𝟒𝟗: 𝐁𝐫𝐨𝐤𝐞𝐧 𝐓𝐫𝐮𝐭𝐡𝐬

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Kastiel Kaltain

Na calada das minhas ações, havia caos. Um caos cuidadosamente orquestrado, silencioso como uma bomba-relógio. Cada segundo que passava era uma batida surda, um som quase imperceptível, como um tic-tac. A contagem não era apenas o prenúncio de destruição, mas a certeza de que algo vital seria arrancado. Seja uma alma, seja uma parte irreparável de quem você é.

Tic-tac.

Ryan? Tirei ele da prisão com o respaldo da NSA, o arrastei para o meu mundo... e, no fim, quase o matei por causa de uma mulher.

Tic-tac.

Jacob? Manipulei a situação para que ele fosse acusado por algo que não fez. Quase o vi ser morto na minha frente, por um erro meu.

Tic-tac.

Rachel? Peguei cada sentimento dela e o reduzi a cacos, sem me importar.

Tic-tac.

E Nadine?

Ah, Nadine... Ela se tornou a maior filha da puta da Death Elite, graças a mim. Eu a moldei para ser uma versão feminina de mim mesmo.

Tic-tac.

Dante? Meu melhor amigo. Quebrei sua confiança de forma que talvez nunca possa ser reparada.

Boom.

Tudo transbordou.

Eu sabia que o tinha decepcionado. Que sua confiança em mim agora estava quebrada. Dante protege Nadine como se o mesmo sangue corresse nas veias de ambos. E eu? Fui o único e verdadeiro culpado de tudo.

Tudo. Foi. Eu.

— Eu sempre soube que você a desejava, desde o maldito dia em que colocou os olhos nela pela primeira vez. Aquela foto nos arquivos da NSA... você se lembra, não é? — Dante vociferou, sua voz carregada de ódio e frustração. — Sei que o ódio que você fingia sentir por ela não era só por ordem da NSA. Era por mim também. Porque você sabia que eu nunca permitiria que se aproximasse dela. Você sabe que não é bom para ela.

Apertei o maxilar, sentindo o peso esmagador de cada palavra. Porque, por mais que doesse, era verdade.

— As peças sempre se encaixaram, Kastiel. Sempre fizeram sentido para mim. Mas sabe qual é a pior parte? — Ele deu um passo à frente, os olhos brilhando com lágrimas que ele lutava para conter. Lágrimas de decepção. — A pior parte foi eu me convencer, todas as vezes, de que eu estava errado. Porque, além de ser meu melhor amigo, você é meu irmão. Cada vez que desconfiei de você, forcei a mim mesmo a acreditar que estava enganado. Porque, na minha cabeça, você jamais faria isso comigo. E, ainda assim, você fez.

Os olhares no hall estavam fixos em nós, todos perplexos com o que estava acontecendo. Nadine, parada atrás de Dante, parecia inerte, enquanto os outros apenas assistiam chocados, mas não surpresos pelas minhas ações.

— Foi você, não foi? Tudo foi você. — Um sorriso amargo distorceu seus lábios, enquanto a dor brilhava nos olhos lacrimejantes. — O tiro em Ryan, foi por ela. O dia em que ela voltou toda arranhada de Nova Jersey... foi você que fez aquilo com ela. Você a fodeu, enquanto eu estava do outro lado da cama, e nem se deu ao trabalho de fingir arrependimento no dia seguinte. Jogou a culpa em Jacob, seu amigo também. O que mais você fez com ela, hein? Ameaçou? Chantageou? Machucou, não foi? — Seu maxilar travou enquanto a pergunta se formava. — Você fez tudo isso, não fez? Porque é assim que você é. E é por isso que eu nunca apoiei vocês dois. Porque eu sei que você é um maldito filho da puta.

Eu não conseguia formular uma única resposta para tudo o que ele dizia. Talvez, o antigo Kastiel teria retrucado, arriscado a amizade, jogado palavras afiadas de volta. Mas não desta vez. Não agora. Porque no fundo, ele estava certo. Eu a machuquei. Eu a fiz chorar. Eu a fiz temer a mim. E a culpa que pesava nos meus ombros me silenciava.

𝐃𝐄𝐀𝐑 𝐋𝐔𝐂𝐈𝐅𝐄𝐑Onde histórias criam vida. Descubra agora