Becky
Fazer exercícios de matemática com Freen tornou-se bastante divertido. A garota de cabelos negros me faz sorrir toda vez que consigo fazer um exercício, e enquanto faço isso, percebo algo.
Ela sabe como fazê-los, mas não vai me contar.
Como eu percebi isso? Sarocha costuma fazer uma ou duas caretas quando estou prestes a cometer um erro, e isso me faz simplesmente confirmar. Da mesma forma, não falo sobre o assunto, porque tenho certeza de que se ela souber fazer, e se eu contar, ela vai fazer em muito pouco tempo e vai embora...
E eu não quero que ela vá.
Parece egoísta e irônico, porque Heidi é minha amiga e namorada dela, e irônico porque algumas horas atrás ela estava com medo de me ver com ela.
Porém, há algo que não vou negar: tenho bastante medo de ter outro ataque de pânico.
É como se constantemente me surgisse na cabeça a ideia de que a qualquer momento eu poderia reviver aquela situação, o que, aliás, não é nada agradável.
Sarocha volta a sorrir para mim ao ver que terminei de fazer o último exercício de matemática. Ela fez os que foram difíceis para mim, com a desculpa de que talvez funcionassem para ela.
- Bem, acho que é hora de ir - diz ela enquanto se levanta do assento. Por alguma razão, balanço a cabeça e me levanto tão rapidamente quanto ela.
- Não - respondo, e sinto o calor subir às minhas bochechas. Freen ri e continua sorrindo para mim.
- Não? - pergunta. Tenho certeza de que estou completamente vermelha agora. Que vergonha.
- Não... Porque já é noite. Você deveria ficar para comer... não acha? – Ela sorri atendendo, e lá eu sorrio novamente.
- Me parece perfeito - ela admite.
Como estou com problemas na cozinha, resolvemos ligar para o delivery.
A pizza não demorou a chegar, e começamos a comer. Freen faz caretas enquanto comemos, só para me fazer rir.
- Você se lembra de como nos conhecemos? - pergunta. Eu aceno com a cabeça. Não parece que tenha passado muito tempo desde então. - Você começou a engasgar com os sanduíches.
Começo a rir, e Freen também. Não vou contar a ela o porquê disso, embora ache que ela já sabe. Devo admitir que acho que ela toca no assunto de uma forma engraçada para que eu lembre assim, com humor.
Eu gostaria de poder transformar todas as memórias em divertidas, mas há algumas que não são nada disso. E são simplesmente lembranças tristes.
- Becky... posso confessar uma coisa para você? – Freen pergunta, largando uma fatia de pizza para poder prestar toda atenção em mim.
- Sim, claro - digo, fazendo a mesma coisa. Ficamos nos olhando ali, em silêncio.
- Bem... no primeiro dia de aula eu não consegui... - ela diz, mas depois para de falar. Eu sei o que ela quer dizer, porém quero ouvir da boca dela.
A porta toca, e eu amaldiçoo para mim mesma. Mas Sarocha parece ouvi-la e começa a rir. Abro e encontro Irin, que está um tanto séria.
Sarocha entrega a ela as chaves do apartamento, por isso Irin bateu na porta; ela não tinha como entrar.
- Sarocha, não é por nada, mas Noey é um pouco… - Irin começa. Freen para de tentar rir do que foi dito acima, mas não consegue.
- Idiota? – Ela pergunta entre risadas. Irin balança a cabeça, mas depois assente.
- E sem noção - Ela admite, caminhando em direção ao seu quarto, mas seu olhar se dirige para a pizza que está na mesa entre as poltronas. - Ah, isso não acontece todos os dias, eu quero.
Irin se junta a nós, mas não sinto raiva; é engraçado. No entanto, eu queria ouvir Freen dizer que na aula ela não tirou os olhos de mim, porque eu percebi isso.
Começamos a assistir a um filme humorístico, e nosso riso pôde ser ouvido por todo o apartamento. Além do riso de Irin, é muito contagioso.
O filme termina, e ainda continuamos rindo enquanto nos olhamos.
- Bem, acho que é hora de ir - Freen disse, rindo. Eu aceno com a cabeça.
- Vou te acompanhar – ela balança a cabeça e se despede de Irin.
Saímos do apartamento e entramos no elevador. Freen fica me olhando com um sorriso, e isso me faz corar.
Chegamos ao estacionamento, e ouço Sarocha reclamando que estou muito descoberta e que vou pegar um resfriado.
- Aqui está meu bebê - diz ela, apontando para seu veículo.
- Belo carro - admito, balançando a cabeça enquanto sorrio para ela.
- No elevador, eu te disse que você ia pegar um resfriado se saísse do hotel - Freen sorri para mim, e eu não consigo parar de fazer isso, não consigo parar de sorrir.
- Bem… mas vale a pena - digo, rindo.
- Sim… bem, eu tenho que ir, é tarde demais - Ela admite. Eu aceno, mas então me lembro de algo.
- Ei, Freen. No apartamento… - digo, e ela presta total atenção no que vou dizer. - O que você queria me contar?
Sarocha se aproxima sem avisar, deixando minhas bochechas completamente vermelhas. Ela chega perto do meu ouvido e murmura algo que consigo entender perfeitamente..
Sorrio enquanto a vejo se afastar, entrar no carro, colocar o cinto de segurança e ir embora.
Começo a caminhar em direção ao hotel, e quando entro no elevador, ainda estou com um sorriso ao lembrar de suas palavras.
"Eu te olhei durante a aula toda."
Chegando no apartamento, abro a porta e entro, ouvindo Irin murmurar coisas enquanto assisto algo em seu celular. Com raiva, ela deixa o telefone em cima da mesa e olha para mim.
- Que? – Ela pergunta com raiva. Eu olho para ela e balanço a cabeça.
- Primeiro fale direito comigo, não use sua raiva contra mim – digo, olhando para ela séria, embora esteja calma. - Não quero discutir.
- Sinto muito - ela sussurra enquanto olha para o telefone.
Aproximo-me lentamente e consigo ver três chamadas perdidas de Noey.
- Bem... agora que estamos sozinhas - eu digo enquanto me sento ao lado dela, pego seu telefone e mostro as chamadas perdidas. - Você vai explicar por que disse que Noey é uma idiota e sem noção.
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𝘈𝘪𝘯𝘥𝘢 𝘭𝘦𝘮𝘣𝘳𝘰 𝘥𝘦 𝘷𝘰𝘤ê
FanfictionO que aconteceria se você testemunhasse a morte da sua melhor amiga? E se a lembrança disso te atormentasse em cada ação que você realizasse? Rebecca convive com a culpa de não ter ajudado sua amiga naquele momento e sente-se vazia, descartada. Com...