Parte 27

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Laura 

   Faccine era um idiota as vezes, mais estava me dando apoio em todos os momentos em que precisei, ele me ajudou a subir as escadas e a me deitar e pra garantir que eu ficaria bem dormiu no quarto do Coringa. Não estava entendendo o que houve comigo, me deu uma tontura estranha e eu quase cai, se não fosse o Faccine eu teria me espatifado no chão, talvez poderia ser alguma virose ou sei lá, tomei um remédio e me enrolei na coberta deixando o sono me envolver.

[...]

     Levantei cedo no outro dia, tomei um banho demorado e desci fazer meu café, preparei algumas torradas e um omelete, minha cabeça estava um pouco dolorida e já aproveitei para tomar um analgésico.

    Me servi de café e fiquei ali parada pensando na vida, Faccine entrou na cozinha com os cabelos molhados e seu perfume invadiu o local.

- Bom dia, se sente melhor?

- Um pouco, só a cabeça um pouco pesada.

- Ta pensando em voltar no muro hoje?

- Acho que sim, falta só os últimos retoques. Você vai lá também?

- Te deixo lá, tenho uns b.o pra resolver no asfalto.

- Vai desaparecer de novo?

   Falei bebericando meu café.

- Depende, se você me confessar que quer me ver novamente eu volto.

   Olhei pra ele negando com a cabeça, que abusado.

- Tá tentando provar o que?

- Ei pode abaixar as armas, relaxa.

   Leonardo brincava demais, e o pior que eu nunca sabia quando ele estava falando sério, as vezes ele parecia outra pessoa, pensamento longe, cara fechada, é por isso que já ouvi comentarem que o apelido dele é demônio, daria minha unha do dedinho pra ele saber disso, mais se eu contar é capaz do coitado que falou isso ir de arrasta pra cima.

     O carro parou enfrente a minha obra e eu sorri ao ver o quão lindo tinha ficado, Faccine se despediu de mim e saiu voado, comecei a retocar alguns traços e finalizar as sombras, infelizmente o sobe e desce escada tinha que acontecer, estava super satisfeita com o resultado, recebi muitos elogios dos rapazes que também grafitavam por aqui, e isso era muito gratificante pra mim.

    Já na hora do almoço todos tinham ido embora restando apenas eu, faltava pouco e não quis deixar para mais tarde, estava no alto da escada quando avistei Bruna e a morena que estava ontem com Faccine. Bruna era a maluca que me bateu na primeira vez em que fui no baile.

- Olha lá Carine não é a piranha que cortou tua onda com o chefe?

    Ela falou alto o bastante de propósito para que eu ouvisse.

- Essa merma, de vadia virou pintora de parede.

   Continuei o que estava fazendo sem dar atenção a elas.

- Viu ai mona, já não basta ser empata foda ainda tem que se fazer de surda.

- Bruna seu nome né? Eu não tenho nada com Coringa muito menos com Faccine, vê se me erra.

    Ela caminhou lentamente até os pés da escada em que eu estava.

- Carine será que piranha sabe voar?

   Seu tom de deboche era nítido, e sua fala me causou um arrepio na coluna.

- Bruna para de graça.

- Tá com medo? Voa pra mim ver Laurinha.

   Ela destravou as rodinhas da escada e empurrou me fazendo cair em uma mesinha de vidro que estava os pincéis encima, bati minha barriga e senti cacos de vidro penetrarem minha carne, tudo estava girando e uma dor agoniante  tomou conta de mim, ouvi vários disparos e pude ver o corpo de Bruna caindo no chão todo ensanguentado.

- Sua vadia do caralho, tu tem sorte de ser irmã do GB, mais o que é teu tá guardado.

   Era Faccine, ele veio até mim e eu me contorcia de dor, havia cacos de vidro pela minha barriga.

- Laura, ta tudo bem? Olha pra mim.

- Ta doendo muito.

   Vi ele olhando para minhas pernas e arregalando os olhos.

- Você esta sangrando.

   Levei a mão com certa dificuldade no meio das minhas pernas e confirmei que tinha muito sangue ali.

- Eu vou te levar pro hospital, fica calma.

   Senti ele me pegando no  colo com cuidado, sua voz estava cada vez mais longe até que tudo se transformou em escuridão.

[...]

   Acordei em uma sala toda branca, conhecia bem aquele lugar, as luzes queimavam meus olhos e a agulha incomodava meu braço.

- Faccine?

   Chamei por ele que estava sentado na poltrona de cabeça baixa.

- Laura, como se sente?

- Um pouco tonta e muito dolorida.

- Eu vou chamar o médico.

   Ele saiu e logo voltou com um senhor de meia idade vestindo um jaleco, ele carregava em suas mãos uma prancheta com minha fixa.

- Dona Laura, como se sente?

  Perguntou enquanto verificava minha pupila com a lanterna. 

- Tonta e com muita dor.

- Bom isso é normal, a senhora lesionou uma das costelas e foram retirados vários cacos de vidro na área do seu abdômen e região pélvica.

- Então esse foi o motivo do sangramento?

- Na verdade não, infelizmente não conseguimos salvar seu bebê, a pancada foi muito forte levando a senhora a ter um aborto quase que de imediato.

   Meu mundo parou ali, o doutor falou mais algumas coisas só que eu não ouvi nada, tudo girava e suas palavras não saiam da minha cabeça, eu estava gravida fruto de um estupro, tinha uma vida dentro de mim que foi ceifada de uma forma covarde. Lagrimas quentes escorriam por meu rosto e um desespero tomava conta de mim.

- Laura, ei olha pra mim.

- Eu estava gravida Faccine, é por isso que eu estava sentindo aquelas tonturas.

- Você precisa ficar calma agora, vai ficar tudo bem.

   Ele me abraçou e eu me permiti chorar em seus braços, minha garganta estava se fechando fazendo faltar ar em meus pulmões, não sei o que era pior, saber que aqueles monstros tinham deixado uma semente de um estupro em mim ou saber que ele foi tirado daquela forma.

    A porta do quarto se abriu revelando Coringa e Carla, eles não estavam com uma cara nada boa sinal de que já sabiam de tudo. 

- Tu é louco Coringa, tá fazendo o que aqui?

- Eu não podia deixar ela sozinha Faccine.

   Coringa se aproximou de mim com o semblante preocupado.

- É verdade o que o médico falou? Por que tu não me contou?

- Eu só soube agora, não fazia ideia que eu estava gravida.

   Comecei a chorar e Carla veio me abraçar chorando também.

- Eu sinto muito amiga, por tudo.

   Vi Faccine chamando Felipe e saindo da sala, chorei tanto no colo da Carla que acabei apagando, e de verdade eu nem sabia se queria acordar.

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