capítulo 35

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Freen

Ajudei minha mãe o dia todo na jardinagem, nem tinha tempo de usar o telefone.

Sinto falta da minha namorada. É estranho, porque a menina literalmente não sai da minha cabeça. Tudo tem a ver com ela.

Rebecca se tornou minha vida. Sinto que me importo mais com o que acontece com ela do que comigo. Ela é a coisa mais legal que poderia ter acontecido comigo. Ela está sempre sorrindo para mim, e isso me faz sentir bem.

Antes de conhecê-la, eu não entendia por que sentia que faltava alguma coisa, por que me sentia vazia. Mas desde que ela apareceu, eu entendi.

Olho para minha mãe, que está sentada na outra poltrona enquanto toma um chá. Ela sorri para mim, e eu suspiro, admitindo que estou muito curiosa e quero saber o que ela tem a me dizer.

- Há alguns dias fui visitar a Sam, sabe? - Ela fala, e a tensão no ambiente aumenta.

- Eu ainda… - Digo, olhando para o chão.

- Eu sei, Sarocha. Por isso me perguntei muitas vezes se deveria te contar, mas antes de tudo, quero que você saiba meus motivos. - Ela explica, eu aceno com a cabeça. - Quando Sam morreu e você entrou em depressão, ficou impossível para mim falar com você presente sobre a morte dela.

Ouço atentamente o que ela tem a dizer. Ela deixa a xícara de chá sobre a mesa e junta as mãos, como se tentasse ganhar forças para poder dizer o que vai explicar.

- Eu estava com medo, sabia que você estava ruim, muito ruim. Eu não poderia simplesmente contar o que aconteceu, Freen. Como mãe, tudo que eu queria era te proteger, ainda quero, mas vejo que você se sente pronta para saber a verdade. - Ela admite e depois suspira lentamente.

Engulo saliva, olhando para ela. Estou prestes a descobrir, e começo a ficar muito nervosa. Poderia até admitir que estou com medo por algum motivo estranho, mas… não sei o que é.

- No dia da morte dela, eu estava na cozinha quando recebi a notícia. Você estava no quarto dormindo. Me ligaram do hospital e me disseram que tinha uma menina lá, bastante em choque, e outra, a dona do telefone, morta, - explicou. Sinto meu estômago embrulhar, mas fico em silêncio. - Me senti muito mal, mas tive que ir para o hospital. Peguei o primeiro táxi e fui para lá. Assim que entrei no hospital, vi a menina. A camisa branca dela estava manchada de sangue. Você tinha que vê-la, Freen. A menina ficou meio sem saber o que fazer, e eu a abracei. Então, sem mais, ela começou a chorar no meu braço e depois começou a ficar sem ar. Falei com os médicos, e eles me explicaram como foi tudo. A menina tinha saído de uma festa com a Sam, e apareceu uma pessoa e atirou nela. Aparentemente, ela queria roubá-la, mas não levou nada. Foi muito estranho, para falar a verdade. Se ela quisesse roubá-las, ela poderia ter levado, não sei, os telefones delas. Mas não, acabou que ela apenas atirou na sua prima. Talvez ela quisesse atirar na amiga, porque, segundo o que ela me contou, Samanun morreu defendendo-a.

Fico em silêncio, tentando assimilar tudo. E lentamente, as peças parecem se juntar em minha mente.

- E-eu entendo, - eu digo, sentindo as lágrimas escorrerem pelo meu rosto. - Sam morreu para salvar alguém.

- Sim, depois disso, nunca mais vi a amiga dela. Pensei que ela iria ao cemitério no dia do velório, mas, assim como você, ela não apareceu. - Ela explica, e eu aceno com a cabeça.

A noite caiu, e algumas lágrimas continuam a cair pelo meu rosto. Sinto-me mais tranquila para falar a verdade, pois finalmente sei o que aconteceu com minha prima, mas sinto que falta alguma coisa.

Meu celular vibrou em algum momento enquanto eu conversava com minha mãe e não percebi.

Vejo a mensagem da Bec e sorrio. Minha mãe passa por mim, mas eu a ignoro e clico na foto do perfil da menina sorrindo. Nela, estamos nós duas, daquela vez no refeitório, no nosso primeiro encontro.

- Sarocha… - Minha mãe diz atrás de mim. Eu sorrio enquanto lhe entrego o telefone.

- O nome dela é Rebecca, ela é minha namorada. - Espero um sorriso da minha mãe, mas ele nunca vem. - Ela é muito boa. Tenho certeza de que você vai gostar dela.

- Freen… - Ela começa, e seus olhos estão bem abertos. - Ela é a garota que viu Sam morrer.

E pensar que uma ação simples como essa poderia detonar a segunda bomba, que sem dúvida me atingiria bem de perto.

Meu sorriso desaparece quando a ouço dizer isso, e sinto uma pulsação dolorosa no peito. Dói muito.

- O-o quê? - Pergunto, enquanto sinto tudo girando. Por isso, não me levanto da cadeira.

- É ela, Freen. Ela é a menina que estava no Hospital, - explica minha mãe.

Balanço a cabeça repetidamente e pego o telefone, indo para o meu quarto o mais rápido possível.

Fecho a porta atrás de mim, já sentindo as lágrimas escorrerem pelo meu rosto. Encosto-me nela e quase instantaneamente sinto a batida de minha mãe na porta.

- Sarocha, filha, fale comigo.

- Deixe-me em paz, por favor, - eu sussurro, ainda chorando.

Agora eu entendo tudo. Entendo por que Becky sempre agia de forma estranha quando falava da morte de Sam, por que ela ficava triste.

- Idiota, - sussurro para mim mesma enquanto bato a cabeça em frustração. - Idiota.

As lágrimas continuam a cair, e vejo a mensagem da inglesa no meu celular.

- Eu sei, Rebecca. - Eu escrevo. Não sei se ela sabe do que estou falando, mas quero vê-la cara a cara para conversar.
Sinto raiva, frustração, mas acima de tudo, tristeza.

Triste porque Samanun morreu assim, e porque minha Becbec viveu esses quase três anos, certamente sentindo que a morte de Sam foi culpa dela.

𝘈𝘪𝘯𝘥𝘢 𝘭𝘦𝘮𝘣𝘳𝘰 𝘥𝘦 𝘷𝘰𝘤êOnde histórias criam vida. Descubra agora