Coringa
Mais um dia sem minha irmã, tinha momentos que dava vontade pegar todos os meus homens e invadir aquele morro, mas não era uma opção, isso custaria nossas vidas e no fim meu esforço seria em vão.
Era difícil chegar em casa e encontrar minha mulher chorando, ela estava grávida e o medo de perder a Laura a afetava muito.
- E ai cuzão, tá nesse plano espiritual ainda?
Me assustei com França passando a mão na frente do meu rosto, tava viajando acordado.
- Porra mano, tava zuadão aqui.
Levantei da cadeira e recebi um abraço apertado do meu mano, na moral mesmo, me deu vontade chorar, tá ligado? Mas eu tinha que ser forte nessa porra, não podia ramelar agora.
- Fiquei sabendo das fita, deixei o morro com um dos menó e vim passar o dia contigo.
- Valeu irmão, tá foda pra caralho.
Me sentei novamente e ele se jogou no sofá acendendo um cigarro, ouvi a porta abrir e MK passou por ela cantando uma música mó tilti.
- Fala seus viado, tão fazendo reunião sem mim?
Ele e França se abraçaram fazendo gracinha.
- Vim dar uma força pro Coringa.
- O bagulho tá doido, na moral a vontade é de encher aqueles filha da puta de bala, ia cortar aquele 157 igual bife na faca cega, tá ligado?
Acabei sorrindo do seu jeito de falar, todos estavam revoltados, mas estávamos de mãos atadas infelizmente, era a vida da Laura que estava em risco.
- Mas e ai Coringa, as paradas lá das mercadorias, tão fluindo certinho?
- Por enquanto nos conforme, cê tá tendo problema lá no morro? Liga nóis carai, tamo aqui pra fortalecer.
- Tô levando na maciota, os bota tão cobrando cada vez mais caro pelas informações, papo de fuder mesmo.
- São uns filha da puta do caralho mesmo, eles pregam tanto a lei, mas por trás tá sendo bancado por vagabundo.
- Essa é a fita, aqui é Brasil caralho, o país da corrupção. A polícia é só mais uma quadrinha disfarçada com farda.
Ficava brisado nessas fitas, os cara pagavam de bom moço na TV esculachava os morador mas não saia de cima cobrando propina.
- Aí já é quase meio-dia, bora cola no restaurante da tia Neuza, tô na maior saudade de lá, tá ligado àquela comidinha de fogão a lenha, só o filé.
França falou fechando os olhos e passando a mão na barriga, os cara era mó comédia, me ajudava muito a superar essas merda da minha vida.
- Bora lá, fio.
Partimos pro restaurante da tia e o prato do dia era feijoada, farofa e aquele arrozinho branco no capricho, nos sentamos e ficamos ali esperando nosso almoço enquanto tomava uma gelada para abrir o apetite.
- Se liga, tenho uma parada monstra pra contar pra vocês.
Falei olhando pros dois que já se achegaram mais perto esperando alguma fofoca, duas marias fifi.
- Fala ai carai.
- Eu vou ser pai, Carla tá grávida.
- AH FILHA DA PUTA, É ISSO AI!
MK falou gritando e me abraçando por cima da mesa chamando atenção de geral no restaurante.
- Se controla porra, parece que é tu que está prenha.
- Cala boca França, uma notícia boa no meio de tanta desgraça é motivo pra ficar felizão carai, vou ser tio.
Ficamos trocando altos papos e MK me zuou bastante falando que ia me filmar trocando fralda, mó papo torto, depois do almoço fomos chamados na boca da 15 pra resolver um problema de pagamento, os menor comprava e na hora de pagar queria ramelar.
- Qual foi, Bico, manda a fita.
Falei com o gerente da boca.
-É o seguinte patrão, esse playboy, frango do caralho comprou as paradas semana passada, não pagou e tá aqui pedindo mais bagulho.
- Eu vou pagar, tenho uma grana pra receber...
O cara tentou contestar mais o Bico já partiu pra ignorância interrompendo ele.
- Cala boca caralho, tu tá ligado que eu te passei a visão do que ia acontecer se tu não me pagasse.
- Ei, ei, ei pera aí. - França separou os dois. - Primeiro que tú, Bico, não devia nem ter vendido, já falei umas mil vezes nesse caralho, é parada pá lá e dinheiro pá cá, sem caô.
- Primeiramente me perdoa ai irmão França, pelo vacilo ai, eu sei que fui errado nas fita, mas o cara me tirou de santo por mó cota pô, vendi a parada pra não enfiar uma bala na cara dele.
- É o seguinte. - Me intrometi. - Regra é regra nessa porra, você Bico, por ter vendido a droga vai descer pra boca da 05 que é menos movimentada, e tu - apontei pro playba que me olhava com cara de otário. - é pocas ideia, quando comprou a primeira vez sabia como funcionava.
- Pô cara me alivia aí, eu vou pagar.
- Sem essa, ai Bico, checkmat nas ideia, pode meter marcha.
Virei as costas e sai ouvindo os disparos, filha da puta quer usar do meu bagulho sem pagar ai não dá.
[...]
Já passava das 22:00, pela minha teoria a apresentação da Laura para o morro já estava acontecendo, não consegui jantar e muito menos pregar o olho, Carla já estava dormindo a mó cota e eu só andava de um lado para o outro com a cabeça a mil.
Peguei minha garrafa de Whisky 12 anos e me servi, acendi um cigarro de maconha e me sentei no sofá sentindo a brisa, liguei a tv num canal qualquer e fiquei ali palmeando até minha porta ser aberta com tudo, me levantei num pulo e dei de cara com MK, França e mais uns soldados meus, estavam com uma cara péssima e MK parecia ter visto um Enxu de encruzilhada.
- Colfoi carai?
- Mano fudeu, a Laura meteu o louco.
O que será que Laurinha aprontou dessa vez???
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Paz Justiça e Liberdade
Fiksi UmumLaura uma menina órfão de mãe e abandonada pelo pai, foi criada por seu tio Roberto, um dos chefes do Primeiro Comando da Capital. Obrigada a cursar medicina contra sua vontade para trabalhar em uma penitenciaria dando apoio aos membros da facção...