Becky
A verdade é como um balde de água fria para mim. Eu olho para Heidi, completamente pasma, nenhuma palavra saindo da minha boca. Ela escondeu de mim todo esse tempo que conhecia Sam, mesmo sabendo que eu passava dia após dia contando a ela o quanto me sentia mal e o quanto sentia falta da garota.
Não entendo como Sam a conheceu. E se Sarocha reagiu assim, então provavelmente todas as fotos que ela postou foram com minha falecida melhor amiga, e não com ela. Não entendo como não vi isso antes, embora as fotos fossem sempre confusas. O rosto de Sam estava sempre coberto ou era apenas a silhueta dela. Sendo assim, é muito fácil confundi-la com Freen, e ninguém suspeitaria de nada.
Sinto náuseas, mas tento me manter firme porque quero ouvir sua explicação.
- Não preciso te dar explicações sobre meu passado. Você e eu não somos mais nada, Sarocha - Heidi a lembra. Noto que ela está muito tensa.
Freen se aproxima dela, invadindo seu espaço pessoal. Em qualquer outro momento, eu sentiria ciúmes, mas agora tudo que quero é separá-la da outra garota. Pois, embora ela mereça uma surra, minha Phi é muito mais forte que ela.
E estamos em horário escolar. Não quero acabar na direção.
- Você me deve uma maldita explicação! - Ouço Sarocha gritar com raiva. Nunca a vi assim.
- Diga-me, Sarocha, o que você quer ouvir? Que eu estava com sua prima quando ela estava viva? Sim, eu estava - Heidi diz com raiva, encarando-a, embora caia no chão quando Freen a empurra.
- A única merda aqui é você - Sarocha exclama. Olho para todos os lados e percebo que viramos o centro das atenções.
- Não! Eu não sou uma merda, ela é - ela aponta para mim. - Você percebe que ela está apaixonada por você? Você não percebe como ela te olha? Você sabe por quê? Pelo simples fato de Rebecca se lembrar de Samanun, por isso ela te quer - Heidi fala. Não posso aguentar isso.
- Você está doente - Sarocha diz.
Eu me viro e começo a andar, deixando meu telefone ligado nas mãos de Freen. Sinto náuseas e tudo ao meu redor parece rodar. Todos olham para mim, é como se só eu fosse o centro das atenções. Algumas pessoas até começam a sussurrar coisas umas para as outras enquanto olham para mim.
Minhas bochechas estão vermelhas, e saio de lá o mais rápido que posso. Entro no banheiro, sentindo lágrimas escorrendo dos meus olhos. Estou com raiva, decepcionada, mas acima de tudo, me sinto traída.
A Heidi que conheci há um ano é muito diferente daquela do instituto. Eu não a reconheço. Como ela pôde mentir tanto para mim? Ela sabia perfeitamente como eu estava afetada pela morte de Sam naquele momento.
Se Heidi era namorada de Sam e sabia da minha existência, então quando ela falou comigo pela primeira vez, ela estava mentindo. Ela me conhecia antes. Mas por que Sam contaria à namorada sobre mim? Não entendo.
A porta do banheiro se abre, e Heidi entra, me olhando com ódio total.
- Você tirou Samanun de mim, e agora tira Sarocha de mim. Você está feliz? - Ela pergunta, algumas lágrimas começam a sair de seus olhos.
- Você mentiu para mim, você me conhecia - digo, encostado na pia, pois ainda sinto que o mundo está desabando ao meu redor.
- Sim, sim, eu menti - ela diz. - Mas porque eu sabia que você era importante para Sam, e que ela não parava de falar de você. Quando te vi naquela vez, soube te reconhecer pelas fotos que ela me mostrou de vocês duas juntas. Eu poderia dizer, Rebecca, que você ficou arrasada.
- Estou quebrada – repito mentalmente uma e outra vez. - Completamente quebrada.
- Você se apaixonou por Sarocha. - Ela me acusa, apontando para mim com o dedo.
- Isso não é verdade - eu sussurro baixinho, embora seja, e ela escute isto.
- Por favor, Armstrong. Pare de mentir. Você se apaixonou por ela porque ela te lembra Samanun e porque você sente que, estando com ela, você a terá de volta - eu balanço minha cabeça e ainda sinto tudo ao meu redor girando.
- Você não acha que quem sente isso é você? – Pergunto, ainda me sentindo mal. Aparentemente, meu comentário deixou Heidi mais irritada do que ela já estava.
- Fique quieta! - Ela grita antes de me dar um soco no rosto com o punho fechado.
Não demorou muito para eu cair no chão, sentindo uma forte dor na mandíbula e um zumbido bastante alto no ouvido.
Minha visão fica embaçada por um momento, e olho para Heidi, que sorri.
- Só sinto pena de você - ela diz, virando-se e saindo de lá.
Demoro um pouco para me levantar, mas quando o faço, vacilo.- Becky? - Irin pergunta enquanto entra no banheiro, e levanta as sobrancelhas enquanto se aproxima de mim e me ajuda a ficar de pé. - Vamos para a enfermaria.
Caminhamos em direção à enfermaria do instituto, e fico extremamente grata por todos já terem entrado em suas salas de aula.
Dr. Mhee olha para mim com uma sobrancelha levantada.
- O que aconteceu? - ela pergunta, olhando para mim. Irin bufa.
- Você é médica, você deveria descobrir.
Passo alguns minutos sendo interrogada por Mhee. Dói-me falar, e ela parece notar.
- Rebecca, você apanhou? – Pergunta Irin, que estava com toda a atenção no celular. Ela me olha atentamente.
- N-não - respondo, embora minha amiga pareça perceber minha mentira.
- Quem? - Pergunta completamente tensa.
- Ninguém.
- Quem? - ela pergunta novamente.
Permaneço em silêncio até que Irin sente seu telefone vibrar e lê a mensagem que chegou.
- Me desculpe, peguei o telefone da Becky. Eu saí antes da aula porque não suporto ver a Heidi. Não acredito como ela mentiu por tanto tempo. Me avise se acontecer alguma coisa - Freen diz. Eu olho para outro lado, e Irin suspira.
- O que aconteceu com Sarocha e Heidi?
- Pelo que entendi, Heidi conhecia a Sam e não contou a ela.
- Foi Heidi quem bateu em você? – Pergunta Mhee. Antes do meu silêncio, Irin se levanta da cadeira com raiva e caminha em direção à porta.
- Irin, não! - digo, pois sei que isso vai machucá-la muito.
Não quero que Heidi seja machucada. Não gostaria que isso acontecesse. Sim, ela errou muito, mas está quebrada.Heidi está muito mais quebrada do que eu.
- Rebecca, não vou ficar parada sem fazer nada sabendo que bateram na minha melhor amiga. - E sem mais delongas, ela vai embora.
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𝘈𝘪𝘯𝘥𝘢 𝘭𝘦𝘮𝘣𝘳𝘰 𝘥𝘦 𝘷𝘰𝘤ê
FanfictionO que aconteceria se você testemunhasse a morte da sua melhor amiga? E se a lembrança disso te atormentasse em cada ação que você realizasse? Rebecca convive com a culpa de não ter ajudado sua amiga naquele momento e sente-se vazia, descartada. Com...