Parte 17

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  Laura  

  Tudo passa, nada permanece, eu espero ansiosa por esse dia em que tudo vai passar, tinha tantas coisas acontecendo ao mesmo tempo que a minha mente estava dando pane. Eu nem sabia se seria tão ruim assim o Primeiro Comando me pegar, uma morte lenta ou rápida não faria diferença.

    Pedi desculpas ao Felipe pelo transtorno de ontem, não queria  ter atrapalhado eles mais foi inevitável, hoje finalmente eu iria começar a pintar a parede da "entrou morre", acho que isso ajudaria a desviar a dor, fazer aquilo que eu sonhei por minha vida inteira. 

     Revisei todos os materiais que Coringa comprou e realmente não faltava nada, hoje era dia de baile e seria a oportunidade perfeita para ficar sozinha e viajar na minha arte.

  Pelo visto as coisas andam bem agitadas no morro, Felipe anda estressado e preocupado, já era de se esperar que o 157 não deixaria barato. Não tenho muitas lembranças de quando era criança mas me lembro de como eu era tratada por ele, apenas Dolores gostava de mim, ela era esposa do Roberto e infelizmente foi morta em confronto. O que não entendo é essa obsessão dele por mim, afinal que valor tão grande é esse que tenho, ele simplesmente me deixou ser marcada e estuprada por um traficante, então consideração eu sei que não é.  

  Já se passava das 9:00 então resolvi fazer almoço, fiz uma lasanha e um arroz branco e o cheiro estava muito bom, ajeitei a mesa e fui lavar o que eu tinha sujado, assim que terminei ouvi a porta se abrindo e Coringa passando por ela acompanhado do MK.

- Tem almoço pra esse morto de fome aqui?

 Coringa falou apontando pro MK que bateu nele com a camisa que estava em seu ombro.

- Tem sim, fiz lasanha hoje.

  Eles lavaram as mãos e foram se servir, almoçamos enquanto eles conversavam sobre carregamentos e vendas e também falaram de uns problemas que tava rolando no morro.

- E ai Laura vai colar no baile hoje?

 MK perguntou.

- Eu acho que não vou naquela quadra tão cedo.

- Tu vai ficar aqui sozinha amor?

- Eu não quero sair Felipe, vou aproveitar esse tempo e começar a pintar sua sala.

- Tem certeza?

- Tenho sim, pode ficar tranquilo.

- Beleza então, MK bora descer lá que o bagulho ta doido naquela boca.

     Eles foram e eu fiquei terminando de limpar a cozinha, depois de tudo pronto subi pra sala de treinamento começar a pintura. Reparei bem naquela parede branca, o que combinaria  com aquele local e com Felipe?

    Logo me veio algo inusitado na mente, desenharia a favela e Felipe atrás dela se sobressaindo como maior, iria coloca-lo com o rosto tampado com a camisa vermelha por segurança, afinal não poderia sair pintando a cara dele pelas paredes.

  Comecei a fazer o esboço e estava gostando do resultado, a parte mais difícil era ficar subindo e descendo escadas, mas com certeza valeria a pena.

  Trabalhei em algumas partes até mais tarde, sai para tomar um banho e desci esquentar a janta, me servi e estava comendo enquanto olhava algumas técnicas de grafite na internet.  Coringa entrou na cozinha com sua fuzil atravessada nas costas e me deu um beijo.

- E ai tá suave?

- Tô sim. Quer janta?

- Tô de boa, comi com os muleque na padaria. Vou me arrumar que daqui a pouco tem baile.

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