente, caminhando em passos largos até a porta.

— Não, por favor, não! — Ela me impediu de prosseguir, puxando meu braço.

𝐃𝐄𝐀𝐑 𝐋𝐔𝐂𝐈𝐅𝐄𝐑Onde histórias criam vida. Descubra agora